A adesão da Croácia à União Europeia, em julho, reativou a rota da imigração clandestina que atravessa os Balcãs a partir da Grécia em direção ao resto da UE. O número de migrantes ilegais aumenta nos países envolvidos, onde as estruturas de acolhimento são praticamente inexistentes.
“Porta da Europa”, em Lampedusa,
de Mimmo Paladino
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Quando a noite cai, entram para automóveis particulares ou carrinhas que alugam a habitantes locais. Isso custa 600, 1.000 euros ou mesmo mais. É uma viagem tipo cara ou coroa, mas, nos dias que correm, a cara ganha várias vezes: muitos conseguem chegar à Eslovénia e, daí, seguem para Itália e para o resto da Europa. Sentado num café das proximidades da Praça Ban Jelacic, em Zagrebe, P.W.S., um nigeriano radicado na capital croata, bebe um trago de café e tira do bolso um velho telemóvel. "Está a ver? Tenho aqui os SMS… dizem que se vive melhor no Norte."
A coincidir com a entrada da Croácia na União Europeia (UE), os últimos dados da Comissão Europeia são claros. As rotas de imigração ilegal dos Balcãs foram reativadas. No total, entre 2011 e 2012, o número dos "sem papéis" identificados na região aumentou de 26.223 para 34.825 (33%). As fronteiras mais procuradas foram a da Croácia com a Eslovénia (95%) e a da Sérvia com a Croácia (118%). Uma conjuntura que tem também reflexos sobre o número de estrangeiros em situação irregular detetados na Croácia, que, entre 2011 e 2012, passaram de 3.461 para 6.541 (um aumento de 89%).
Croácia ultrapassa a Grécia
"Durante o 4.º trimestre de 2012, o número de detenções por entrada ilegal na Croácia e na Sérvia foi mais elevado do que em qualquer Estado-Membro [da UE], incluindo a Grécia, ou do que em qualquer um dos países associados do espaço Schengen", indica o relatório Western Balkans Risk Analysis 2013, da Frontex, a agência que controla as fronteiras externas do território comunitário.
De referir, neste ponto, o caso curioso de Blaz Topalovic, o chefe da polícia de Vukovar – perto da fronteira com a Sérvia – detido em 2 de agosto por tráfico de imigrantes. O problema é que, independentemente de um ou outro progresso legislativo realizado, nestes países, as práticas relativas à integração dos imigrantes não brilham pela eficácia. Na Croácia, por exemplo, não existem centros para menores em situação irregular e só há um para adultos, que está prestar a atingir a sua capacidade máxima.
A situação é idêntica no outro centro, localizado em Kutina e destinado aos requerentes de asilo político e proteção humanitária, estatuto que a Croácia praticamente não concede. Segundo dados do ACNUR [Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados], dos 3.228 pedidos apresentados naquele país entre 2004 e 2012, só foram aprovados 50 para refugiados e 80 para ajuda humanitária.
“Um país de passagem”
O nigeriano P.W.S. esboça um sorriso: foi um dos poucos a ver o seu pedido aprovado. Chegou clandestinamente ao país há ano e meio e, há alguns meses, conseguiu o asilo político e um passaporte croata. "Eu vou ficar, mas faço parte de uma minoria", sublinha este imigrante, recrutado como intérprete por uma ONG. "Para os imigrantes, a Croácia é considerada como um país de passagem", concorda a jornalista especialista em minorias Barbara Matejic.
Seja como for, o fenómeno torna-se ainda mais complicado, se se tiver em conta que estas rotas são muitas vezes coincidentes com as de tráficos ilegais, que passam pela região, e que a UE receia agora venham a aumentar. "Poderá vir a verificar-se um aumento do fluxo de armas dos Balcãs para a Europa, depois da adesão da Croácia, e da transposição ilegal das fronteiras da UE na zona montanhosa que separa a Croácia da Bósnia-Herzegovina", diz a agência de controlo fronteiriço Frontex.
Grécia - A “porta da Europa” sob pressão
Ponto de acesso por via terrestre dos imigrantes que passam pela “estrada dos Balcãs” para entrar na Europa ocidental, Atenas é muitas vezes criticada pelas condições de acolhimento e de detenção dos candidatos a asilo. Os centros de detenção são muitas vezes alvos de revoltas, a mais recente ocorreu a 11 de agosto. No centro de Amygdaleza, perto de Atenas, um motim rebentou depois de os imigrantes terem tomado conhecimento do prolongamento do prazo da sua detenção de 12 para 18 meses, adianta o diário To Vima. Atacaram guardas e incendiaram colchões. A polícia de choque interveio e 14 requerentes de asilo foram detidos.
“As condições de detenção no campo são horríveis, estávamos à espera de uma revolta por parte dos imigrantes”, admitiu ao jornal o presidente da câmara de Acharnes, a região onde se encontra o centro de detenção. 1.650 pessoas estão alojadas em habitações prefabricadas onde as temperaturas podem atingir os 50ºC no verão, adianta o To Vima. Essas tensões ocorrem duas semanas depois da morte de um detido afegão por insuficiência respiratória.
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