No momento em que aumentam as especulações sobre a saída da Grécia da zona euro, é preciso perceber que o país não pode sobreviver sem a moeda única e que a Europa não pode permitir a sua saída. Por isso, ambos têm que colocar as cartas na mesa.
Em diversos países e regiões, o veredicto dos eleitores está dado. A solução baseada apenas na austeridade é um fracasso. Agora, há que o interiorizar e iniciar negociações, que se preveem difíceis, que poderão levar a compromissos penosos. Mas, é urgente que a Grécia esteja pronta para tudo. E será necessário distinguir a realidade das ameaças e das chantagens que se trocam neste momento.
O regresso ao dracma
Em primeiro lugar, a Grécia não está preparada para sobreviver por si mesma. Sem as ajudas da Europa e do Fundo Monetário Internacional (FMI), em breve o dinheiro faltará para pagar os salários dos funcionários públicos e para comprar ao estrangeiro aquilo de que necessita para sobreviver, a começar pelos produtos alimentares e pelo petróleo.
Em segundo lugar, após as reestruturações impostas aos credores privados, atualmente quase metade da dívida grega está nas mãos da Europa ou do Fundo Monetário Internacional. Portanto, se a Grécia não pagar, serão sobretudo os contribuintes da zona euro, ou seja, todos nós (mil euros por cabeça, numa estimativa sumária), quem irá desembolsar.
Em terceiro lugar, o regresso ao dracma só seria vantajoso na imaginação de economistas pouco informados, quase todos americanos. Soube-se recentemente que o governo de Georges Papandreou tinha encomendado um estudo que concluía que mesmo os dois setores que proporcionam à Grécia os seus rendimentos principais, o turismo e a marinha mercante, não beneficiariam com uma moeda desvalorizada.
Em quarto lugar, a verdade desconhecida é a dos prejuízos colaterais – para além do incumprimento da dívida – que uma eventual bancarrota da Grécia causaria aos outros países da zona euro. O diferencial em relação aos títulos do tesouro alemães [spread] não deixaria de crescer. Certamente, as consequências não teriam o mesmo peso para todos. Seriam mais pesadas para os países fracos, a começar por Portugal, em seguida a Espanha e a Itália, e mais leves para a Alemanha.
A solidariedade ou a rejeição
Não existe uma resposta evidente para esta questão que todos os ministros do Eurogrupo, reunidos em Bruxelas a 14 de maio, se colocam: É preciso continuar a sustentar a Grécia ou deixá-la cair a pique? À primeira vista, pelo menos para a Itália, a solidariedade parece menos dispendiosa que a rejeição. Mas, no entanto, se olharmos para o futuro, uma Grécia não depurada tornar-se-ia um problema.
Sendo certo que se misturam duas crises políticas, uma que diz respeito aos mecanismos de decisão da Europa, a outra, os partidos gregos, seria tempo de refletir sobre as alternativas disponíveis através de uma lógica política.
Em Atenas, afunda-se um sistema político. É preciso questionar se a derrota dos dois partidos políticos, até agora dominantes – a Nova Democracia e os socialistas –, se deveu aos prazos demasiadamente curtos exigidos pela Europa para liquidar a dívida, ou à distribuição injusta e ineficaz dos sacrifícios necessários, que continua a proteger as clientelas e os poderosos.
Abrir os cordões à bolsa
A Europa tinha exigido prazos mais curtos que os do FMI precisamente porque desconfiava dos políticos no poder em Atenas. Presentemente desconfia também dos eleitores. Os seus votos deslocaram-se para os políticos dos movimentos emergentes, mas que lhes contam mentiras, por exemplo, que a Grécia pode mais facilmente obrigar os outros países a pagar, ameaçando arrastá-los para o fundo se não voltarem a abrir os cordões à bolsa.
Cabe à Alemanha e aos outros países desfazer estas ilusões de chantagem vã, porque nós não nos deixaremos arrastar para o fundo. Será preferível que coloquem as cartas na mesa, esclarecendo quais os gestos de solidariedade que estariam dispostos a ter em relação aos outros países fragilizados pela crise, no caso de, em Atenas, vir a formar-se um governo decidido a braço de ferro. Caso contrário, dizer aos gregos que “nadem ou afoguem-se” revelar-se-ia um logro, em que os mercados já têm tendência para acreditar.
Ainda anteontem me queixava aqui de que ninguém apresentava as verdadeiras consequências de uma saída do euro (no caso, como agora, da Grécia) e eis que aparece esta lista mal amanhada e pouco sustentada, sem dados quantificados, que até dão a entender que o problema/prejuízo é maior para alguns países do Euro do que para a própria Grécia.
Dizer-se que em breve o dinheiro faltará para pagar os salários dos funcionários públicos e para comprar ao estrangeiro aquilo de que necessita para sobreviver, começa a tresandar à “história do lobo”, que acabará por não pegar…
Dizer-se que serão sobretudo os contribuintes da zona euro, ou seja, todos nós, quem irá desembolsar, é querer continuar a convencer os cidadãos de que são responsáveis pelos jogos da Banca, o que continua a ser injustificável e imoral…
Dizer-se que o regresso ao “dracma” só seria vantajoso na imaginação de economistas pouco informados, quase todos americanos, é desqualificar os vários Nobel, para levar a água ao moinho dos “credores”…
Dizer-se que a verdade desconhecida é a dos prejuízos colaterais, que seriam mais pesadas para os países fracos, a começar por Portugal, em seguida a Espanha e a Itália, e mais leves para a Alemanha é reforçar e estender o “bluff” aos países intervencionados e intervencionáveis, para que se mantenham obedientemente a distribuir injusta e ineficazmente os sacrifícios desnecessários, que continuam a proteger as clientelas políticas e os poderosos financeiros…
Já começa a ser revoltante que ninguém defenda os inocentes…
Sem comentários:
Enviar um comentário