O aniversário do discurso “I Have a Dream” serviu ao primeiro Presidente negro dos Estados Unidos para fazer um apelo ao activismo. “Não somos reféns dos erros da história”, afirmou.
Quando o Presidente norte-americano surgiu nas escadas do Lincoln Memorial em Washington, ocupando o mesmo lugar onde há 50 anos Martin Luther King fez o seu mais famoso discurso, “I Have a Dream”, e profetizou uma sociedade pós-racial, as expectativas eram imensas.
Mas o orador que falou nessa quarta-feira, num dia chuvoso, apresentou um discurso familiar — tão familiar que os junkies políticos de Washington foram buscar os primeiros e famosos discursos de Obama (como o que fez na Convenção Democrata em 2004) para concluir que eram semelhantes.
Obama mencionou a palavra “raça” 6 vezes, sempre num contexto genérico (“todas as raças”), e actualizou o “sonho” de King para os dias de hoje. Ele nunca disse as famosas palavras “eu tenho um sonho”, mas deixou claro qual é a causa desta nova era: igualdade de oportunidades, não só para “alguns”, mas para “muitos”, para o “segurança negro, o operário siderúrgico branco e o lavador de pratos imigrante”. Ele notou, como tem vindo a fazer em entrevistas, que os oradores de 1963 também vieram a Washington reclamar empregos decentes e oportunidade económica, não apenas o fim da segregação racial.
Muitos esperavam que este fosse o primeiro discurso de Obama sobre raça desde a sua primeira campanha presidencial em 2008. O primeiro Presidente negro da América decepcionou muitos negros por raramente falar de questões raciais em público durante o seu 1.º mandato e alguns dos seus críticos esperavam que ele corrigisse isso no seu discurso de quarta-feira, animado pelo espírito de outro grande líder negro americano, King. Afinal, há um mês, no rescaldo do veredicto sobre o homicídio do adolescente negro Trayvon Martin, Obama falou francamente sobre o tema, notando que existem poucos afro-americanos que não tenham experimentado preconceitos raciais — incluindo ele.
Reconheceu, como tantos oradores antes dele, incluindo 2 ex-presidentes, Jimmy Carter e Bill Clinton, que o sonho de King não foi completamente cumprido. Mas converteu essa constatação num apelo ao activismo — como o organizador comunitário que foi em tempos, antes da sua carreira política. “Manter as conquistas que este país fez requer vigilância constante, em vez de complacência”, disse.
“A Marcha em Washington mostrou-nos que não somos reféns dos erros da história. Somos mestres do nosso destino.” E também: “A mudança não vem de Washington, mas para Washington”, disse.
Obama fez apenas uma breve referência ao seu lugar único no progresso racial da América dizendo que por causa das pessoas que marcharam há 50 anos, “eventualmente, a Casa Branca mudou”.
Já passou o dia do “sonho”, mas nunca passam os dias dos sonhos e da esperança numa justiça social e no bem-estar pessoal (legítimo), para todos, em todo o mundo. E por isso, falar de sonhos, é quando um homem quiser…
Obama foi para uma grande maioria dos cidadãos do mundo, a maior esperança do sonho e da esperança no futuro próximo, não tanto por ser o 1.º presidente americano negro (penso), mas por ser Democrata, com ideias completamente contrárias à de Bush, que era mau, não por ser branco, mas por ser Republicano, rodeado de um séquito de sanguessugas. E na prática, após a sua eleição, logo laureado com o Nobel da Paz, Obama foi cumprindo as promessas eleitorais, retificando abusos imperialistas no domínio das guerras e tapando buracos económico-financeiros herdados da política “amiguista” do seu antecessor e desastrosa para a economia mundial.
Passados estes anos e já no 2.º mandato, Obama vem falar em igualdade de oportunidades, não só para “alguns”, mas para “muitos”, sem referir o para “todos”, embora o título (desta notícia) acentue que falou na igualdade económica para todos (os americanos).
E veio lembrar que para além do fim da segregação racial contida no “sonho”, reclamava-se também empregos decentes e oportunidade económica para os cidadãos americanos.
E são estes pormenores que denunciam a indiferença da raça (e até do partido e até da religião) para reduzir a mensagem e o homem, à "importância" de se ser americano, ou seja ao nacionalismo barato, que não cabe num verdadeiro “imperador”, por muito belicista que seja. Talvez por isso, reconheceu que o sonho de King não foi ainda “realmente” cumprido, nem será, por ser um sonho e esse sonho ser invadido por personagens sinistras, transformando-o num pesadelo…
E quando Obama disse que era preciso “Manter as conquistas que este país fez, requer vigilância constante, em vez de complacência”, faltou especificar o que quer dizer com “vigilância” (espionagem ad hoc e abusiva?), sobre quem (os 99% ou 1%?) e se a incomplacência se dirige aos contestatários das políticas (residentes ou estrangeiros?) ou aos opositores à ideologia/poderio (“elefantes” ou “burros”?)…
Na verdade, ninguém pode ser refém dos erros (dos outros) da história, temos que ser, TODOS, mestres do nosso destino! E era essa a esperança que foi depositada em Obama, mas por tudo que recentemente vem sendo decidido por ele, eventualmente, a Casa Branca não mudou como ele pensa e diz e como seria desejável, até pelas (grandes) expectativas geradas… Desilusão!
God save the World!
Sem comentários:
Enviar um comentário