(per)Seguidores

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Dia de um país, de um Poeta e de (novos) emigrantes…

“O fraco rei faz fraca a forte gente.” - Luís de Camões
A História de Portugal, inteligente, documentada, válida e duradoura, diz que a Nação nasceu por; se fixou por; se defendeu com pinheirais e castelos sempre por; navegou por; entristeceu e se alegrou por; finalmente acabou por. Aquela História de Portugal pela qual vou, História sentimental e fantasiosa, meio inventada talvez em muito ponto, garante-me logo de começo que a Nação nasceu para; se definiu para; casou para; navegou para; desanimou para e reagiu para e acabará para. Eu me explico, tanto quanto posso. Nasceu para ocupar a melhor das costas, dando naturalmente para o mar, mas sobretudo para o Oceano, que permite ir para todo o lado; para aprender a bolinar, para completar o Império Romano que soberanos e legiões tinham deixado só como esboço, com uns lambiscos de Europa e uns desembarcadouros de África e umas vagas ideias de Ásia; para universalizar Direito tirado pelos romanos da Filosofia Grega, como engenharia baseada no Euclides; lógica de guerrear da de pensar; para, depois de ouvir a Isabelinha de Aragão, projectar para o mundo inteiro o entender e adorar o Divino, de ser a criança o maior dos milagres, de não se ter de ganhar a vida, o que a amesquinha, e de não haver prisões, nem as de grades, nem sobretudo, porquanto piores, as que são de dúvidas. Têm razão os sábios, que tanto respeito, que Portugal sempre foi, sempre é e sempre será para. Obrigando-nos a todos nós, a que sejamos para, servindo-nos para tal do que somos por. Vocês não acham?
Agostinho da Silva
O Individual como Base do Colectivo
Tudo quanto é apenas colectivo é desordem. A ordem vem da composição individual. Mas a composição individual para formar em si a ordem necessita de que esta também se projecte no colectivo.
A expressão do colectivo é o pânico. O terror só se submete pelo terror. O pânico tem duas expressões de terror: a centrífuga e a centrípeta. A expressão que se desfaz a si mesma e a que permanece estática e se adentra.
A única maneira de aparentar a ordem no colectivo é manejar o pânico. Mas como todo o estado psíquico, por mais inteiro que se apresente tende a suavizar-se se era violento e a tornar-se violento se era suave, é necessário para manter o estado de pânico, que se lhe estabeleçam tantas modalidades diferentes e sucessivas que consigam realmente fazer desviar as atenções da sua insistência. Porém, este processo não tem fim. É o processo da mística colectiva. Filha do desespero individual, a mística colectiva não faz alterar a realidade mas consegue temporariamente submeter todos os indivíduos às mesmas circunstâncias. E até que se formem as novas elites as místicas colectivas são espera.
Ao vermos os grandes exércitos, reluzentes nas paradas ou disfarçados com a própria cor da terra das batalhas, admiramos involuntariamente aquela extraordinária coordenação de movimentos de comando e de obediência. Temos uma ideia da ordem e a essa ideia chamaríamos perfeitamente. É efectivamente uma ideia da Ordem, o que não é, é a Ordem. A Ordem não se estabelece assim por vozes de comando exteriores mas sim por pleno assentimento entre os seus próprios obedientes. A Ordem é um culto interno. Contudo, porque são menos os perfeitos obedientes do que todos aqueles que hão-de integrar-se na Ordem, assim vem a necessidade de aparentá-la constantemente. É indispensável.
Toda a manifestação colectiva tem o seu auge incomparavelmente menos duradoiro do que o seu letargo secular. 
O que é efectivamente permanente e quotidiano é a presença individual humana, o caso pessoal de cada um de nós. É esta a única base e o único fim de toda a sociedade. 
Por mais genialidade que se ponha no artificio colectivo, se este não visa imediatamente a raridade de cada um dos seus indivíduos, isto é, se o todo colectivo não sabe contar com a maneira pela qual cada um o possa servir, em vez de uma estabilidade progressiva teremos uma estabilidade aguentada, em permanente eminência de se desunir e arruinar-se.
Almada Negreiros, in 'Textos de Intervenção'

Ao desconcerto do Mundo
Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.

Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.

Luís de Camões

Sem comentários:

Enviar um comentário