Perante o crescente entusiasmo dos europeus em adotar o inglês como língua franca, um intelectual romeno lança um sinal de alarme e apela à mobilização pela salvaguarda das línguas nacionais.
Escrevi, recentemente, sobre o perigo que a língua romena corre na sua própria terra. E não é por causa de um decréscimo do número de falantes — imputável à queda acentuada do número de nascimentos ou ao êxodo migratório dos romenos —, mas sobretudo por causa das políticas atualmente em curso na educação nacional.
O facto de inúmeros trabalhos de pós-licenciatura serem entregues em inglês e o facto de apenas se valorizarem trabalhos publicados em revistas estrangeiras e redigidos nessa língua contribuiu, significativamente, para acentuar o desinteresse pelas publicações científicas romenas. Mas também para depreciar a língua, a médio e longo prazo, no seio da intelligentsia.
Anglicização criticada na Europa
A Roménia já conheceu algo idêntico no passado. Os boiardos [aristocratas] dos finais do século XIX desprezavam tudo o que fosse romeno e imitavam os centros de poder da época: Paris, Moscovo, Istambul. Coana Chiriţa, personagem dos romances de Vasile Alecsandri, também foi inspirada pelos modos "à francesa". De igual modo, as peças de teatro de Ion Luca Caragiale punham a ridículo o facto de se imitar os modos ocidentais. E no início do século XX, o historiador Nicolae Iorga encabeçou uma grande manifestação em Bucareste para protestar contra as representações teatrais exclusivamente em francês.
Retomo hoje este assunto pois a atual anglicização começa igualmente a ser visível noutros países europeus e não apenas na Roménia. Mas esses países não são considerados retrógrados ou antiocidentais.
A última informação dada pelo Observatório Europeu do Plurilinguismo (OEP) nota que, atualmente, a batalha pelo plurilinguismo e, nesse sentido, contra o predomínio insidioso das línguas hegemónicas é travada em toda a Europa.
Na primavera, o Instituto Politécnico de Milão decidiu que os seus mestrados e doutoramentos deviam ser feitos unicamente em inglês. E isto em nome da internacionalização dos estudos e em prol de uma melhor competitividade das universidades italianas. Mas o Tribunal Administrativo da Lombardia decidiu noutro sentido: determinou que o facto de se empregar a língua inglesa não tinha qualquer influência, nem na qualidade, nem na valorização internacional do ensino. A mesma instância especificou que, ao obrigar os professores a lecionar em inglês, o Instituto Politécnico de Milão atentava contra a liberdade desses mesmos professores.
Proteger um património inestimável
Ainda nessa informação, o OEP constata que, em termos de anglicização do ensino superior, a Alemanha — que avançou muito mais depressa que a França e a Itália, mas continua distante dos países escandinavos e da Holanda — publica unicamente cerca de 10% dos seus programas de mestrados e doutoramentos em inglês. Números que nos fazem pensar nas consequências de uma política desta natureza. É verdade que a língua inglesa oferece visibilidade internacional aos investigadores alemães, mas a língua alemã também pode muito bem contribuir para o seu êxito.
Em França criaram-se programas semelhantes para atrair mais estudantes estrangeiros e, em primeiro lugar, os chineses. Mas, hoje, o país constata que um bom número deles fala francês e muitos desejam mesmo aprender esta língua! Além disso, a Assembleia Nacional francesa e o Senado decidiram que seria preciso rever em baixa o número de cursos ministrados em inglês e que os trabalhos de fim de curso deviam ser escritos em francês.
Também o British Coucil, no quadro do seu programa Language Rich Europe, teve em conta o predomínio da língua inglesa. Nas conclusões do seu relatório sobre a situação linguística da Europa, mostrou-se igualmente favorável ao multilinguismo.
Ao lutar para que a língua romena encontre, pelo menos no seu próprio país, a dignidade e a consideração que lhe são devidas — sem menosprezar a importância das línguas de grande circulação internacional —, contribuímos para ponderar os efeitos insidiosos da globalização. Contribuímos para proteger o inestimável património imaterial de que somos depositários e que devíamos transmitir com toda a sua riqueza.
[Esta luta] patriótica, longe de ser uma idolatria nacionalista, contribui com alguma coisa de muito positivo para a nossa cultura e também para a nossa civilização. E para a Europa em geral.
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