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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Um arquiteto/cidadão, que perseguiu a utopia…

Igreja de Pampulha
O brasileiro Oscar Niemeyer, figura maior da arquitetura internacional, morreu durante a noite de quarta-feira (05-12-2013) no Rio de Janeiro (23h55 em Lisboa), a 10 dias de perfazer 105 anos de idade.
Com o desaparecimento do criador das linhas mais icónicas da futurista Brasília, resumiu nas últimas horas a ministra brasileira da Cultura, Marta Suplicy, o país tropical perde “um dos seus grandes” e um “exemplo para a humanidade”.
A Presidente Dilma Rousseff propôs que o velório se realizasse no Palácio do Planalto, uma criação do arquiteto que “sonhou uma sociedade igualitária”.
“Eu acho que o arquiteto não se pode limitar à arquitetura. Passei a vida inteira debruçado na prancheta, mas guardei um tempo para pensar melhor, pensar nos que sofrem, nos explorados, nesse Brasil tão difícil de se viver” – Oscar Niemeyer fazia assim a súmula do seu pensamento em 2000, numa conversa com o jornalista da Antena 1 Ricardo Alexandre.
“Nestes momentos de pausa e reflexão é que me permito dizer que a vida é mais importante do que a arquitetura. Que, um dia, o mundo será mais justo e a vida o levará a uma etapa superior, não mais limitada aos governos e às classes dominantes, atendendo a todos, sem discriminação”, escrevia Oscar Niemeyer num texto publicado a 16 de julho de 2006 pela Folha de São Paulo, com o título “Conversa de arquiteto”.
No momento de render uma primeira homenagem após a morte de Niemeyer, a Presidente brasileira evocou a aguda consciência social e política do arquiteto, os laços com o comunismo e a “invariável revolta” contra a injustiça e a desigualdade: “Da sinuosidade da curva, Niemeyer desenhou casas, palácios e cidades. Das injustiças do mundo, sonhou uma sociedade igualitária. A minha posição diante do mundo é de invariável revolta, dizia. Uma revolta que inspira a todos que o conheceram”.
“A curva livre e sensual”
Catedral de Brasília
Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares nasceu a 15 de dezembro.
Em 1929 entra para a Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Obterá em 1934 o grau de engenheiro e arquiteto, trabalhando, depois, no gabinete dos arquitetos Carlos Leão e Lúcio Costa. Ali fará parte da equipa responsável pelo projeto do Ministério da Educação e Saúde.
No início da década de 40, por indicação de Juscelino Kubitschek, então à frente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Niemeyer assina a primeira das suas obras mais marcantes, o Conjunto de Pampulha.
A filiação no Partido Comunista Brasileiro acontece em 1945. Receberá um convite, no ano seguinte, para lecionar na Universidade de Yale. Mas é-lhe negado o visto de entrada nos Estados Unidos. Em 1947, porém, acabará por integrar a comissão de arquitetos incumbida do projeto da sede das ONU, em Nova Iorque – a proposta traçada por Niemeyer e pelo arquiteto franco-suíço Le Corbusier servirá de ponto de partida para a construção do edifício. Nas décadas seguintes viajará ciclicamente para países da esfera soviética, forjando amizades com vários dirigentes políticos.
Ao longo dos anos de 1950, assinará obras como o parque Ibirapuera e o edifício Copan, em São Paulo. E à frente do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Novacap, titular do projeto de Brasília, moldará sobre o estirador a futura capital federal. De 1957 a 1958 projeta edifícios como os palácios da Alvorada e do Planalto. Brasília nasce em abril de 1960 para se tornar um farol da moderna arquitetura.
Niemeyer é apanhado de surpresa pelo golpe militar no Brasil. Estava fora do país. Será chamado a prestar depoimento no regresso. Impedido de trabalhar pela ditadura, muda-se para Paris em 1966. Na capital francesa abre um ateliê de arquitetura e assina os projetos da sede do Partido Comunista Francês e do Centro Cultural Le Havre, hoje Le Volcan. Em 1970 demarca-se da Academia Americana de Artes e Ciências em protesto contra a guerra no Vietname.
Amnistiado, regressa ao Brasil no início da década de 80. Entre 1990 e 2000 mantém uma produção constante, vendo inaugurados o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e o Auditório Ibirapuera, em São Paulo. Em 2003 haverá um pavilhão de exposições criado pelo arquiteto brasileiro na galeria Serpentine, em Londres.
8 anos depois, é inaugurada a sua primeira obra em Espanha, o Centro Cultural de Avilés – a crise económica e desentendimentos entre o poder político local e a gestão do Centro Cultural Internacional Oscar Niemeyer levam a que o complexo seja encerrado ao fim de 9 meses, no dia do 104.º aniversário do arquiteto; as portas foram reabertas em meados de 2012.
Em julho de 2006, Oscar Niemeyer escrevia na secção “Tendências/Debates” da Folha de São Paulo: “Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida”.
Oscar Niemeyer foi distinguido com o Prémio Pritzker, nos Estados Unidos, em 1988. Recebeu também o Leão de Ouro da Bienal de Veneza em 1996.
O arquiteto é responsável por obras tão notáveis como o Museu do Cinema e o Museu de Arte Contemporânea, em Niterói, no Rio de Janeiro, o Sambódromo, na mesma cidade, o Memorial da América Latina, em São Paulo, ou a Universidade de Constantine, na Argélia.
Em Portugal foi responsável, em 1966, pelo primeiro projeto do Pestana Casino Park, no Funchal, que seria alterado por Viana de Lima, um dos seus colaboradores. Projetou ainda uma urbanização no Algarve em 1965. Que nunca foi concretizada. Assim como o edifício-sede da Fundação Luso-Brasileira, esboçado em 1990.

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