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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Mais um debate sobre os “Estados da União”…

Na última tacada antes do 22 de setembro, os candidatos a chanceler aproveitam a sessão no Bundestag para se venderem ao público e confrontam visões que, de tão opostas, se mostram incompatíveis com a situação da Alemanha.
DW
O candidato de que tantos já haviam desistido está em grande forma e – eloquente e autoconfiante – pronto para o ataque. A 3 semanas das eleições parlamentares na Alemanha, o social-democrata Peer Steinbrück encontrou o tom certo e esbraveja com perícia contra a atual chanceler federal e a sua coligação.
É terça-feira (03/08) de manhã em Berlim. No Bundestag (a câmara baixa do Parlamento alemão) os assentos dos deputados estão lotados. Nas galerias para visitantes, aposentados acotovelam-se com estudantes.
O tema a ser debatido – a presente situação da Alemanha – serve com perfeição à época de campanha eleitoral. Após o seu duelo televisivo do último domingo, voltam a confrontar-se a chanceler federal e candidata da CDU, Angela Merkel, e Steinbrück, do SPD.
Mais uma vez ela vai traçar um quadro cor-de-rosa da situação; ele, um bastante negro. Mais uma vez ela louvará o próprio trabalho e a coligação de governo; ele vai falar de fracasso e estagnação. Uma situação, duas imagens.
Portanto, primeiro as rosas: Merkel pega no seu fichário preto e assume o microfone. Aplausos das alas da CDU/CSU e do parceiro de coligação, o Partido Liberal Democrático (FDP). A oposição posta no Twitter, folheia e sussurra de forma ostensiva.
A chanceler atesta, para si mesma e a sua coligação cristã-liberal – "4 bons anos, considerando-se tudo" – e enumera, bem inexpressiva: da ampliação do sistema de creches à estabilização do euro, passando pela regulamentação dos bancos. A Alemanha de Merkel está bem, bem mesmo, é a singela mensagem da chefe de governo: há muito as taxas de desemprego não eram tão baixas.
Quando afirma que tornou "o trabalho terceirizado socialmente correto", Steinbrück gesticula e balança a cabeça. Mais tarde acusará: o abuso do trabalho terceirizado e temporário alastrou-se nos últimos 4 anos.
Mensagem aos eleitores
Por enquanto, Merkel prossegue: os cidadãos estão diante da questão. "Se seguimos pelo caminho do sucesso ou se vamos ter que ver grandes erros que vão aniquilar esta evolução", explica, esboçando um sorriso.
O apelo dirige-se aos eleitores, que em 22 de setembro darão o seu voto nas eleições federais, decidindo, assim, a formação do governo para os próximos 4 anos. A câmara do Bundestag desloca-se para as galerias e faz zoom sobre 2 moças, de pulôveres idênticos, com os dizeres "I love Berlin". Ambas aparentam estar bastante entediadas.
Quando Merkel aborda o tema da energia nuclear, as interjeições das alas oposicionistas tornam-se mais eloquentes. Merkel encara brevemente a plateia e censura: "Este é um dos seus problemas. É que os senhores não conseguem alegrar-se pelo avanço na Alemanha". Disso, acrescenta, as pessoas "não gostam nem um pouco". As alas da oposição acalmam-se novamente. Steinbrück sacode a cabeça, irado.
Também na crise do euro, e com o pacote de resgate para a Grécia, o seu governo fez tudo certo, assegura Merkel. E, finalmente, uma admissão: foi lento demais o avanço na regulamentação do "sistema bancário das sombras". Dito isso, a chanceler fecha o seu fichário preto, com um sumário "Muito agradecida", e retorna a seu lugar. Aplauso prolongado da coligação, Merkel dá um sorriso aberto, pela primeira vez – até que o seu adversário se levanta.
Tintas escuras
Peer Steinbrück dirige-se ao microfone e começa: um governo progredindo em círculos, cuja gestão das crises fracassou – veja-se a Grécia. Além disso: estagnação ao invés do prometido avanço, e uma reforma do setor energético que é um desastre só.
O social-democrata aborda um tema após o outro, preciso, bem estruturado. A chanceler federal diz sempre: "Nós vamos, nós vamos, nós vamos", mas quem governou a Alemanha, de verdade, nos últimos anos? Falta visão a Merkel, ela é a arquiteta do poder, "porém não mais a arquiteta do país".
A democrata-cristã já não sorri mais, apenas encara o espaço diante de si, de olhar fixo. Nos próximos 25 minutos, a sua expressão praticamente não muda. Os políticos da oposição aplaudem com força.
"A senhora pinta o nosso país com cores bonitas", descreve Steinbrück, para então vir com uma camada de tinta bem escura: ameaça de colapso no sistema de cuidados médicos, abuso do trabalho terceirizado e temporário, falta de investimentos na educação. Os seus gestos ficam cada vez maiores, a sua voz cada vez mais alta.
"Dia horroroso em Berlim"
Resumindo: não se pode mais seguir no caminho atual. A Alemanha precisa de um recomeço – para isso ele quer tornar-se chanceler federal, brada para a sala lotada. Com uma coligação de social-democratas e verdes no governo, não haverá resgate de bancos estrangeiros, e sim investimentos em educação e infraestrutura.
Merkel inclina-se brevemente para o seu vice-chanceler federal, Philipp Rösler, do FDP. A liderança do Partido Verde – parceiro de coligação preferencial de Steinbrück, em caso de vitória – tagarela.
É claro que um governo rubro-verde "vai aumentar alguns impostos, somos honestos, nesse ponto", prossegue Steinbrück. O candidato verde a chefe de governo, Jürgen Trittin, aplaude um pouco, depois volta-se novamente para os seus correligionários.
Também o candidato social-democrata sorri, ao retornar ao seu assento. Colegas de partido inclinam-se para a frente e congratulam-no. Angela Merkel não diz nada. Mais tarde, está entretida com o telemóvel.
"Que dia horroroso em Berlim", diz a mensagem no Twitter. A qual, no entanto, não é da autoria da atual chefe de governo alemã, mas sim um parodiador. Há muitos deles na internet.
Merkel – diz que os últimos 4 anos foram bons, no cômputo geral, com a ampliação do sistema de creches, as baixas taxas de desemprego, a estabilização do euro, a regulamentação dos bancos, o recuo na energia nuclear, admitindo que o único erro foi a lentidão das decisões.
E levantou o dilema sagrado (de quem está no poder) para por os eleitores a cismar: “Seguimos o mesmo caminho do sucesso ou vamos colocar no poder quem vai aniquilar esta evolução?”
Steinbrück – diz que o governo progrediu em círculos, com a gestão das crises fracassou, a estagnação, o desastre da reforma do setor energético, a ameaça de colapso no sistema de cuidados médicos, o abuso do trabalho terceirizado e temporário e a falta de investimentos na educação. E prometeu que uma coligação de social-democratas e verdes no governo, não haverá resgate de bancos estrangeiros, mas investimentos em educação e infraestrutura, admitindo o aumento de alguns impostos.
E rematou, denunciando a falta de visão de Merkel, classificando-a como a arquiteta do poder e não a arquiteta do país.
Como se vê, nada de novo, a fazer-nos lembrar os nossos e inconsequentes “Debates da Nação”, que no caso tem consequências nos “Estados da União”, mas mais no bolso, no quotidiano e no futuro dos cidadãos europeus, só porque a bola é deles e se joga ao Poder...
Transparece aqui o nível da qualidade dos líderes europeus, que parece seguir o princípio da “convergência” entre partidos de esquerda e de direita, igualando-os, todos, por baixo…
“Paradigma” ou infortúnio nosso?  

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