O vice-representante chinês na ONU expôs na 50ª Conferência da Comissão para Desenvolvimento Social da ONU três sugestões para a redução da pobreza: criar um ambiente internacional favorável à eliminação de pobreza; integrar a redução da pobreza ao plano nacional de desenvolvimento económico e social e reforçar cooperação internacional nessa área.
No discurso, disse que os países devem manter a paz e estabilidade do mundo e promover um desenvolvimento económico equilibrado, de benefício geral e win-win. Devem em especial respeitar o caminho e modelo de desenvolvimento definido de acordo com a realidade dos próprios países e garantir oportunidade igual para todos os povos. No contexto de crise financeira, os governos devem ampliar os empregos, melhorar a previdência social e proteger pessoas vulneráveis para manter os frutos já alcançados na redução da pobreza.
Sendo a nação mais populosa do mundo, a China esforça-se para contribuir para o empreendimento global na eliminação da pobreza, tornando-se o primeiro país em desenvolvimento que realizou a meta do Milénio nessa área. Entretanto, existem ainda 128.000.000 de pessoas que vivem em nível inferior à linha da pobreza e por isso, há muito trabalho por fazer nesta direção.
É no mínimo estranho, que seja a China a estar preocupada com a redução da pobreza, com receitas bem definidas e que teoricamente estão bem desenhadas, sobretudo quando diz que no contexto de crises financeiras, os governos devem ampliar os empregos, melhorar a previdência social e proteger pessoas vulneráveis, extamente o contrário do que dizem os nossos “desenhadores” dos planos de “crescimento”…
Para quem está de fora do discurso e sente na pele a tal crise financeira, tem que concluir que também a China, ou sobretudo ela, ou através dela, é que a crise se instalou na Europa e EUA, pela concorrência do custo de mão de obra, ausência de direitos dos trabalhadores, desrespeito pelos Direitos Humanos, o que tudo junto deu origem à deslocalização de muitas das maiores empresas ocidentais, o que resultou no aumentou do desemprego em massa por estas bandas e ao empobrecimento das famílias e dos próprios Estados.
Para quem sabe que na Europa, em 2009, havia 115.000.000 de pessoas no limiar da pobreza e constata que na China, muitíssimo mais populosa há “apenas” 128.000.000, deve ter em conta os diferentes métodos utilizados para tal classificação…
O governo chinês tenciona aumentar anualmente o salário mínimo "pelo menos 13% até 2015", acima da média de 12,5% registada nos últimos 5 anos, disse a imprensa oficial.
Instituído na década de 1990, o valor do salário mínimo chinês varia de região para região: Shenzhen, uma zona económica especial adjacente a Hong Kong, tem o mais alto - 1.500 yuan (180 euros) - enquanto em Chongqing, o mais populoso município do país, com cerca de 30.000.000 de habitantes, é de apenas 870 yuan (104 euros).
O plano divulgado pelo governo chinês preconiza também que em 2015 o salário mínimo seja equivalente a 40% dos respetivos salários médios, proporção que em algumas regiões se situa hoje entre 20% e 30%.
E apesar dos “grandes” avanços da China durante os últimos 5 anos no que respeita aos salários e ao salário mínimo, retenham-se os números fornecidos, sempre esquecidos pelos analistas na justificação do milagre económico chinês: 180 euros/mês na região de Shenzhen e 104 euros/mês em Chongqing.
Se tivermos em conta que o salário mínimo na Espanha é de 748 euros/mês. Que na Grécia é de 600 euros/mês (dados do atual PM, embora se diga que é muito superior…) e que em Portugal é de 485 euros/mês, é fácil entender a “concorrência” desleal entre estas economias e a melhor justificação para a redução do preço do trabalho imposta pelos governos dos países do sul…
Esperemos que em 2015 os salários não estejam igualados, por baixo (pelos dos chineses), até porque os preços dos produtos na China são muito mais baixos do que pelo ocidente… Mas o que se pensava impensável, tem tudo para acontecer…
O investimento chinês na União Europeia quase duplicou em 2011, somando 3,22 mil milhões de euros, segundo estatísticas oficiais.
“As companhias chinesas encaram como uma boa oportunidade a compra de património na Europa devido aos problemas da dívida (soberana europeia), que causaram um abrandamento da economia e um alto desemprego”, disse o chefe do departamento de Assuntos Europeus do Ministério chinês do Comércio.
Pelas contas do Ministério, o investimento chinês nos países da União Europeia aumentou 94,1% em 2011, enquanto no conjunto do investimento da China fora do país o aumento foi de apenas 1,8%.
E à custa dos salários baixos e do domínio estatal da economia da China, o negócio (deles) vai de vento em popa, criando excedentes, que permite ir “comprando” a Europa a preços de feira, o que nos coarta qualquer hipótese de emergir da crise, entalados ainda por cima com os planos “salvadores” da troika.
Resumindo, estamos entalados entre duas paredes, ou melhor, entre uma Muralha e um Muro…
Sem comentários:
Enviar um comentário