(per)Seguidores

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Contas feitas: “Menos Privado, Melhor Público”

O ministro da Saúde vai reunir-se com o bastonário da Ordem dos Enfermeiros para falar sobre o salário destes profissionais. Em causa está a recente polémica que envolve a contratação de enfermeiros pagos a 4 euros à hora.
Paulo Macedo já pediu à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde para analisar o concurso e perceber o que correu mal. O critério de escolha dos enfermeiros era o de mais baixo preço, tendo em conta um valor base de 8,50 euros por hora e que poderia descer até aos 50% deste valor.
O concurso para enfermeiros acabou por ser adjudicado às empresas cujo preço oferecido não excedia os 5,19 euros. Uma das empresas que ganhou o concurso, a Medicsearch, já propôs a anulação.
A Administração Regional de Saúde de Lisboa garante que o valor de referência para subcontratar enfermeiros é 10 euros/hora, mas estes profissionais queixam-se de receber apenas 4 euros por causa da parte cobrada pelas empresas de serviços.
O presidente da ARSLVT, Luís Cunha Ribeiro, disse que este organismo não contrata enfermeiros nem quaisquer outros profissionais.
"Abrimos um concurso para uma prestação de serviços, cujo valor de referência [o máximo que a tutela está disposta a pagar] foi cerca de dez euros", disse.
Cunha Ribeiro adiantou que foram excluídas as empresas que apresentaram propostas 50% inferiores ao valor de referência.
Aos enfermeiros é proposto 3,96 euros à hora, 7 horas por dia, 5 dias por semana, o que dá 554,40 euros por mês, enquanto um empregado da limpeza receberá 3,03 euros à hora, 8 horas por dia, nos mesmos 5 dias por semana, ou seja, 485 euros por mês.
A primeira e principal causa deste escândalo é a CONTRATAÇÃO DE EMPRESAS para recrutarem pessoal, que tem que ganhar o “seu”! Já lá voltamos…
Na primeira notícia, diz-se que o valor base era de 8,50 euros/hora, que poderia descer até aos 50% e que as empresas que ganharam o concurso ofereceram um preço que não excedia 5,19 euros/hora, o que é superior aos 50%!
Na segunda notícia, é a própria ARSLVT que vem dizer que o valor de referência para subcontratar enfermeiros era de 10 euros/hora, onde os 5,19 euros/hora de quem ganhou o concurso chega quase aos 50%, quase, mas a mais, o que não cumpre os requisitos para a formalização do contrato…
Numa situação ou noutra, significa que as empresas angariadoras de “recursos humanos” especializados recebem 5,19 euros do Estado, pagam 3,96 euros, arrecadando assim 1,23 euros /hora de cada enfermeiro, ou seja, 8,61 euros/dia, 43,05 euros/semana, 2.281,65 euros/ano. Se multiplicarmos por X enfermeiros colocados no mercado, basta multiplicar por esse X para sabermos o ganho da respetiva empresa.
Se este X for um número razoável, e será, tal significa que se pouparia muito em dinheiro e se ganharia a dignidade merecida por estes profissionais, se se contratasse um verdadeiro profissional de Recursos Humanos por cada Administração Regional de Saúde (se fosse preciso, por incapacidade dos respetivos diretores), recuperando o paradigma “Menos Privado, Melhor Público”!
Se entretanto fizermos outras contas sobre quanto gasta realmente o Estado com cada enfermeiro contratado diretamente (o mesmo que gasta com o intermediário) chegaremos aos seguintes resultados: 5,19 euros/hora dá 36,33 euros/semana e 9.627,45 euros/ano e sem mais gastos, quem ganharia o “justo” preço seriam os profissionais. É só fazer contas…
E voltando à “necessidade” das empresas privadas para fazerem este serviço corriqueiro de contratar pessoas para determinados serviços como intermediários, talvez esteja aqui o “problema” deste problema, ao insistir-se no “paradigma” de “Menos Estado, melhor Estado”, à custa de “Menores preços, menos dignidade”, o que nos leva para caminhos políticos e nos desvia dos parâmetros da boa gestão…
E a questão é tão aberrante, que uma das empresas contratadas, a Medicsearch, até já propôs a anulação do concurso.
Já há cerca de um ano falava aqui sobre o assunto: É uma URGÊNCIA “dar alta” aos intermediários!
Um Estado ou uma pessoa, que paga menos a um profissional licenciado do que a profissionais não qualificados, só pode estar a brincar com coisas muito sérias, sobretudo se, contas feitas, lhe oferece, ou permite que se ganhe 300 euros por mês, 61,85% do Salário Mínimo Nacional, valor concertado pelo governo e parceiros sociais.
O que é de menos é exagero!

Sem comentários:

Enviar um comentário