O chefe de missão do FMI deu uma palestra na Ordem dos Economistas, onde falou sobre a situação económica de Portugal no passado, no presente e no futuro.
André Cabrita Mendes
Abebe Selassie deixou várias ideias no ar, sobre como Portugal deve encarar o futuro, como a reestruturação da banca, e recomendou mesmo que deve ser feito um debate alargado em Portugal sobre qual o modelo de Estado Social que o país pretende no futuro.
As 10 ideias de Abebe Selassie sobre a economia portuguesa
Reestruturação da banca – "Os bancos precisam de mudar o seu modelo de negócios se quiserem evitar mais um ciclo de elevada alavancagem", afirmou Abebe Selassie. Para o responsável, os custos das operações dos bancos são elevados e é “muito importante a redução de custos” para melhorar as condições de financiamento dos bancos e do próprio país.
Selassie destacou também a importância do novo mecanismo de compra de dívida do BCE, o mecanismo de transações monetárias definitivas (OMT, na sigla em inglês) para corrigir a ineficiente transmissão monetária na moeda única. "É muito claro que o mecanismo de transmissão monetária não está a funcionar como devia. Isto é algo que precisa de mudanças de política da zona euro", afirmou.
Estado social – "Se quiserem ter um grande estado providência em Portugal, tudo bem, mas têm de saber como pagar por ele", afirmou o economista. Selassie considera que é preciso fazer um debate alargado em Portugal sobre esta questão: "É possível ter um Estado baseado no modelo escandinavo, mas para isso é necessário um setor exportador muito dinâmico. Esse é um debate necessário."
Ineficiências no sector público – Abebe Selassie considera que ainda existe "margem para reduzir as ineficiências no setor público". E exemplificou com os gastos com pensões, que afirmou estar “entre os mais elevados na zona euro, cerca de 15% do PIB". O grande problema aqui, sublinhou, é que embora Portugal seja dos países que proporcionalmente mais gasta em pensões, também é um dos que tem maior risco de pobreza entre idosos.
Aumento da dívida pública deve-se à reclassificação de PPP e empresas públicas - O homem forte do FMI em Portugal considera que é errado atribuir o crescimento da dívida pública à crise, porque estas devem-se à entrada das despesas das PPP e das empresas públicas nas contas do Estado.
"Uma das coisas que as pessoas nos dizem é que o crescimento da dívida pública é um resultado da crise. Acho que é uma visão errada, porque a política orçamental foi expansionista, mas também porque muita da despesa que fizeram com Parcerias Público-Privadas e empresas públicas, entrou nas contas públicas. Grande parte do aumento da dívida pública deve-se à reclassificação destas entidades em contas nacionais", disse hoje.
Portugal não é a Grécia - "Acho que nesta conjuntura não se querem comparar com a Grécia", defendeu Selassie. Para o responsável do Fundo, os progressos do país estão a ter resultados visíveis com a queda dos custos de financiamento e que será melhor para Portugal continuar a avançar com o programa e evitar associações com a Grécia, devido à possibilidade que foi avançada de Lisboa beneficiar das novas condições para Atenas concedidas pelo Eurogrupo.
Dívida pública e privada - Abebe Selassie criticou duramente tanto o endividamento do Estado como o endividamento dos privados. "A política orçamental foi completamente indisciplinada", acusou o responsável, que também criticou o sector privado. "Um fator distintivo de Portugal era a elevada alavancagem do setor privado, algo que foi alimentado por mercados internacionais e bancos domésticos complacentes", sentenciou.
Programa da troika começa a dar resultados em 2013 - O chefe de missão do FMI mostrou-se bastante otimista quando falou sobre os resultados do ajustamento orçamental que está a ser efetuado em Portugal. Abebe Selassie disse que muitos dos resultados do programa só serão visíveis no médio e no longo prazo, devido às reformas estruturais em curso.
