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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Lá fora, já desmistificam o “bom aluno”…

Os dirigentes europeus contavam com Portugal para dar o exemplo em matéria do sucesso da política de austeridade, quando aplicada de forma séria. Que pena! Apesar das restrições sem precedentes, Portugal é obrigado a vender "as joias da coroa", para travar a espiral do défice.
O Estado português está a ruir a pouco e pouco. Em abril de 2011, quando recebeu um empréstimo da troika (UE, BCE e FMI) de €78 mil milhões para evitar a bancarrota, o país comprometeu-se a fazer privatizações. Mas sob a chefia de [Pedro] Passos Coelho, o bom aluno da disciplina orçamental exigida, a colocação à venda as "joias da coroa" – ou do que delas resta – foi acelerada. Com o objetivo de reduzir drasticamente o défice orçamental. No fim de 2012, para satisfação da troika, o país fechou as contas com um défice de 5,6% do PIB, em comparação com os 6,7% do ano anterior. O objetivo é chegar aos 3%, no fim de 2014.
Tal como aconteceu com outras empresas portuguesas, mergulhadas em plena recessão e sujeitas a cortes orçamentais brutais, os estaleiros navais de Viana do Castelo foram postos à venda. Desde 2012, sucederam-se os candidatos noruegueses, chineses e brasileiros à compra do número um nacional do setor. Mas as negociações com a Empordef, a holding estatal proprietária, arrastaram-se. "É por causa desta indecisão que está tudo parado", irrita-se [o presidente da empresa] António Costa. No final, o grupo russo RSI, do magnata Andrei Kissilov, sem qualquer experiência no setor naval, deverá ganhar a corrida até março, por €10 milhões. De passagem, o Estado deverá pagar a fatura mais pesada de €280 milhões. Triste destino o destes estaleiros navais emblemáticos – nacionalizados após a Revolução dos Cravos de 1974 – que, até aos anos de 1990, tinham inúmeras encomendas e chegaram a ter 2.800 empregados.
Ansiedade e nervos à flor da pele
Contra o pano de fundo das enormes gruas paradas, centenas de trabalhadores dirigem-se, de cabeça baixa e a passo rápido, para a cantina da empresa. São 13 horas e o almoço está à espera. Para sermos mais precisos, são 526 trabalhadores dos estaleiros navais de Viana do Castelo (Norte de Portugal), situados entre o Rio Lima e o Oceano Atlântico. Esta manhã, como todos os dias, chegaram às 8 horas, para não fazer nada – para jogar às cartas, discutir, matar o tempo. Só uns 30 trabalharam vagamente na reparação de um navio. Desde 2007, a situação da empresa é de declínio lento e, nos últimos meses, a atividade é praticamente nula, devido à falta de encomendas. É verdade que foi assinado com a Venezuela um contrato de dois navios de carga – a entregar em 2014 – no valor de €128 milhões. Mas os trabalhos foram suspensos, sem se saber realmente porquê.
"Aquilo a que estamos a assistir aqui é terrorismo psicológico", comenta, junto à entrada, o presidente do comité de empresa, António Costa. O seu rosto tem uma expressão tensa e cansada. "Os nervos estão à flor da pele e alguns têm crises de ansiedade. Não fazer nada, não saber nada, dá cabo do moral." António Costa começou a trabalhar aqui aos 14 anos. A maioria passou décadas nestes cais: uma vida inteira. "A maior parte gostaria de pedir a reforma antecipada, aos 55 anos, mas, com a nova lei, é impossível", diz, num tom triste, o seu camarada José Pereira. Partidário da austeridade a qualquer custo, o Governo conservador de Passos Coelho suprimiu as pré-reformas e aumentou a idade legal da reforma para os 65 anos.
Para os cerca de 80.000 habitantes de Viana, como para o resto do país, a grande vaga de privatizações é preocupante. "Algumas destas empresas estatais são joias, outras joias falsas, mas são todas grupos estratégicos. E perdemo-las para sempre", diz Bernardo S. Barbosa, diretor do semanário local A  Aurora do Lima. O presidente da Câmara, o socialista José Maria Costa, partilha uma preocupação nacional crescente: o sentimento de perda de soberania. Num amplo salão municipal, este engenheiro de formação mostra-se furioso com a política do Executivo. "Quando nos despojam de grupos públicos tão importantes, em proveito de empresas estrangeiras e, portanto, de interesses privados, estão, de caminho, a pôr de lado o controlo do nosso destino. Receio mesmo que, a prazo, isso venha a condicionar a nossa liberdade e a nossa democracia."
Destino dos estaleiros suscita angústia
Localmente, é o destino dos estaleiros navais (ENVC) que suscita maior angústia. Depois do hospital público, do município e da empresa alemã Enercon (que emprega 1.200 pessoas no fabrico de aerogeradores), os estaleiros são o maior empregador desta região do Alto Minho. Sobretudo, desde que haja encomendas, a sua atividade tem um efeito multiplicador sobre todas as empresas da zona – dos transportes às PME que fabricam peças de montagem, passando pelo comércio local. "Desde que os estaleiros estão parados, é uma tristeza", comenta Lucília Passos Cruz, trabalhadora da indústria hoteleira. "Quando as coisas estavam a andar, os trabalhadores estrangeiros enchiam os restaurantes e os hotéis. Agora, resta-nos o turismo e o surf." Muitos estão convencidos de que há alternativas. "Em vez de vender os estaleiros em saldo, o Estado podia manter o controlo e associar-se a armadores estrangeiros", diz o presidente da Câmara, José Maria Costa. "Países como o Brasil, o México e o Chile precisam muito de barcos. Era possível criar mais de 3.000 empregos." Branco Viana, presidente da União Sindical, é da mesma opinião: "O Estado devia, pelo menos, ficar com 35% das ações. Os russos prometeram não tocar nos empregos. Mas, dentro de 5 anos, podem perfeitamente abandonar a empresa e deixar os 526 operários entregues à sua sorte. E nós, os sindicatos, para quem haveremos de nos virar, para protestar? O Estado poderá estar-se nas tintas!"
Visto de Lisboa - Desapareceram 626.000 empregos em 5 anos
Portugal está a perder mais de 100.000 empregos por ano e dentro de 5 anos a economia portuguesa terá perdido mais postos de trabalho do que o número de pessoas que vivem em Lisboa escreve o semanário Expresso. As estimativas do Banco de Portugal para os níveis de emprego no futuro são muito sombrias. No final de 2013 Portugal deverá ter 626.000 empregos a menos do que em 2008, o 1.º ano da crise financeira.
Segundo os dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística a 13 de fevereiro, o desemprego em Portugal atingiu 16,9% no último trimestre de 2012.
“Foi um período negro para o mercado de trabalho português”, escreve o Expresso, acrescentando que a grande preocupação são os mais de 500.000 desempregados que não recebem qualquer subsídio. Para muitos deles, a consequência dessa situação é a pobreza.

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