(per)Seguidores

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Quem brinca com o fogo, pode queimar-nos…

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que a atual crise de Coreia "foi longe demais" e que "o diálogo e as negociações são o único caminho para resolvê-la".
Ban ofereceu-se para colaborar na solução da crise entre a Coreia do Norte, Coreia do Sul e os Estados Unidos e advertiu que "as ameaças nucleares não são um jogo". O secretário-geral pediu que o regime comunista interrompa com suas "provocações" e cumpra com as resoluções do Conselho de Segurança.
A Coreia do Norte sentiu-se provocada com as recentes manobras militares realizadas pela Coreia do Sul e Estados Unidos. Mas a sua recente declaração de "estado de guerra" também deixa claro o interesse dos EUA em expandir a sua influência na região do Pacífico.
Esta é a opinião de August Pradetto, professor de Ciências Políticas da Universidade das Forças Armadas Helmut Schmidt, em Hamburgo. Segundo ele, Kim Jong-Un tenta mostrar a sua competência exacerbando a retórica de guerra: "Essas palavras contra os norte-americanos e contra o governo da Coreia do Sul têm a intenção de o levar a ser reconhecido como o guardião e protetor da nação norte-coreana".
Deutsche Welle: A Coreia do Norte declarou "estado de guerra" contra Seul. O que é que isso muda? Afinal, os dois países não firmaram um tratado de paz desde o fim da Guerra das Coreias.
August Pradetto: Em princípio, pouco vai mudar a situação político-militar, porque as Forças Armadas da Coreia do Sul, combinadas com as dos EUA, são superiores às forças norte-coreanas. A Coreia do Norte sente-se provocada pelas manobras de grande escala realizadas na Coreia do Sul e no Mar da China Oriental, e essa é a sua reação.
Isso tem uma função relacionada com a política interna, mas também se destina a dar um recado para o exterior, de que Pyongyang se opõe às manobras realizadas e vai defender-se, ainda que tenha poucas hipóteses de responder à altura, do ponto de vista militar.
O senhor mencionou que o anúncio do "estado de guerra" também tem um propósito nacional. Qual seria?
O líder norte-coreano Kim Jong-Un já está no poder há pouco mais de um ano. Como jovem sucessor do seu pai, tem que provar a sua competência e aparentemente tenta fazê-lo através de declarações fortes. Estas palavras contra os norte-americanos e contra o governo da Coreia do Sul visam que seja reconhecido como guardião e protetor da nação norte-coreana.
E isso funciona entre os seus compatriotas?
Não podemos esquecer que a Coreia do Norte é um estado totalitário que tem todos os media sob o seu controlo. Relativamente poucas notícias chegam do exterior e há pouca objetividade no noticiário local. As pessoas são dependentes dos meios de comunicação nacionais. Outros tipos de notícias vêm apenas da China e pouco servem para influenciar a opinião pública norte-coreana de forma significativa.
Mas os líderes norte-coreanos têm-se, repetidamente, sentido provocados pelas manobras militares norte-americanas e sul-coreanas. A atual reação tem uma qualidade diversa, ou trata-se da ostentação de agressividade usual?
O maior perigo é que ocorra algo não intencional, de um lado ou de outro. Em breve, grande parte das manobras vão ao fim. E aí a situação possivelmente volta a acalmar-se – se não houver nenhum incidente antes.
Os EUA e a Coreia do Sul podem fazer algo para contribuir para a normalização da situação? Por exemplo, agindo de forma mais contida?
Essa seria uma possibilidade. Os EUA fazem pouco para acalmar a situação. Na verdade, os próprios EUA estão sob pressão: as suas bases no Japão e na Coreia do Sul são questionadas pelas populações locais. Ao mesmo tempo, os EUA querem fortalecer as suas bases na região do Pacífico, especialmente na Coreia do Sul e também no Japão, bem como reforçar a defesa antimísseis nessa região. A reação norte-coreana a essas manobras certamente não chega em mau momento para os EUA, de forma a legitimarem a própria posição e os próprios planos e impô-los contra as instâncias de oposição.
Então isso significa que ambos os países querem exibir as suas forças?
Ambos querem manter a sua posição nessa região. A Coreia do Norte teme que se realize, possivelmente também por meios militares, aquilo que tem estado na agenda dos EUA desde 2001, ou seja: uma mudança de regime na Coreia do Norte. E os EUA tentam expandir as suas posições na região do Pacífico. Esse é o verdadeiro motivo da retórica e estratégia que vêm sendo empregadas por ambos os países.

Sem comentários:

Enviar um comentário