Suspensão das obras da “Parque Escolar”, insolvência de construtoras ou atrasos nos pagamentos, tudo isso serve de justificação para arrumar milhares alunos em monoblocos.
Nas manhãs frias, as funcionárias da Secundária Ibn Mucana, em Cascais, começam a trabalhar mais cedo. Entram em cada uma das 7 salas improvisadas, limpam as mesas, as cadeiras e o quadro até o pano ficar ensopado. O trabalho nunca fica perfeito e, por isso, há rolos de papel em cima das carteiras para os alunos secarem o resto da humidade. "Por mais que reforcem a limpeza, os cadernos e os manuais ficam quase sempre colados às mesas", conta Carlos Ferreira, da direcção da escola. Os monoblocos seriam uma solução provisória até a Parque Escolar terminar a ampliação da secundária de Alcabideche. Mas as obras nem sequer começaram e há mais de 2 anos que 200 alunos estão enfiados em contentores.
Quanto tempo dura uma solução provisória?
Na escola de Cascais o provisório passou a definitivo a não ser que o agrupamento encontre outra alternativa. Na Secundária do Monte de Caparica, em Almada, os monoblocos são usados por 500 alunos há 3 anos e a previsão é para continuar até Setembro de 2015. Menos tempo é o que têm de esperar os 900 estudantes da Secundária de Vila Real de Santo António ou as 25 crianças do jardim-de-infância da Escola Básica do Parque das Nações em Lisboa. Depois do Natal vão deixar os contentores e ocupar salas de tijolo e cimento.
A suspensão do programa da “Parque Escolar”, processos de insolvência das construtoras, atrasos nos pagamentos das empresas, tudo isso serviu de justificação para arrumar milhares de crianças e adolescentes em monoblocos. Nos últimos anos lectivos, alunos e professores tiveram de se habituar às salas improvisadas. O que não tem sido fácil, avisa a presidente da comissão administrativa provisória do agrupamento do Monte de Caparica. "É o barulho que se ouve de uma sala para outra, o ar que fica saturado e sobretudo o espaço que é muito apertado", conta Manuela Dâmaso.
Ter 27 ou 30 alunos num monobloco obriga aos professores a desenvolver um talento especial para se contorcerem e conseguirem circular entre as mesas sem andar aos tropeções. E obriga também os adolescentes a ter uma maior capacidade para não se distraírem com o colega do lado: "Os alunos estão demasiado próximos uns dos outros, potenciando as conversas entre grupinhos, o que se torna cansativo principalmente para professores", explica Isabel Santos que lecciona a disciplina de Inglês do 8.º ano.
A secundária de Almada organizou os monoblocos em 2 grandes zonas. A "aldeia de baixo" inclui a papelaria, uma sala de estudo, uma de desenho e duas de electricidade. A "aldeia de cima" é um complexo com 22 salas de aula, bar, refeitório e casas de banho. Neste espaço circulam 500 alunos do 3.º ciclo e secundário que se vão alternando para distribuir o desconforto pelas aldeias.
Não é caso único no distrito de Setúbal. A secundária Jorge Peixinho no Montijo, a Secundária Pinhal Novo, em Palmela, e a Secundária João de Barros, no Seixal também estão com as obras suspensas, todas a usar monoblocos, porque as construtoras entraram em insolvência ou houve atrasos nos pagamentos.
Ao lado dos monoblocos da escola do Monte de Caparica há um pavilhão quase pronto a estrear: "Falta apenas electrificar as instalações, mas os trabalhos ficaram a meio." Agora só existe um edifício fantasma. A primeira fase da obra decorreu entre Outubro de 2010 e Maio de 2011 e a empreitada deveria ficar concluída em Dezembro do ano passado.
A construtora entrou em processo de insolvência e tudo ficou congelado. Mais de um ano depois de reuniões e protestos, a “Parque Escolar” lançou agora uma nova esperança. Tomou posse administrativa da obra e prometeu fazer novo concurso em 2014. O processo será retomado e esta é a melhor oportunidade que os alunos de Almada têm.
Estão com mais sorte do que os estudantes da Ibn Mucana. A última reunião entre a “Parque Escolar” e a direcção do agrupamento desfez todas as ilusões. "Não haverá obras, nem agora, nem tão cedo", conta José Batalha, da associação de pais. A escola integrava a fase 4 do programa da “Parque Escolar”, sem projecto nem concurso. Não há hipótese. Ou se acostumam aos contentores ou viram-se para outro lado.
Agora, a melhor alternativa será concorrer ao orçamento participativo do próximo ano da câmara de Cascais. A ideia até é boa, mas há cada vez mais escolas que também apostaram no mesmo: "Dos 23 projectos que se candidataram este ano, 10 pertencem a escolas." A concorrência será apertada e vão ser precisos pelo menos "6.000 a 7.000 votos" para garantir que o projecto para construir um 2.º piso num dos pavilhões fique entre os mais votados pela população de Cascais.
Na Escola Básica do Parque das Nações, em Lisboa, são 25 as crianças do jardim-de-infância que desde Setembro do ano passado estão em monoblocos para dar lugar a 100 alunos do 1.º ciclo sem salas de aula. A escola foi inaugurada em Dezembro de 2010 quando terminou a primeira fase da obra. "Faltam ainda as salas do 2.º e 3.º ciclos, o refeitório e a biblioteca, mas os trabalhos têm sido sucessivamente adiados", conta Alexandre Marvão da associação de pais.
