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terça-feira, 1 de abril de 2014

Há consenso entre FP e Reformados: saquem à Banca!

Este ano o Estado vai poupar 2.153 milhões de euros só em salários e pensões. Este valor resulta da soma dos 1.297 milhões de euros arrecadados com os cortes nos salários da Função Pública com os 856 milhões provenientes do agravamento da Contribuição Extraordinária de Solidariedade.
Ainda assim, para que o Executivo garanta a descida do défice, em 2015, de 4 para 2,5%, terá de conseguir uma nova poupança na ordem dos 1.700 milhões de euros.
Durante a reunião extraordinária do Conselho de Ministros, o Governo terá o Documento de Estratégia Orçamental (DEO) em cima da mesa, já que tem de aprovar até ao final de abril, aquela que será a estratégia orçamental até 2018, que vai definir os valores do défice, da dívida e da despesa para os próximos anos.
Estará também na ordem do dia a questão da substituição das medidas provisórias que permitiram a referida poupança de 2.153 milhões.
No título da notícia, fica-se com a ideia de que os cortes em rendimentos, demonstram que a coragem de enfrentar os fortes chegou tarde, mas antes do nunca, mas ao lermos a notícia fica esclarecido que os cortes continuam a ser rombos nos salários dos Funcionários Públicos e roubos aos reformados…
Mais grave, é a continuada tentativa de continuar a roubar, definitivamente, nos depósitos feitos pelos reformados e entregues ao Estado. Já não falando na planificação do mesmo crime até 2018, em que o mais provável será este executivo ir para o banco de suplentes, até ao próximo campeonato…
Inexplicável é a atitude bacoca de “contar com o ovo no cu da galinha”, já que o Tribunal Constitucional ainda não se pronunciou sobre estas 2 medidas, principalmente sobre a CES, que, obviamente terá que ser considerada inconstitucional… E se for para 2014, sê-lo-á para 2015 e…
É o que se chama “andar o carro à frente dos burros”!
Tendo em conta o relatório do FMI ontem aqui publicado: Não há money para salários e pensões? O FMI explica!, ninguém poderá dizer que não é fácil sacar o montante necessário ao equilíbrio do défice, bastando deixar de encher os cofres da banca e fazer exatamente o contrário: ir aos cofres dos bancos sacar umas migalhas, que repartidas pelos que beneficiaram durante estes 5 anos (pelo menos), serão indolores para os acionistas, esses sim, que tem os tais rendimentos de que se fala…
Haja (mesmo) coragem e não é preciso muita!
O Governo senta-se hoje à mesa para tentar resolver um quebra-cabeças. Cercados pelas pressões internas e pelas exigências dos acordos internacionais, os ministros vão queimar as pestanas numa equação impossível: apresentar a Bruxelas um DEO (Documento de Execução Orçamental) no qual um défice de 2,5% do PIB - contra os 4% previstos para este ano - se atinja pela via dos menores índices de aprofundamento de austeridade.
Fernando Santos
O exercício é quase do domínio da prestidigitação!, mesmo dando-se de barato, para o controlo de danos em vésperas de eleições europeias, uma espécie de jogo de cabra-cega entre polícias maus (Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque) e polícias bons (capitaneados por Paulo Portas).
Pelo emaranhado de dificuldades se percebem, até, alguns balões de ensaio já lançados. E um deles, um apenas, é a desastrada ideia de transformação da Contribuição Extraordinária de Solidariedade em cortes permanentes nos salários de funcionários públicos e nas pensões de reforma. Perante o coro de protestos entretanto gerado, outra via aponta para maior taxação do chamado "peixe graúdo" - rendas na energia, mais contributos de empresas de telecomunicações e de distribuição, menos garantias e juros para as PPP e afins.
Quando se joga com a hipótese de milhões de portugueses deixarem de poder planificar as suas vidas (os pensionistas na primeira linha de fogo), a tentação de calibrar o orçamento pelo encurtar do lucro das grandes companhias aparenta uma lógica irrecusável: para quem decide, provoca menores danos nas urnas eleitorais. E as legislativas - mais do que as europeias... - já não estão muito longe.
Um raciocínio assim, linear, não devia simplificar a formatação do DEO a levar ao beija-mão europeu? A resposta seria afirmativa, não fosse o caso de ter de ser levado em conta um elemento crucial: o poder político fica mais perto da queda sempre e quando avilta interesses económicos e financeiros instalados. O voto do comum dos mortais só aparece depois.
O DEO é, pois, um verdadeiro imbróglio, dando-se a particularidade de dever ser fechado sob o manto de incógnitas do sentido das decisões do Tribunal Constitucional a propósito de 5 áreas para as quais foi pedida a sua fiscalização do Orçamento do Estado deste ano e que têm "atrelado" a um chumbo implicações da ordem dos 1.000 mil milhões de euros. Uma razão bastante para o Governo até poder enveredar pela fixação de metas sem explicações sobre a forma como a elas chegará. E esse bem pode ser o truque para tentar evitar danos maiores à coligação PSD-CDS nas eleições europeias. É mesmo o cenário mais provável.
A ilusão gerará o habitual coro de protestos de toda a Oposição - sempre contra tudo o que mexa -, mas não evitará o óbvio: o DEO a plasmar previsões para 2015 está obrigado a apresentar reduções de défice. E por mais demagogia que se agite, elas ocorrerão. Todos os partidos do chamado arco da governação - PSD, CDS e PS - assinaram o Tratado Orçamental a correr e vão ter de o cumprir, mais cedo do que tarde.
Desconfiando-se da existência de coragem política para afrontamentos maiores, o atual "complicómetro" esfumar-se-á provavelmente só depois das eleições europeias. A simplificação passará por pôr os do costume a pagar.

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