(per)Seguidores

sábado, 15 de dezembro de 2012

Ainda há quem nos considere Pessoa(s). Obrigado!

Richard Zenith, cidadão de Portugal
Investigador, tradutor e ensaista, Richard Zenith tornou-se, esta sexta-feira, na primeira personalidade estrangeira a vencer o Prémio Pessoa, mas a merecê-lo por se dedicar a uma obra, literatura e língua portuguesas, defendeu o júri do galardão.
Richard Zenith nasceu há 56 anos nos Estados Unidos, onde se licenciou em Letras, mas mudou-se para Portugal no final dos anos 1980, já apaixonado pela diversidade heteronímica da obra de Fernando Pessoa.
O investigador tomou contacto com a obra do poeta ainda nos anos 1970, nos Estados Unidos. Chegou a viver na Colômbia, no Brasil - onde aprendeu melhor a língua portuguesa - e em França, antes de se mudar para Portugal.
O júri do Prémio Pessoa sublinhou que Richard Zenith se tornou "cidadão de Portugal por dedicação e louvor a uma obra, a de Fernando Pessoa", mas também à literatura e língua portuguesas.
As investigações do espólio de Pessoa levaram Richard Zenith a fazer uma edição de "Livro do Desassossego", de Bernardo Soares, e a vertê-la para inglês.
Em 2008 lançou a elogiada fotobiografia do poeta e atualmente prepara uma biografia, ainda sem prazo de finalização e edição.
"Este prémio [Prémio Pessoa] ajuda a viabilizar o meu trabalho sobre a biografia já que ninguém me está a pagar agora, não tenho uma mensalidade para esse trabalho da escrita da biografia portanto isso é bem-vindo, claro", disse à agência Lusa.
Através da Assírio & Alvim, Richard Zenith publicou algumas obras inéditas de Fernando Pessoa, fruto da aturada investigação do espólio do escritor, como "A Educação do Estóico", mas também cartas, prosa, poesia inglesa.
Apesar de ser um pessoano convicto, Richard Zenith traduziu para inglês e divulgou internacionalmente a obra de escritores como António Lobo Antunes, Luís Vaz de Camões, Sophia de Mello Breyner Andresen e José Luís Peixoto.
Este ano, Zenith foi o curador e co-organizador de uma das maiores exposições dedicadas a Fernando Pessoa, que esteve patente na Fundação Calouste Gulbennkian, em Lisboa, e anteriormente no Brasil.
Além do Prémio Pessoa, Richard Zenith já foi distinguido em 1999 com o Pen Award de poesia pela tradução de poemas de Fernando Pessoa e heterónimos, e em 2002 com o prémio Calouste Gulbenkian pela tradução de "Livro do Desassossego" para inglês.
A tradução de poemas do autor João Cabral de Melo Neto valeu-lhe em 2006 o Prémio de Tradução Harold Morton.
Miguel Veiga, um dos elementos do júri, sublinhou à agência Lusa que Richard Zenith "é um premiado que indiscutivelmente" mantém viva a obra de Fernando Pessoa em Portugal e no estrangeiro.
Richard Zenith é o vencedor do Prémio Pessoa 2012, no valor de 60 mil euros. O júri, presidido por Pinto Balsemão, justificou esta escolha com o seu papel enquanto tradutor.
Correio da Manhã – Como se sentiu ao saber que era o vencedor do Prémio Pessoa 2012?
Richard Zenith – Como quase todos se sentem: muito surpreendido, contente e também cheio de dúvidas. Porquê eu? Será que outras pessoas não mereceriam o prémio? Mas fico muito contente e acho interessante que o prémio tenha sido dado a um português relativamente novo. Vivo cá há 25 anos mas tenho cidadania portuguesa só há três.
– Porque decidiu naturalizar-se português?
– No início era mais por razões práticas. Tinha de renovar a minha autorização de residência de cinco em cinco anos e fi-lo para tornar--se mais fácil. Mas depois achei que fazia todo o sentido, pois tenho uma relação afectiva forte com Portugal. É o meu país de adopção.
– É um grande conhecedor da obra de Fernando Pessoa. O que o levou a gostar tanto deste escritor?
– Fernando Pessoa tem o dom de ser intensamente português e ao mesmo tempo universal. É isso que nos atrai: Tem um modo de escrever que faz com que se sinta aquilo que é escrito, como se estivesse a falar connosco.
– O que tem a literatura portuguesa de diferente das restantes?
– A grande literatura transborda fronteiras linguísticas. Mas posso dizer que, sem menosprezar outras áreas, a literatura parece-me ser o forte da cultura portuguesa. É um privilégio poder divulgá-la em língua inglesa.
– A nossa literatura começa a ser mais reconhecida lá fora?
– Sim. E Pessoa tem ajudado nisso. Há escritores que se mostram um bocado ciumentos e invejosos em relação ao sucesso dele. Há alguma verdade nisso, mas também é verdade que, graças a ele, lá fora começam a interessar-se mais por outros escritores. Ele é uma porta de acesso para a literatura nacional.
– Como vai usar o prémio de 60 mil euros?
– Não faço ideia. Ainda não me habituei ao facto de o ter ganho.

Sem comentários:

Enviar um comentário