Na altura em que o primeiro-ministro, Antonis Samaras, inicia uma ronda europeia, para pedir o abrandamento das condições do resgate da Grécia, o editorialista Nikos Konstandaras recorda os mitos da Antiguidade para explicar que não é atirando Atenas ao mar que se salvará o euro.
Tragédia contra pragmatismo
É evidente que, como muitos outros problemas, os gregos e o núcleo duro das entidades financiadoras, designadamente alguns políticos e economistas alemães, dão mostras de uma diferença cultural neste domínio. Os gregos falam do sacrifício de Ifigénia, um ato que permitirá aos parceiros fazerem-se ao mar a caminho da salvação, construindo no entanto o seu futuro com base numa injustiça. Pelo seu lado, os "estrangeiros" parecem encarar a Grécia do mesmo modo que os membros da tripulação e os passageiros olhavam para Jonas, antes de decidirem deitá-lo borda fora, para se salvarem de uma terrível tempestade. Nós. Gregos, temos tendência a ver a dimensão trágica dos acontecimentos e a adotar um comportamento passivo.
A ideia de sacrifício é identificada com o sacrifício do inocente para benefício de todos: a vítima não tem qualquer envolvimento ou responsabilidade, para além da sua própria existência. No entanto, os nossos parceiros calvinistas entendem o esforço coletivo como a razão para o contributo de cada membro: os papéis não são previamente definidos, como no mundo da tragédia, e sim atribuídos com base em cada esforço individual. No nosso mundo, a vítima é aquele que, por uma razão independente das suas próprias responsabilidades, se destrói para servir os interesses obscuros dos outros; enquanto, para os nossos parceiros "pragmáticos", toda a gente é julgada pelo seu contributo para o conjunto.
Qual será, contudo, o resultado do sacrifício de Ifigénia, de Jonas, e que se passará após a eventual expulsão da Grécia da zona euro ou de outra instituição europeia? O sacrifício de Ifigénia tornou-se um símbolo da injustiça e da crueldade de muitos: manchou de sangue inocente a expedição contra Troia e fez condenar o chefe à morte, depois do regresso. A aventura de Jonas, que foi salvo quando Deus lhe enviou uma baleia para o guardar no seu ventre e o depositar em terra 3 dias mais tarde, é o símbolo do poder infinito de Deus (para os judeus, os cristãos e os muçulmanos) e da incapacidade das pessoas de escaparem à vontade do Todo Poderoso (como tentou Jonas, ao fugir à missão que lhe fora confiada).
Monstros, profeta e tripulação
Há duas versões do fim de Ifigénia. Na primeira, ela morre no altar; na segunda, é transportada, por intervenção divina, para um país estrangeiro, Tabriz, onde viveu entre os bárbaros. É mais ou menos o que nos espera, se sairmos do euro. Infelizmente para nós, a história de Jonas mostra que os passageiros agiram justamente, ao lançá-lo para fora do barco: de repente, o mar acalmou, eles foram socorridos por outros e, por último, Deus salvou a vida do profeta reticente em cumprir as suas ordens. Talvez seja isso que pensam aqueles que dizem que não estão tristes com a saída da Grécia da zona euro, considerando que seria graças à morte no altar, que, de repente, a crise acabaria e tudo correria bem.
Os mitos influenciam o nosso entendimento e, por vezes, a simplificação ajuda a ver com outros olhos problemas complexos e modernos. Basta ver as diferenças em relação à realidade. Hoje, todos nós devemos ter em conta os custos da eventual saída da Grécia da zona euro – para a Grécia, para os nossos parceiros e para as entidades financiadoras. Enquanto nos lamentarmos, dizendo que somos vítimas – uma espécie de nova Ifigénia – não assumimos o peso da responsabilidade de evitar o nosso sacrifício.
Aqueles que sonham que a Grécia seja "lançada ao mar" devem saber que esta não será salva por vontade divina, que a crise não terminará e que o mundo inteiro ficará a saber que, neste barco, se sacrificam pessoas. Vamos recolher muitos monstros, mas não para salvar quem se disser profeta, e sim para devorar os outros membros da tripulação. Até toda a gente desaparecer.
Diplomacia - O caminho do Calvário de Antonis Samaras
A semana de intensa atividade diplomática do primeiro-ministro Antonis Samaras – em 22 de agosto encontra-se, em Atenas, com o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker; no dia 24, estará em Berlim para se reunir com a Chanceler Angela Merkel e, no dia seguinte, reúne-se em Paris com o Presidente François Hollande – para conseguir um abrandamento do plano económico exigido à Grécia, começa sob maus auspícios, salienta o To Vima:
Não se passa um dia sem ouvirmos um responsável alemão dar-nos lições […] advertir-nos mais uma vez de que, enquanto não tivermos cumprido inteiramente as nossas obrigações, o caminho para a saída do euro se mantém aberto. […] Não veem, não compreendem que essa atitude agressiva contínua não ajuda a Grécia e alimenta um clima de tensões sociais e políticas que exacerba os problemas, em vez de os resolver? Os dirigentes europeus – e, em primeiro lugar, os alemães – devem compreender que […] o preço da derrocada do edifício do euro não seria doloroso apenas para os países do Sul da Europa, mas também para os do Norte…
O que esta Europa está a fazer à Grécia é inenarrável!
ResponderEliminarPelo que dizem, não custa morrer, custa é sofrer...
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