Bento XVI deixou críticas aos que consideram os trabalhadores como um “bem menor” e alertou para as consequências do que classificou como “economicismo tecnocrático” na cultura contemporânea.
“Novas ideologias - como a egoísta e hedonística dos direitos sexuais e reprodutivos ou a de um capitalismo financeiro desregulado que prevarica sobre a política e desestrutura a economia real – contribuem para considerar o trabalhador dependente e o seu trabalho como bens ‘menores’ e a minar os fundamentos naturais da sociedade”, disse o Papa, durante uma audiência aos membros do Conselho Pontifício Justiça e Paz (CPJP).
Segundo Bento XVI, as pessoas estão a ser consideradas uma chave “prevalentemente biológica” ou como “capital humano”, um recurso que faz parte de uma “engrenagem produtiva ou financeira”. "Embora a defesa dos direitos tenha feito grandes progressos no nosso tempo, a cultura de hoje, caracterizada, entre outros, por um individualismo utilitarista e um economicismo tecnocrático, tende a desvalorizar a pessoa", alertou.
O Papa recordou que para a Igreja Católica o trabalho é um “bem fundamental” e que o acesso ao emprego deve ser tido como “prioritário”, mesmo nos períodos de recessão económica.
O Papa regressou à ideia de uma autoridade política mundial, não como um “superpoder concentrado nas mãos de poucos”, mas como uma “força moral”, a que já tinha aludido na sua encíclica ‘Caritas in veritate’ (2009).
Numa mensagem dirigida aos membros do Conselho Pontifício dos trabalhadores de saúde, recebidos em audiência papal, Bento XVI mostrou preocupação relativamente aos tempos de crise económica, que estão a levar “à diminuição de recursos disponíveis para o setor da saúde”.
O Papa exortou assim os hospitais e as estruturas de assistência que evitem que “a saúde deixe de ser um bem universal, que se deve assegurar e defender, para passar a ser uma mera mercadoria, sujeita às leis do mercado e reservado apenas a alguns”.
“Não podem ser esquecidos os cuidados necessários à dignidade das pessoas que sofrem, aplicando também os princípios de subsidiariedade e de solidariedade no campo das políticas de saúde”, acrescentou.
O papa lamentou ainda que ao mesmo tempo que aumentam os progressos técnicos e científicos, que aumenta também a capacidade de tratar os doentes, “pareça diminuir a capacidade de tratar as pessoas que sofrem”.
“Parece que se ofuscam os horizontes éticos da ciência médica, que corre o risco de esquecer que a sua vocação é servir a humanidade”, acrescentou.
Bento XVI lembrou ainda que os médicos e todos os profissionais de saúde precisam de “uma vocação especial”, pois não se trata de um emprego como os outros. E, por isso, disse acreditar que agora “mais do que nunca a sociedade precisa de bons samaritanos, de coração generoso e braços abertos”.
Mesmo para quem não é “muito católico”, a palavra do Papa tem o peso que tem e as ideias que defende tem que defender sempre os mais fracos e explorados, logicamente!
Mas na verdade, nos dias que correm e na ideologia emergente, os trabalhadores nem são considerados um “bem menor”, mas, infelizmente, como sem eles não é possível que os “outros” consigam amealhar algum, são tolerados como um “mal maior”…
Não deixa de ficar confuso misturar-se comportamentos sociais com práticas ideológicas, mas separando-se as coisas, é fácil concordar com o reinado do economicismo tecnocrático e que está na origem dos “pecados” denunciados…
E não é só para a Igreja Católica que o trabalho é um bem fundamental para a realização pessoal e que o emprego tem que ser prioritário, para qualquer governo, de qualquer país, com ou sem qualquer religião…
O problema, claro, é o superpoder concentrado nas mãos de poucos, não eleitos ou eleitos enganando os eleitores, que se dispõem a servir os mais fortes com “maiores bens”…
É evidente que no seguimento dos mesmos princípios defendidos pela Igreja, Bento XVI tinha que falar do direito à saúde dos cidadãos, por mera questão de dignidade, nos avanços tecnológicos que deveriam facilitar os tratamentos e reduzir a dor, bem como da consciência social que deve ser inerente aos profissionais da saúde.
Mas, a diminuição das verbas para o setor da saúde feita por quase todos os governos e em simultâneo o consequente empurrão para o setor privado da saúde, torna-a uma mera mercadoria, sujeita às leis do mercado (sem a concorrência do público), que resultará em benefício apenas de alguns, logicamente com “bens maiores”…
Seguramente que o Papa não estava a pensar em Portugal (eu estou), porque todos estes “valores” vão contaminando a prática governativa, até de partidos democrata-cristãos que exercem o poder… O Paulo Portas é que deve ter ficado baralhado!
No fim de se ler esta contestação, que na essência tem sido divisa dos partidos de esquerda (radical), até parece que o Papa se radicalizou, “para mal dos pecados” dos que querem chegar ao céu através da política…
Já lá vai o tempo de os párocos de aldeia sugerirem o voto em determinados partidos, para assistirmos à denúncia de más medidas políticas, agora feitas por entidades da Igreja, nacionais, e como se vê até pelo seu mais alto dignitário…
Mudam-se os tempos, mantém-se a vontade!
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