"A austeridade só não é suficiente para resolver a crise. A austeridade asfixia as economias e em Portugal isto já está a acontecer", alertou o antigo chanceler alemão, Gerhard Schröder.
O ex-chefe de Estado, do SPD (centro-esquerda), foi o orador principal da 15ª conferência da consultora Cunha Vaz, em Lisboa. Na intervenção fez eco das palavras do ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, que defendeu a primazia das políticas voltadas para o crescimento e uma menor ênfase na austeridade.
Schröder lembrou que a pressão sobre as contas públicas também se deve aos erros passados do sector financeiro. "É preciso lançar programas para o crescimento. As receitas com a taxa sobre as transações financeiras, que eu apoio, deve servir para financiar essa estratégia. Parece-me razoável que os que causaram a atual crise contribuam agora para a recuperação", disse o advogado a uma plateia com banqueiros e muitos profissionais do sector financeiro.
O ex-chanceler insistiu que os Orçamentos dos Estado ficaram "sobrecarregados com o impacto da crise financeira" e enumerou que são necessárias mais reformas em países como Portugal, como aquelas que a Alemanha fez no período de 2000 a 2005 (agenda 2010), sob o governo do próprio Schröder. "Essas reformas lançaram as fundações do atual crescimento económico da Alemanha". "A inovação, a modernização produtiva, a orientação da Alemanha para a indústria e para as pequenas e médias empresas é algo de crucial nesta agenda", disse.
"A existência de acordos salariais flexíveis e de moderação salarial" e "a capacidade de manter trabalhadores qualificados nas empresas mesmo em tempo de recessão" foram outros aspetos realçados pelo alemão.
Schröder falou ainda do "impacto do envelhecimento demográfico nos sistemas de Segurança Social". "É preciso um reajustamento dos sistemas. Na Alemanha subiu-se a idade legal de reforma para os 67 anos", exemplificou.
Se se pode falar de lucidez sobre as ideias de Schröder, é só sobre o que diz acerca da austeridade e dos seus efeitos, não só na economia, mas sobretudo nas consequências no tecido social e na vida pessoal de cada cidadão.
Se por um lado, se o próprio reconhece como razoável (devia dizer lógico) que os que causaram a atual crise devem contribuir para a recuperação, devia antes dizer que deviam ser apenas eles a resolver, exclusivamente, o problema que criaram!
Por outro lado, a apologia às “reformas” que fez em tempo oportuno, também elas contem um certo grau de austeridade, que apenas impediram mais austeridade nos tempos atuais.
Mas convém também ter consciência de que a AUSTERIDADE, que ele condena, só por si, ela passa exatamente pelos acordos salariais flexíveis e de moderação salarial (baixa de salários imposta) pelo impacto do envelhecimento demográfico nos sistemas de Segurança Social, que não pode passar pelo “reajustamento” do sistema, subindo-se a idade legal de reforma para os 67 anos… Isto sem falar no encurtamento no tempo e na eliminação de subsídios sociais, nos impostos exorbitantes, desiguais e inversamente proporcionais às “regalias” a que dão direito, na redução do comércio interno, na restrição de crédito às empresas levando à eliminação das mesmas e no desemprego galopante e calculado (embora se fale de surpresas)…
Claro que a inovação, a modernização produtiva, a orientação para a indústria e para as pequenas e médias empresas é crucial numa agenda de inversão do processo para o crescimento. Mas, para além da força das palavras de quem tem autoridade para o fazer, pelo que fez, faltou-lhe falar de solidariedade, que foi o que não faltou, quando a Alemanha precisou dela, após a queda do muro…
Austeridade? Chega! Solidariedade? q.b.! Crescimento? Já!
Se não, é só paleio para conferência, do que já estamos fartos e nos asfixia…
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