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domingo, 16 de fevereiro de 2014

Deixemo-nos de tretas e calem-se os treteiros!

Doentes com pulseira laranja amontoados nas urgências
A urgência do Hospital de Gaia tem estado a abarrotar. Na zona laranja (doentes muito urgentes), onde deviam estar 15 camas estiveram quase 40, obrigando médicos e enfermeiros a verdadeiros milagres. As fotografias, tiradas nos últimos dias por um doente, ilustram um cenário de confusão e pouco digno para o acolhimento de doentes muito urgentes.
A maioria é de idosos com múltiplas patologias, incluindo problemas respiratórios. A um canto, foram colocadas meia dúzia de cadeiras para assistir mais doentes. Outros, sem lugar para se sentar, são obrigados a aguardar de pé.
Um doente neurológico está em risco de perder a capacidade de mover um dos braços, devido à falta de um medicamento no Hospital de Portimão. O homem já apresentou queixa, mas continua à espera.
O administrador do Centro Hospitalar de Lisboa Norte (CHLN) reclama 12 milhões de euros do Fundo de Apoio ao Sistema de Pagamento (FASP) do SNS, apesar de a instituição não constar da lista de unidades beneficiadas.
Para o administrador, Carlos Martins, a instituição conseguiu, em 2013, “não diminuir produção, não ter descontinuidade de dispensa de fármacos, não ter rotura de stocks e não ter qualquer indicador de perda de qualidade, muito pelo contrário”. “As medidas começaram a dar resultados e começam a ser claras no arranque do novo ano, mas a situação continua preocupante”, disse.
O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, considera que há falta de camas hospitalares e que deveriam ser contratados mais profissionais de saúde para que os doentes não tenham que esperar tanto tempo para serem atendidos nas urgências hospitalares.
Segundo dados do Instituto da Segurança Social (ISS) foram realizadas, durante os 12 meses de 2013, 666 ações de fiscalização a lares de idosos, das quais resultou o encerramento de 89 estabelecimentos, quando em 2012 foram 83. Para além dos fechos coercivos, houve também 8 encerramentos voluntários em 2012 e 6 em 2013.
No seio das creches, o ISS fez 362 ações de fiscalização que resultaram no encerramento de 5 estabelecimentos. Para além destas 5 creches fechadas pela Segurança Social, houve ainda 29 encerramentos voluntários.
Paralelamente aos estabelecimentos encerrados, o ISS recebeu 66 pedidos para novas licenças de funcionamento de creches e 102 para estruturas residenciais de idosos.
Tudo somado, o ISS revela que a capacidade instalada aumentou tanto ao nível das creches como dos lares de idosos.
Em relação aos lares, passaram de 63.409 utentes em 2012 para 66.117 em 2013, mais de 2.700 lugares.
Já nas creches, passaram de 104.764 lugares em 2012 para 113.917 em 2013, mais de 9.000 lugares.
Sim, este caso de Gaia é um caso que nada prova, mas se somarmos todos os dados vindos a público sobre a sobrelotação dos hospitais públicos e das urgências, adivinha-se uma epidemia, uma ineficiência das administrações ou uma contração de despesas: no equipamento, no pessoal, ou nos medicamentos, que conduz a estas situações…
São muitos os casos denunciados, que tem obrigado o ministro da Saúde (com algum crédito) a reagir, a posteriori e pontualmente, sem que os relatos de novas situações tenham terminado.
Apesar de os administradores nunca assumirem a ineficiência, antes enaltecendo-a, empurram a ineficácia para os cortes que o ministério, a quem cabe a responsabilidade do estado da Saúde.
Já o Bastonário da Ordem dos Médicos, de há muito vem denunciando que os cortes são a primeira razão para estes atropelos aos direitos dos doentes, que por acaso são doentes e portugueses…
Para piorar a situação, para além dos doentes, reduz-se a oferta de apoios aos idosos e crianças, todos portugueses, com o encerramento de lares e creches, embora se mostre que a oferta tem aumentado, sem que se saiba nada se por conta do Estado (que tem a obrigação) ou por conta de Privados (que procuram o lucro) e muito menos sobre os custos destes serviços, sejam públicos ou privados, para entendermos se estamos melhor ou pior servidos em vários vetores, que podem mostrar uma filosofia política de base…
E a propósito do tema, ouvir um eclesiástico, uma vez mais, a pronunciar-se sobre o assunto, dá uma certa credibilidade às críticas e uma consistência à verdade das denúncias…
O monsenhor Vítor Feytor Pinto está a assistir com preocupação aos cortes financeiros no SNS e pede “a maior cautela” na definição destas políticas, porque "em primeiro lugar devem estar os doentes".
O sacerdote, que durante 28 anos esteve à frente da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde, realça que a questão “orçamental” não deve “de forma nenhuma” colocar em causa o essencial, “e o essencial é a pessoa”.
As restrições económicas implementadas pelo Governo estão a ter impacto nos recursos humanos e materiais disponíveis para a população e a levar inclusivamente que alguns tratamentos e terapias sejam abandonados.
Dos 28 anos que cumpriu na Coordenação da Pastoral da Saúde, o padre Vítor Feytor Pinto destaca sobretudo 3 vetores essenciais: “A humanização, a ética e a importância da espiritualidade como terapia”.
No que diz respeito à humanização, realça que “o progresso na medicina” é positivo mas acarreta consigo um “quadro de tecnicismo” que abre espaço para uma “maior desumanização”. “Os aparelhos não podem constituir uma cortina que dificulte o contacto pessoal. Mas a humanização também é para os técnicos, eles também têm de ser tratados humanamente”, alerta o sacerdote, para quem esta questão deve ser tida como “uma responsabilidade fundamental da sociedade”.

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