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domingo, 16 de fevereiro de 2014

Ordem (des)Unida: “Oup! Eis! Querda! Direita!”

Sou de esquerda porque creio que toda a gente é, no essencial, exactamente igual a mim. Ou seja, tenho a Humanidade em muito má conta.
Ricardo Araújo Pereira
O politólogo italiano Norberto Bobbio escreveu um livro acerca dos conceitos de esquerda e direita, intitulado Esquerda e Direita. Bobbio não tinha muita imaginação para títulos, mas distinguiu os dois quadrantes ideológicos de uma maneira bastante simples e clara. O fundamental, em traços gerais, é isto: a esquerda acredita que as pessoas são mais iguais do que desiguais, e por isso defende que a sociedade deve tender para reproduzir essa igualdade; a direita acredita que as pessoas são mais desiguais do que iguais, e por isso considera natural, e até justo, que a sociedade reproduza essa desigualdade - pelo menos, até certo ponto. Eu sou de esquerda porque creio que toda a gente é, no essencial, exactamente igual a mim. Ou seja, tenho a Humanidade em muito má conta.
A esquerda portuguesa fez um esforço para se entender e não conseguiu. É natural: a nossa esquerda é muito plural e diversa.
No Parlamento, o PCP e o Bloco devem votar no mesmo sentido em 99% dos casos. Mas aquele 1% que falta é vertiginosamente plural e diverso. Em princípio, a direita deveria ter mais dificuldade em entender-se: há muitas maneiras de as pessoas serem desiguais entre si, mas não pode haver assim tantos modos de serem iguais. Mas, aparentemente, há.
Ao longo dos últimos dias, o Bloco, o Livre, a Renovação Comunista e o movimento 3D tentaram chegar a um acordo. Os representantes de cada uma daquelas organizações, provavelmente, conheciam-se bem. Já pertenceram aos mesmos partidos, já votaram uns nos outros e estão de acordo em 99% das questões. Infelizmente, uma das questões em que mais se aproximam, ao que parece, é que é melhor deixar a direita governar do que unir forças para a derrubar. E ainda dizem que a esquerda só deseja o bota-abaixo. Nada mais falso. É certo que esta esquerda critica todos os dias as políticas do Governo mas, que diabo, basta ligar a televisão para ver antigos presidentes dos partidos da coligação a criticar todos os dias as políticas do Governo.
Temos de ser honestos e reconhecer que o único partido que tentou movimentar-se a sério para fazer cair este Governo foi o CDS. A esquerda, se tem repugnância em unir-se, devia aprender com o partido de Portas: é possível estar coligado com pessoas das quais desconfiamos e continuar a conspirar contra elas.
É possível que ainda haja esperança.

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