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quarta-feira, 11 de julho de 2012

É tempo de parar os ataques contra o Estado-nação!

Ouvimos dizer, muitas vezes, que a UE trouxe a paz à Europa. No entanto, esta opinião não é partilhada pelo historiador Thierry Baudet, que argumenta, provocador, que um processo em que Estados-nação abdicam da sua soberania resulta, inevitavelmente, em conflito. É por isso que recomenda a dissolução do euro e a reposição das fronteiras nacionais.
O trunfo dos partidários do projeto europeu é dizerem que o nacionalismo conduz à guerra e a construção europeia leva a paz. Todas as perdas provocadas por Bruxelas no plano da democracia, da soberania e da transparência seriam definitivamente compensadas por um objetivo nobre: a paz.
Ora, essa suposição assente sobre um erro. O nacionalismo não conduz à guerra. A ambição de instaurar um império europeu é que conduz à guerra. A ambição de fazer entrar, a qualquer preço, diferentes povos numa camisa de forças leva à guerra. Em suma, é a construção europeia que conduz à guerra.
O fascismo e o nazismo eram dois eixos da construção europeia. Desde 1933, Mussolini partilhou a sua convicção de que a Europa poderia, novamente, exercer o seu poder sobre o mundo se conseguisse instaurar uma certa unidade política.
O novo Império Romano de Mussolini
O colaboracionista norueguês Vidkun Quisling defendia que deveríamos criar uma Europa que não desperdiçasse o seu sangue em conflitos mortíferos, mas que constituísse uma sólida unidade. E, a 11 de setembro de 1940, Joseph Goebbels afirmava: “Tenho a certeza de que, dentro de 50 anos, deixaremos de pensar em termos de país”.
A 28 de novembro de 1941, numa conversa com o ministro finlandês dos Negócios Estrangeiros, Adolf Hitler defendia que, manifestamente, os países da Europa andavam lado a lado, como membros de uma grande família. No seu estudo que faz escola, Nations and States (1977), o historiador Hugh Seton-Watson, da Universidade de Oxford, concluiu que as intenções de Hitler não se limitavam àquilo que podemos descrever como o nacionalismo alemão.
O seu objetivo era conquistar toda a Europa e um fasto território para além dela. Mussolini queria, por seu lado, fundar um novo império romano à volta do mar Mediterrâneo e os japoneses desejavam instaurar uma grande esfera de coprosperidade na Ásia Oriental. O racismo dos alemães também não era a expressão de um nacionalismo. Pelo contrário. A raça ultrapassava as fronteiras da nação e do Estado e a teoria racista é, por isso, por definição, uma doutrina internacional – e não nacional.
Os fundadores da UE
É ainda mais impressionante o facto de Robert Schuman, um dos fundadores do projeto europeu, ter sido, até 17 de julho de 1940, secretário de Estado do regime de Vichy, que colaborou com os alemães. Enquanto deputado pela Lorena, em 1938, apoiou ativamente a traição de Munique e contribuiu, assim, para tornar possível a anexação de uma parte da Checoslováquia pela Alemanha de Hitler. Nessa época, também insistiu para que Hitler e Mussolini estreitassem laços. A 10 de julho de 1940, Robert Schuman fez parte do grupo de deputados que apoiaram a tomada de poder por Pétain.
Jean Monnet, um dos outros fundadores, estava entretanto em Londres e tentava impedir a difusão na rádio dos boletins de informação diária de De Gaulle (coisa que conseguiu nos dias 20 e 21 de junho de 1940).
Além da II Guerra Mundial, também se atribui a causa da I Guerra Mundial ao “nacionalismo”. Mas, do mesmo modo, durante a I Guerra Mundial, o objetivo da Alemanha era submeter a um império as regiões que não eram alemãs. Esta guerra, aliás, começou no barril de pólvora transnacional, que era a Áustria-Hungria. Essa União Europeia antes do tempo que recusou conceder a independência aos sérvios da bósnia, o que incitou um grupo de “jovens bósnios” a planear o assassínio do arquiduque Francisco Fernando em junho de 1914.
Unidade política – grande fonte de tensões
A opressão exercida por um regime centralizador gera tensões. Uma das principais lições tiradas da I Guerra Mundial foi sem dúvida o “princípio da autodeterminação” – propagado, sobretudo, pelo presidente norte-americano Woodrow Wilson – que defende o respeito pelas diferentes nacionalidades, em vez de as querer dissolver ou de pretender integrá-las num todo mais vasto.
Se recuarmos ainda mais na História, percebemos uma vez mais que não foi o “nacionalismo”, mas sim o imperialismo e o desejo de unificação europeia que conduziram à guerra. Tomemos como exemplo as guerras napoleónicas. Napoleão queria instaurar os mesmos princípios para o bem da Europa: um código europeu, um supremo tribunal europeu, uma moeda comum, as mesmas unidades de medida, as mesmas leis, e por aí adiante. Napoleão esperava que a Europa se tornasse rapidamente uma única e mesma nação.
A ideia de que o nacionalismo conduz à guerra e que a unificação europeia leva à paz é, por isso, falsa. Ao longo dos últimos 50 anos a Europa ainda não conheceu a “paz”. Durante a maior parte desse tempo, os países da Europa estavam envolvidos numa luta de morte contra a União Soviética – também ela a expressão de uma filosofia antinacional: o comunismo. O trabalhador, dizia o Manifesto Comunista, não tem nacionalidade.
Como seria de esperar, hoje, a tentativa de unir politicamente a Europa também gera grandes tensões. Em quase todos os países europeus vemos aumentar o poder dos partidos que são contra a ordem estabelecida.
O nacionalismo possibilita a democracia
Na Europa do Norte, a desconfiança em relação ao Sul acentua-se e o inverso também é verdade. Também aqui, a fonte de conflito não é o nacionalismo mas o projeto europeu. Devemos, por isso, caminhar em direção a uma Europa completamente diferente da atual UE.
Uma Europa sem um regime centralizador – mas uma Europa de Estados-nação que cooperam entre si e que não têm medo das diferenças nacionais. É preciso devolver aos países a autoridade sobre as suas fronteiras nacionais para que sejam eles próprios a poderem decidir quem querem deixar entrar. Segundo o seu interesse económico, optarão por um regime brando de vistos, conservando o controlo sobre a criminalidade e a imigração. É preciso acabar com o euro para que os países possam respirar novamente no plano monetário e decidir as suas taxas de juro em função da boa orientação da conjuntura local. É preciso desmantelar grande parte da harmonização que apaga a diversidade.
Longe de ser fonte de conflitos, o nacionalismo é a força que torna possível a democracia. Sem essa força unificadora, o Parlamento jamais poderá tomar uma decisão legítima. O exemplo da Bélgica mostra, além disso, que a ausência de uma unidade nacional pode tornar a administração de um país extremamente laboriosa. O pânico do nacionalismo arrisca-se a instaurar um império imposto por Bruxelas. Vai sendo tempo de parar os ataques contra o Estado-nação.

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