O projecto inicial resultou de um acordo entre Ministério da Educação e a Parque Expo, mas com a extinção da empresa pública, a tutela assumiu todos os custos. Enquanto a obra não avança, a câmara de Lisboa instalou no início do ano lectivo os monoblocos. Os pais protestaram, acamparam frente à escola, fizeram vigílias e a resposta chegou agora, ainda que, mais uma vez, com carácter provisório. A autarquia decidiu ampliar o monobloco para transferir o refeitório e libertar o espaço para o jardim-de-infância. Depois do Natal, os alunos do pré-escolar vão ter uma sala, mas os pais vão continuar com o protesto, avisa Alexandre Marvão. A ampliação da escola continua em "banho-maria" e há 3 turmas que no próximo ano vão para o 2.º ciclo e não têm espaço na escola: "É por isso que precisamos encontrar uma solução ainda este ano."
Falta pouco mais de um mês para os 900 alunos da Secundária de Vila Real de Santo António terem uma nova escola. Finalizar a obra em finais de Janeiro e acabar com uma espera de quase "3 anos e meio" em contentores foi a última promessa da “Parque Escolar”. "Os trabalhos deveriam ter terminado em Abril do ano passado, mas uma das construtoras do consórcio entrou em insolvência e ainda vários atrasos nos pagamentos entre as empresas e a Parque Escolar fizeram derrapar todos os prazos", conta a directora Cristina Silveira. É também depois das festas do Natal que a normalidade regressa à escola do Algarve.
O i quis saber junto da tutela quantos alunos estão actualmente em monoblocos e quais os custos de manutenção associados, mas não obteve qualquer esclarecimento até ao fecho desta edição.
Ao início os pais ficaram apreensivos e os alunos revoltados. A divisão de crianças por classificações não foi vista com bons olhos mas o resultado final acabou por compensar a desconfiança inicial.
Na escola João Gonçalves Zarco, em Matosinhos, os alunos foram submetidos a testes de diagnóstico a Português e Matemática e aqueles que obtiveram pior resultado foram colocados numa turma à parte. Nesta turma, o apoio educacional foi reformado e a grande maioria dos alunos conseguiu ultrapassar as dificuldades que sentia.
O processo de deterioração do SISTEMA PÚBLICO DE ENSINO já começou há anos, mesmo antes de o governo de Sócrates por em prática umas táticas “inocentes” de descredibilizar os agentes diretos, os professores, com propostas de avaliação, que desfocaram o problema e entretiveram a classe numa luta que não teve qualquer consequência, como agora com os exames...
O primeiro sinal e primeira medida, veio da comunicação social, quando a partir de 2001 começou a publicar, por “livre” iniciativa os rankings das escolas, sem qualquer rigor científico nem critérios comparáveis, que “demonstravam” que as ESCOLAS PRIVADAS eram as melhores entre as melhores, incutindo no cidadão comum e desinformado, que nas PRIVADAS era só sucesso…
Nem vou recuperar todos os comentários que oportunamente fui fazendo e desfazendo as falácias, porque já muito se disse e muitos outros denunciaram a estratégia e porque se foi tornando evidente que havia uma estratégia montada em cima de números, mas longe das especificidades…
Se recuperarmos o tema dos rankings, que se foram repetindo ano a ano, com a mesma matriz manipuladora, podemos agora constatar, que até ou sobretudo em termos físicos e logísticos, a desigualdade entre as escolas PÚBLICAS e PRIVADAS é tal, que se torna evidente que um Porsche ganhará sempre a um 2 Cavalos, desde que não lhe falte gasolina, ou se faltar, o dono do 2 Cavalos lhe ceda alguma…
E já testemunhamos que Crato, o ministro das ESCOLAS PÚBLICAS, se lembrou e propôs encher os depósitos das ESCOLAS PRIVADAS, pelo que no futuro próximo, o Porsche vai ganhar a corrida com muita mais facilidade… E os 2 Cavalos nem vão chegar à meta, por falta de gasosa e até de condutores. É o subsídio às PRIVADAS e será o cheque-ensino, pois claro!
Mas como não chegasse para fazer implodir a ESCOLA PÚBLICA, o seu mais alto responsável, o ministro da Educação do governo de Portugal, incitado por uns “teóricos” excitados com o aumento do sucesso da Educação em Portugal, recuperaram a ideia estapafúrdia, que designam como a “Liberdade de escolha”, que se traduz em dar subsídios PÚBLICOS às ESCOLAS PRIVADAS, que concorrem, deslealmente com as ESCOLAS PÚBLICAS, que será complementado com o cheque-ensino, pois claro!
Também não vale a pena dissertar sobre esta “coisa” obtusa da “liberdade de escolha”, tão sobejamente discutida, tão comprovadamente errada depois de aplicada, que já em 1996/97, num Curso de Especialização em Desenvolvimento Curricular que frequentei, já a “coisa” era considerada “nado morto”, com estudos e tudo… Pronto! Tudo o mais que diga é a mais…
Para ajudar ao enterro, o Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo, que vem permitir que o Estado tenha maior facilidade em estabelecer contratos de associação para financiar a frequência de escolas privadas e que as regras para estes acordos deixem de estar dependentes da oferta pública existente na mesma região, vem mostrar claramente o caminho a percorrer e a direção a seguir pelo operador dos implosivos…
Já agora e sobre as turmas de nível, é lógico que se funciona para os piores, também funciona para os melhores, o que prova que os rankings tenham à frente as ESCOLAS PRIVADAS, privadas desta paisagem de “acampamento de refugiados”. Assim fica fácil aos pais escolherem “livremente” as melhores escolas, que serão as que não tem contentores, mas o melhor conteúdo…
O público vai-se contendo até perceber que foi no velho remédio da “banha de cobra”…
Só é pena que cobrem e do nosso…
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