(per)Seguidores

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Com que então, trocaram as contas à troika! Hummm!

Três notas sobre o lirismo trágico de Passos Coelho (desvio colossal, que frase tão inspiradora, ui!) na reunião da Comissão Política do PSD:
1.º - É uma frase verdadeira, mas despropositada. Revela que Passos Coelho ainda não abandonou o tom eleitoralista, num momento em que é necessário trabalhar arduamente - a todo o gás! - para cumprir os compromissos que derivam do acordo firmado com a troika. Já todos sabemos que os governos de José Sócrates deixaram uma pesada herança para as contas públicas do país que todos teremos de pagar. Os portugueses de hoje e de amanhã. São todos temos noção de que os adjetivos que caraterizam o anterior governo socialista são displicente, irresponsável, mesquinho. Tudo isso é verdade e incontroverso. Contudo, os portugueses já julgaram os responsáveis, castigando-os duramente nas urnas. O tal "desvio colossal" foi reprovado pelos portugueses, que elegeram Passos Coelho porque julgaram que era a pessoa mais adequada para endireitar o "desvio". José Sócrates pertence ao passado; Passos Coelho (e a coligação PSD/CDS em geral) têm como função escrever o futuro. Um futuro melhor para Portugal e para os portugueses. Neste momento, não é José Sócrates que está em causa - é Portugal. Ora, objetivamente, ver um Primeiro-ministro de um país - que é o nosso e de que nós tanto gostamos - afirmar que as finanças públicas nacionais apresentam um desvio colossal é de um mau gosto confrangedor! E não afeta José Sócrates que está lá longe em Paris a estudar Filosofia: afeta Portugal, ou seja, todos nós! Ressuscitar quezílias políticas, no presente contexto, é dar mais uma machadada fatal (?) na credibilidade do país. Será assim tão difícil perceber este facto - tão! - elementar?
2.º - Passos Coelho tornou-se um aliado de peso da Moody's. Então, o Primeiro-ministro indignou-se como todos os portugueses (e muito bem, com toda a razão) quando a Moody's desceu o rating da dívida pública nacional para o nível de "lixo" - para agora, vir confirmar precisamente um dos fundamentos invocadas pela agência de notificação financeira norte-americana para tomar tal decisão! A bota não joga com a perdigota: é o mesmo Passos Coelho que pediu uma reacção forte das instâncias europeias contra a Moody's e confessou que as medidas do Conselho Europeu são insuficientes! Mas então, deixem-me ver se percebi... Passos Coelho versão Primeiro-Ministro revolta-se contra a crescente perda de credibilidade financeira do Estado português; Passos Coelho versão líder do PSD afirma, sem qualquer problema, que há um desvio colossal nas finanças públicas... Pois é, só que os Primeiros-Ministros não devem ter o síndroma do Dr. Jekyl e Mr.Hide: devem defender - SEMPRE! - o interesse de Portugal. Quer seja numa reunião em Bruxelas, em São Bento ou num evento partidário. Tempos excepcionais requerem atitudes excepcionais: o Primeiro-Ministro sabia perfeitamente que as suas declarações, mesmo proferidas preferencialmente para militantes partidários, têm eco mediático. Consequências – e estas, por sinal, são bem negativas para a imagem de Portugal. 
3.º - A desculpa de mau pagador chegou a ser pior do que o pecado original. Qual foi ela? Segundo o gabinete do Primeiro-Ministro, Passos Coelho falou em "desvio colossal" porque se encontrava numa sessão estritamente partidária. Ninguém compra esta desculpa - e só fica mal a quem a invoca. Porque dá a sensação de que quando Passos Coelho fala na condição de Primeiro-Ministro mente (ou distorce a realidade, para não ferir susceptibilidades) - e só fala verdade quando se dirige aos militantes e dirigentes do PSD! Quer dizer: afinal, o que Passos Coelho realmente pensa é o que diz ao seu partido - e não ao país! Ora, isto não ajuda a criar confiança nos portugueses para enfrentar os tempos complexos e agitados que vivemos e viveremos! Das duas, uma: ou Passos Coelho é muito ingénuo politicamente e - coitado! - temos de compreender o erro; ou então a sua equipa de assessores é, no mínimo, incompetente. Verdade seja dita, que ter um governo ingénuo neste momento histórico não é reconfortante. Foi, de facto, um desvio colossal de prudência de Passos Coelho e sua equipa...
Por último, refira-se que, caso a oposição imponha a presença do Primeiro-Ministro no Parlamento para esclarecer o "desvio colossal", creio que Passos Coelho deve comparecer e não fugir ao assunto. Deve clarificar o que disse - só assim poderá atenuar os danos negativos para a credibilidade financeira do país, numa altura em que os holofotes internacionais estão aqui concentrados. Desmentir as declarações ou culpar os jornalistas é o pior que se pode fazer. Ao menos, que fique a lição para que esta situação não se repita no futuro.
João Lemos Esteves

2 comentários:

  1. O home tropeçou no desvio e não conseguiu conter-se. Se fosse aqui da minha zona, em vez de colossal diria "um desvio do carago" e a ratingada ficava sem perceber.

    ResponderEliminar
  2. maria
    O Sócrates era mesmo espertalhão!
    Toda a gente (da fina) elogiou os troikianos, por em 15 dias terem verificado as contas e feito um programa de governo. O PPC até lhes exigiu que lhe dessem as contas (não sei se deram, mas penso que não). E afinal foram ludibriados com anjinhos? A história não está bem contada.
    Vem nortada por aí...

    ResponderEliminar