Apesar de o colar de Merkel, eventualmente, ter “vencido” a gravata de Steinbrück, parece que houve um empate técnico no debate das “ideias”, não dando qualquer esperança de mudanças na política europeia (alemã) e sobretudo na imposição da austeridade aos países sulistas, mas…
Há uma senhora alemã, que se dá ao trabalho de dar umas dicas a Paulo Portas para as próximas avaliações dos moços da troika, mostrando as fraquezas da senhora do colar e a estratégia do combate…
Já sabemos que Portas é capaz de inverter as ideias dos interlocutores, só se espera que não meta o Tribunal Constitucional no meio das reivindicações, e a fazê-lo, que se refira às competências e ao respeito que o Tribunal Constitucional alemão merece da “nossa senhora do colar”…
A declaração é de Gertrud Höhler, ex-conselheira do antigo chanceler Helmut Kohl, crítica da atual política alemã, a propósito do lançamento do seu livro “Estratégia Merkel - O projeto implacável da chanceler de ferro que põe em perigo a União Europeia”.
Ana Maria Ramos
A antiga conselheira de Helmut Kohl assume-se como uma voz crítica da atuação de Angela Merkel, considerando que a chanceler alemã se move apenas pelo poder, sem ideologia ou valores, manifestando desprezo pela lei e pela própria democracia.
Gertrud Höhler afirma mesmo que “Merkel até aceitou que lhe chamassem Rainha da Europa, sem contestar, sem afirmar: ‘atenção, eu sou meramente a chancheler da Alemanha’”.
Na introdução do livro agora lançado em Portugal, a autora escreve que “o Sul da Europa é o destino de Merkel, porque as vozes críticas da austeridade excessiva já se fazem ouvir em Berlim, enviando sinais ainda tímidos de que o vento se está a virar a favor do Sul”.
Para Gertrud Höhler, os portugueses são o povo melhor posicionado para traçar o destino de Merkel, porque Portugal sempre foi cumpridor. Agora, defende que Portugal deve mostrar sinais de cansaço face às medidas de austeridade que lhe foram impostas pela troika.
Para a autora, “de certa maneira, é uma humilhação para o país, ter que ouvir de outros estados, como deve gerir a sua própria política interna”, quando Portugal já demonstrou, com a decisão do seu Tribunal Constitucional em rejeitar 5 medidas do Orçamento de Estado para 2013, que não tolera tudo.
Em matéria económica, afirma Gertrud Höhler, “Portugal pode decidir as suas condições, pedir mais tempo para pagar o empréstimo internacional e recusar aceitar simplesmente as cartas que lhe dá a Merkel ou tolerar medidas de austeridade que vão contra a identidade cultural”.
Afirma ainda que, na realidade, “não se pode construir um ideal da Europa baseado na escravidão dos países dependentes, porque isso destruiria o ideal da própria Europa”, logo “não se pode construir uma Europa baseada em estados-membros humilhados. Aí, acaba-se o sonho europeu”.
Para Gertrud Höhler, o que se está a passar é uma espécie de colonialismo que a chanceler ignora, ou quer ignorar, por ter “uma certa capacidade de não querer ver a realidade e é aí que reside o perigo para a democracia”.
Para a autora, Merkel nunca teve uma ideia, ou ideal. Não faz promessas (quando as promessas são a base da confiança) e nem sequer tem uma afirmação pró-europeia, a não ser: “se o euro fracassar, a Europa fracassa” e adianta que, ultimamente, já nem esta frase se ouve da boca da chanceler, concluindo que já deve ter sido aconselhada a inverter o discurso, porque mesmo que o Euro fracasse, ninguém quer que a Europa fracasse.
Para Gertrud Höhler é preciso seguir com muita atenção a situação europeia e o envolvimento da Alemanha, que se apresenta como a potencia económica mais forte, dentro da União Europeia, mas “não é porque Merkel seja tão boa política que centre todos os olhos em Berlim, mas sim pelo mero facto de ela governar o país economicamente mais forte”.
Questionada sobre se Angela Merkel terá a pretensão de criar um estado único na Europa, a antiga conselheira de Helmut Kohl considera que, de certa forma, se pode supor isso, porque a atual chanceler alemã atua ativamente para que os países do sul da Europa percam cada vez mais a sua soberania, perdendo grandes valores, pois já não são capazes de fazer a sua própria política económica, financeira e social, exemplificando com o crescente aumento do desemprego, em especial entre as gerações jovens.
Já sobre a hipótese de um conflito maior na Europa, Gertrud Höhler considera que é impensável que Merkel não receba diariamente informações dos seus próprios observadores sobre o que se está a passar na sociedade, mas considera que continua relutante, sem respeitar diferenças culturais e a apostar na unificação de tudo, a partir do dinheiro. Aliás, diz a consultora alemã, “tudo se reduz a uma questão de dinheiro, ao ponto de se pensar que até podemos comprar a Europa”.
Gertrud Höhler não acredita que, a curto prazo, as grandes mudanças possam partir do interior da Alemanha porque, apesar da existência de 5 partidos no panorama eleitoral, Angela Merkel deve ser reconduzida no cargo de chanceler.
Sem comentários:
Enviar um comentário