O economista apontou que Portugal deverá voltar ao crescimento "na segunda metade do próximo ano" mas sublinhou que este está dependente da evolução dos mercados internos.
Portugal não se adaptou às transformações globais - "Portugal, no essencial, não soube adaptar-se a estas transformações", sublinhou hoje Selassie. Assim, o responsável do FMI considera que as políticas públicas nacionais "não foram capazes de responder a desenvolvimentos" como a globalização e a entrada da China nos mercados globais, a revolução das tecnologias digitais, a criação do euro e a crise financeira global.
Sacrifícios não foram em vão - "Reconhecemos que há um grande aumento do desemprego, que duplicou. Há uma grande pressão sobre as famílias. Mas o esforço não foi em vão", defendeu hoje o etíope. Os portugueses "fizeram sacrifícios consideráveis até agora, evidentemente, mas conseguimos grandes progressos", afirmou, considerando que houve uma redução dos "desequilíbrios macroeconómicos que caracterizavam" a economia portuguesa, como a redução das taxas de juros sobre a dívida soberana, a redução do défice externo e o equilíbrio orçamental.
Impacto negativo do programa - Abebe Selassie admitiu que a consolidação orçamental continua a ter um "um efeito negativo superior ao previsto" sobre a economia e que o desendividamento das empresas pode vir a ter um "impacto ainda maior sobre o emprego".
Sobre o recente estudo do FMI, que demonstrava que os efeitos recessivos das políticas de austeridade são superiores ao inicialmente previsto, Selassie esclareceu que o estudo já foi incorporado na 5ª revisão do programa português, mas avisou que é preciso ler o documento com atenção. "É preciso muito cuidado para interpretar esses resultados, que não se aplicam necessariamente a situações específicas de países."
Constança Cunha e Sá criticou, a atitude do chefe da missão do FMI na troika, que em sucessivas entrevistas e conferências de imprensa tem manifestado opiniões sobre Portugal. A comentadora aconselhou mesmo o senhor Abebe Selassie a “calar-se”. “Eu pergunto, como o rei Juan Carlos perguntava ao Hugo Chávez: Porque não te calas?”, afirmou.
Para a comentadora, “não é possível, nem é normal, que haja um chefe de missão que esteja constantemente a explicar ao Governo e aos portugueses como é que devem ser governados”.
“Eu penso que uma coisa é o aconselhamento do FMI e o facto de o FMI estar na troika, outra coisa é um senhor, que não passa de um técnico, estar todos os dias nas televisões a explicar ao país, ao Governo e aos portugueses como é que devem ser governados. Se o mais difícil está para vir ou não deve estar, se já foram feitos 2/3 da consolidação e ainda falta 1/3, que temos de prosseguir nas políticas sociais, etc.”, sublinhou.
“Mas quem é este senhor?! Não há ministros para falar aos país sobre estas questões? É preciso ser um técnico do FMI para vir explicar dia sim, dia não, aos portugueses o que é que o Governo e o país vão ter que fazer?”, questionou ainda Constança Cunha e Sá.
“Nós não precisamos do senhor Selassie para nos explicar isso. Para isso, há um relatório anual do FMI sobre Portugal em que se diz que o desemprego vai subir e que o crescimento económico é uma miragem que há-de aparecer na melhor das hipóteses em 2015”, rematou.
Pronto! Poupei-me a ter de fazer uma análise (repetida) mais pormenorizada, porque já cansa ouvir este estrangeiro repetir o que Gaspar e Passos se fartam de antecipar e que demonstra que afinal repetem, subservientemente, o que o Selassie lhes diz… E fica provado que as avaliações classificadas de “Excelentes” são dadas na razão inversa dos resultados, ou quando muito “a olho”, porque continua a haver muitos mas… e a vida dos portugueses a piorar com tanto sucesso.
E fica ainda a certeza de que os tecnocratas, no fundo, no fundo, são políticos de 1ª, nos países dos outros…
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