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quarta-feira, 16 de julho de 2014

Quem se meter com os bancos (não) leva (nada) do governo!

Harald Schumann, jornalista alemão que está a realizar um documentário sobre a troika, explica por que acusou o Governo português de "censura".
Há uma semana, na conferência de imprensa de rotina do Conselho de Ministros, Luís Marques Guedes, o ministro da Presidência, foi interpelado, em inglês, por um jornalista que se queixava do silêncio do Governo português perante as suas perguntas. A imagem passou nas televisões. Harald Schumann, editor do diário berlinense Tagesspiegel, e autor do livro ‘A Armadilha da Globalização’ esteve em Portugal a filmar um documentário para o canal Arte, sobre o efeito da troika nos países intervencionados.
É o seu 2.º documentário depois da crise financeira. O primeiro chamou-se “Quando a Europa salva os bancos quem paga?”. Vista por 6.000.000 de europeus, esta investigação de Schumann pode ter causado má impressão nos governantes portugueses. Foi, pelo menos, isso que lhe disseram, para justificar o silêncio de Carlos Moedas, Maria Luís Albuquerque e Pedro Mota Soares…
O que se passou na conferência de imprensa?
Nós estávamos há várias semanas a pedir entrevistas à ministra das Finanças e ao ministro do Emprego, e também ao coordenador do programa de ajustamento, o secretário de Estado Carlos Moedas. Mas os nossos pedidos ou eram adiados ou nem sequer recebiam resposta. Quando a equipa de filmagens chegou e iniciámos a rodagem, na semana passada, foi-nos transmitido, por porta-vozes, que os ministros e o secretário de Estado não queriam ser entrevistados para o documentário. Por isso perguntei ao ministro Marques Guedes a que se devia esta recusa peremptória de colaborar com um filme que será difundido em, pelo menos, 6 países europeus. O senhor Guedes apenas disse que não lhe cabia comentar as recusas dos colegas e que devíamos continuar a tentar.
E que razões vos deram para manter a recusa?
Oficialmente, disseram-nos que os governantes não queriam participar num documentário que só será exibido em Janeiro próximo e que, até lá, muitas coisas poderiam acontecer, tornando os seus depoimentos desactualizados. Como o que queríamos deles era uma avaliação do que aconteceu ao longo do programa de ajustamento, creio que estas razões não são credíveis. Nos bastidores, mais tarde, fomos informados de que a minha “má reputação” teria sido a razão fundamental para que recusassem qualquer entrevista.
Como é que interpreta isso?
Bom, só pode querer dizer que o facto de eu ser conhecido como um jornalista crítico, independente, me causou má reputação neste Governo. Infelizmente, isso confirma o problema básico de toda a operação da troika de credores na crise da zona Euro: o chamado ajustamento está organizado de uma forma opaca, por vezes arbitrária ou até ilegal. Os seus responsáveis sabem-no, e pretendem evitar perguntas críticas.
O seu documentário é sobre o efeito da troika. Onde tem filmado, além de Portugal?
Até agora estivemos na Grécia e em Portugal. Na próxima semana filmaremos na sede do FMI, em Washington. Mais tarde iremos à Irlanda e ao Chipre e, é claro, a Bruxelas e a Frankfurt, para entrevistar os responsáveis da Comissão Europeia e do BCE. 
Até agora, o que vos foi possível observar?
A ideia de resolver o problema da dívida através da austeridade falhou completamente. A dívida é agora ainda mais insustentável do que era, há 3 anos. Os programas são, também, extremamente enviesados. Todo o fardo é assumido pelos trabalhadores e pelos contribuintes normais, enquanto as elites privilegiadas, que conseguem evadir a sua riqueza através dos offshores, e que são as maiores responsáveis pela crise, até conseguem lucrar com os programas de ajustamento. Por exemplo, quando conseguem comprar activos valiosos ao Estado a preços de saldo.
Essa é, até agora, a vossa principal conclusão?
O “resgate” errado, que apenas salvou os investidores estrangeiros, principalmente alemães, de perderem nos maus investimentos que fizeram, mina a confiança nas instituições democráticas dos países afectados. Os Governos e os Parlamentos desses países parecem ser apenas marionetas nas mãos de desconhecidos, e não eleitos, burocratas estrangeiros. E, ou, de investidores.
O que mais o surpreendeu na situação portuguesa?
O facto de terem tido - em proporção - a maior manifestação de todos os países em crise, mas que não teve qualquer impacto… Se, na Alemanha, 10% da população saísse à rua para protestar, o que significaria uma manifestação de 8.000.000 de pessoas, nenhum Governo sobreviveria a isso intacto.
Os cidadãos alemães estão conscientes do que se passa nos países da periferia?
Infelizmente, não. De modo nenhum. A maioria dos alemães acredita realmente que o seu Governo está a “ajudar” os gregos e os portugueses com “dinheiro dos contribuintes”.
A notícia/denúncia é do passado dia 04 de julho, o que pode querer dizer que a embrulhada do BES já circulava pelos corredores do poder, razão para o governo se recusar aos pedidos de entrevistas, por o objetivo das mesmas incidir sobre os bancos e relacioná-los com os planos de resgate, não dos países intervencionados, mas das próprias instituições bancárias…
E essa coincidência não dava jeito nenhum, nem ao BES, nem aos mercados, nem ao BdP, nem ao governo, muito menos aos contribuintes, com mais uma ameaça de assalto aos depósitos e salários dos cidadãos, que vivem há 3 anos abaixo das suas possibilidades e direitos, enquanto os burlões continuam a viver acima das nossas possibilidades…
Por isso, fica no ar a insinuação de censura atribuída aos governantes, que não quiseram, com transparência, iniciar mais um conto de ladrões, que começa sempre com “Era uma vez”, porque teria que começar com “Já é a terceira vez…”.

Também podemos pensar que os protagonistas do “filme” não gostaram do guião e muito menos de constarem no elenco, por incompetência e dificuldades de memorização…
Curtas-metragens sobre vilões, com reposição adiada…
A realidade bolsada nos noticiários faz-nos antever um filme de longa-metragem, com os “índios” a perderem mais uma vez…
Quem se mete com os bancos, já sabe que leva!

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