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terça-feira, 27 de março de 2012

Homens sem rosto ou gentinha sem responsabilidade?

O diário alemão “Die Welt” - que se afirma na posse de uma cópia do relatório secreto da chamada "troika" sobre Portugal - adianta que o relatório reconhece o cumprimento por Lisboa de todas as condições impostas pelo trio de peritos do FMI, o BCE e a CE para aprovar as ajudas, mas realça aquilo a que chama o "dilema" do país: a falta de crescimento económico que o arrasta para uma recessão cada vez mais profunda.

O relatório refere-se ao período de inspeção da troika em meados de fevereiro e afirma que "o ajustamento da política financeira no período 2011-2012 é considerável sob todas as perspetivas", cita o "die Welt". A delegação não terá constatado qualquer "indício de um cansaço" no que toca a vontade de implementar as reformas, pelo que recomenda o pagamento, em Abril, da próxima tranche de 15 mil milhões de euros, do total de 78 mil milhões.
Segundo o "die Welt", o tom de otimismo oficial adotado em relação a Portugal não apenas pela troika, mas também pela Alemanha, onde os governantes não se cansam de louvar os esforços envidados por Lisboa para sanear as contas públicas, prende-se também com o crescente ceticismo dos mercados, que veem no país o próximo candidato a uma reconversão das dívidas. O diário cita, a título de exemplo, o chefe do fundo de investimentos, Pimco, Mohammed El-Erian, que adverte contra o perigo de uma falência portuguesa, por causa da recessão. Os especialistas alemães duvidam igualmente da capacidade de Portugal voltar aos mercados financeiros em 2013, conforme previsto pela troika. Esta reconhece as dificuldades, segundo a citação do "die Welt": "O deterioramento das condições macroeconómicas, especialmente a subida da taxa de desemprego, que provou ser mais drástica do que o antecipado, começa a pressionar o Orçamento".
Como se vê, a fuga de informação não é apenas praticada por cá, veja-se o acesso que um jornal alemão teve a uma cópia do relatório secreto da troika sobre Portugal, que estranhamente não condiz com a avaliação tornada pública pelos nossos media, nem pelo governo.
Ressalta desde logo uma evidência que não necessita de confirmação contabilística, já que qualquer badameco sabe que a falta de crescimento económico tem como efeito imediato uma recessão, que no caso classificam como cada vez mais profunda.
Mas a visita, in loco, parece que foi apenas para constatar que não foi registado qualquer indício de um cansaço pela parte do povo, o que quer dizer que o povo ainda está sereno e se pode bater mais na “criatura”…
Só não se percebe o otimismo da troika, nem os louvores dos governantes alemães, a não ser por estarmos(?) a sanear as contas públicas, criando condições para lhes pagarmos o calote, muito menos quando se diz que os mercados estão cada vez mais céticos e até preveem que sejamos o próximo candidato à reconversão das dívidas, chegando-se a falar na falência portuguesa, por causa, exatamente, da recessão e desmentido o governo português sobre a capacidade de Portugal voltar aos mercados financeiros em 2013, conforme previsto pela troika.
Chegados aqui, já é tempo de colocarmos algumas questões, de que ninguém fala, mas que penso que passa pela cabeça de PPC e dos seus estrategas.
1 – O programa de ajuda para a ESTABILIDADE e CRESCIMENTO foi traçado pela troika, tal qual o desenharam;
2 – O governo de então e os partidos do “arco” do poder, puseram a sua assinatura, comprometendo-se a segui-lo religiosamente;
3 – O governo atual, cujos partidos aceitaram o programa, parece que estão a cumpri-lo, indo até mais longe do que o exigido pela troika;
4 – Oficialmente, a troika gaba o cumprimento e avalia-o como “perfeito”, embora secretamente o elogio não seja tão animador;
5 – A troika constata que a coisa está a dar para o torto, com uma recessão cada vez mais profunda, uma quase certa reconversão das dívidas, uma eventual falência do Estado e o adiamento (duradouro) de Portugal voltar aos mercados em 2013;
6 – A troika confessa ainda que o desemprego aumentou muito mais do que o que previram (e o governo também), o que os preocupa pelas consequências de instabilidade social que pode gerar.
Verificado isto, pergunta-se:
A troika é (foi) incompetente a ponto de traçar um plano de crescimento que deu resultados contrários aos que nos garantiram?
Foram as medidas a mais que o governo português acrescentou que lhes borrou a escrita?
Na primeira hipótese, o governo português não terá o direito e a obrigação de responsabilizar a troika pela burla e exigir-lhe as medidas retificativas, sem qualquer ónus?
Na segunda hipótese, poderão os portugueses responsabilizar o governo por se ter esticado demais e ter estragado o plano da troika e exigirmos-lhe (ao governo) que faça macha atrás?
Três coisas são certas:
O que vem a público é puro marketing, do mais foleiro e “engana tolos”;
A troika, até agora, só tem demonstrado incompetência, ou dificuldades de visão, ou dificuldades de análise, irresponsavelmente;
O governo, deve estar a escudar-se na tese do “bom aluno”, que faz tudo o que os mestres dizem, podendo “sacudir a água do capote” e culpando-os (com justa causa) dos erros (im)previstos…
Quem se molha, num caso ou no outro, são os sem abrigo…

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