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sexta-feira, 7 de junho de 2013

A face não democrática do poderio mundial!

Está aí mais um encontro Bilderberg, que começa esta quinta-feira e que se prolonga até domingo. Há muitas dúvidas e poucas certezas sobre estas reuniões, que levam quase 6 décadas. Há 4 portugueses envolvidos este ano.
Afinal, o que é o grupo Bilderberg? Há quem lhe chame o Governo do mundo, capaz de orientar o rumo da economia, de influenciar governos e empresas e de condicionar a evolução de preços e transacções. Há quem digo que tudo isto é feito sem transparência democrática e até mesmo através de acções obscuras.
No sentido inverso, há quem garanta que não, que não passa de um grupo de reflexão, uma associação de elites - um "lobbie", é verdade, mas sem outros fins que não a discussão dos problema do mundo.
Para lá das dúvidas - tão bem geridas há 59 anos -, há a certeza de que o grupo não tem existência formal, nem organigrama. As reuniões são sempre fechadas à comunicação social e não são publicitadas nem promovidas.
Nos encontros do Clube de Bilderberg (site oficial) estão presentes alguns dos homens mais poderosos do mundo ou seus representantes, mas apenas da Europa, Estados Unidos e Canadá. Ainda assim há registo de algumas excepções para russos, japoneses e chineses - gradualmente, a partir da década de 70.
O assento está garantido a banqueiros, milionários, donos das maiores companhias petrolíferas, magnatas da comunicação social, membros de algumas casas reais, presidentes de multinacionais - com destaque histórico para a indústria automóvel - e políticos - sejam eles presidentes, primeiros-ministros, ex-governantes ou funcionários europeus.
A reunião deste ano, que começa esta quinta e que acaba domingo nos arredores de Londres, vai ter 4 portugueses: Paulo Portas, António José Seguro, Durão Barroso e Francisco Pinto Balsemão. Vão ser dos poucos a saber realmente o que se passou lá dentro.
O primeiro português e o mais influente
O primeiro português a participar num encontro Bilderberg foi o embaixador Marcello Mathias, em 1963, 9 anos após a 1.ª reunião do grupo. Ainda assim, a grande referência portuguesa é Francisco Pinto Balsemão, que marca presença ininterrupta desde 1981, sendo mesmo apontado como membro da cúpula dirigente da organização.
Foi o próprio Francisco Pinto Balsemão que organizou o único encontro realizado em Portugal, num hotel de luxo no concelho de Sintra, em 1999. É também ele que escolhe e convida anualmente os participantes portugueses.
Ao todo, somando já a estreia de António José Seguro este ano, já são 69 os lusos que passaram por estes encontros, sendo que, alguns mais do que uma vez.
Durão Barroso, por exemplo, cumpre esta semana a sua 4.ª participação e Paulo Portas vai para a 2.ª. Para trás ficam as 4 vezes de Franco Nogueira, as 3 de Vítor Constâncio e António Guterres e as 2 de Medeiros Ferreira, de Artur Santos Silva, de Faria de Oliveira, de Jorge Sampaio, de Ricardo Espírito Santo Salgado e António Borges.
O início
O 1.º encontro do grupo decorreu na cidade holandesa de Oosterbeek, em Maio de 1954. O palco da reunião foi o Hotel Bilderberg, nome que ficaria para sempre como designação do grupo.
O anfitrião – e considerado por isso o fundador – foi o príncipe Bernhard da Holanda, que contou desde logo com uma fortíssima presença de elementos ligados à casa Branca e ao Governo inglês.
Tendo como base os países da NATO, o objectivo era aproximar a Europa Ocidental e os Estados Unidos, lançando para a mesa a ideia de um futuro comum - os primórdios da globalização.
A ideia vingou e os encontros passaram rapidamente a ser dominados e geridos pelo império Rockefeler. Com raríssimas excepções, o grupo tem reunido pelo menos uma vez por ano, sempre em unidades hoteleiras de luxo e nos mais variados locais - dos 2 lados do Atlântico.
Conheça AQUI a lista de convidados do encontro de Bilderberg de 2013.
Não é preciso um governo mundial para haver governação global. Porque a governação global não é feita de regulações centralizadas por instituições de escala mundial mas sim da definição de modelos de regulação e da adoção de um quadro ideológico de referência que dispensam amarrações institucionais.
José Manuel Pureza
Robert Cox, um dos vultos maiores da reflexão académica contemporânea sobre relações internacionais, sintetiza no conceito de "nebulosa" essa autoria difusa da governação global. Define-a assim: "Uma elite indeterminada de influentes e de agências que partilham um bloco de ideias e que desempenham em conjunto a função de governação. A política e a doutrina são desenvolvidas e difundidas através de conclaves não oficiais (por exemplo, a Comissão Trilateral, as conferências de Bilderberg, as cimeiras económicas anuais de Davos, etc.) e de organismos intergovernamentais e de peritos: os comités da OCDE, o Banco de Pagamentos Internacionais de Basileia ou as cimeiras do Banco Mundial e do FMI." E acrescenta: "Não há um processo de decisão formal, há sim um conjunto complexo de redes interligadas que criam uma ideologia económica comum e que injetam este produto consensual nos processos nacionais de decisão. A nebulosa é simultaneamente externa e interna aos Estados."
É pois nesse espaço informal e nebuloso que se define o que é good governance e o que não o é. E essa informalidade é o rosto não democrático do poder mundial. As ideias, os modelos, os discursos, as escolhas, as cumplicidades, são inoculados nos "líderes" nesses espaços imunes ao contágio da exigência democrática.
O Clube de Bilderberg - como a Comissão Trilateral ou o Forum de Davos - não tem que ser visto como sinónimo de conspiração obscura para poder ser avaliado politicamente. Embarcar em exercícios estilo Código Da Vinci na leitura da influência destes atores dá preferência à novela sobre a política. Desde 1954, o Clube de Bilderberg reúne elites políticas, empresariais e militares. Com discrição, sem holofotes, sem povo e com muito poder - o poder do contágio, o poder da modelização do olhar e do discurso, o poder da limitação da escolha política. Bilderberg é o centrão em escala mundial. E é para facilitar a perpetuação do centrão que manda - na finança, nos media, na produção de senso comum, na elaboração de políticas - que o clube serve.
António José Seguro participa com Paulo Portas na conferência de Bilderberg de 2013. Sendo um convite de Francisco Pinto Balsemão, é uma escolha do secretário-geral socialista. E é uma escolha francamente preocupante para quem quer dar densidade programática concreta a uma alternativa de esquerda ao atual Governo das direitas em Portugal. Acreditar que António José Seguro seja convidado para sensibilizar os CEO e os estrategas de Bilderberg para os graves problemas do emprego e do crescimento na Europa é o mesmo que acreditar que um simpatizante da não-violência converterá uma claque de futebol organizada à tolerância e ao fair play. Não, sabidamente Seguro participa no exercício anual de densificação de uma rede de poder. Só isso. E isso tem um enorme significado.

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