O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, ainda não expressou o seu desagrado quanto ao site anti-imigração do partido de Geert Wilders. O filósofo Paul Scheffer considera que este silêncio é revelador das divisões políticas e da sua falta de visão no que respeita a imigração.
No estrangeiro, quem está minimamente informado sobre a Holanda, sabe que as notícias andam à volta de uma questão: “O que aconteceu a este país tolerante?” Esta pergunta denota uma deceção sincera, mas adota igualmente um novo preconceito. Da mesma forma que antigamente todos os correspondentes escreviam sobre a liberdade, aparentemente ilimitada, no país das túlipas, agora procuram-se assiduamente exemplos que possam ilustrar a convulsão que atravessa o país.
E não é assim tão difícil. As oportunidades são inúmeras, tendo como ponto culminante recente o “site de sinalização” de polacos [o site, lançado pelo Partido da liberdade, pede que sejam assinalados os comportamentos dos imigrantes considerados como discordantes]. Alguém, nas altas esferas governamentais, se dá ao trabalho de ler o deprimente rol de artigos no Beschwerdeportal, no Ost-Pranger, o convite à denúncia dos emigrantes, a linha telefónica “anti polacos”, o site holandês anti-imigração? E refiro-me apenas, aqui, aos alemães, aos franceses e aos ingleses.
Esta indignação de outros países está, com certeza, parcialmente ligada aos seus próprios interesses. Os 10 embaixadores dos países da Europa central e oriental que, em carta aberta, se manifestaram contra este site, teriam muito que explicar no que diz respeito aos direitos das minorias nos seus próprios países. E, relativamente ao Parlamento Europeu, pode dizer-se que quanto mais modesta é a influência, mais as palavras são fortes. Por outro lado, existem problemas reais em torno da livre circulação de pessoas na Europa – ainda mais agora que a Roménia e a Bulgária acabam de aderir.
Um país dividido
Tudo isto é verdade, mas entretanto, a nódoa no tapete continua a crescer. É isto que o primeiro-ministro não consegue ver bem. Em Bruxelas e não só, temos agora a impressão de que, em Haia, se mente bastante acerca da influência real de Wilders no Governo [que ele apoia sem participar].
Este não é um caso isolado. A crise das caricaturas [dinamarquesas] já tinha demonstrado que os conflitos entre os governos irão aumentar na proporção do que se passar nas respetivas sociedades nacionais. A publicação de caricaturas de Maomé desencadeou uma série de reações no Médio Oriente. Em contrapartida, os conflitos no exterior terão cada vez mais repercussões nas nossas cidades, como ficou evidente uma vez mais, na semana passada, com o atentado contra uma mesquita em Bruxelas, relacionado com a guerra civil na Síria.
Estas fronteiras cada vez mais ténues entre o nosso país e o exterior, onde a imigração tem um papel essencial, exigem uma diplomacia ativa. O Governo anterior [da coligação entre democratas cristãos e social-democratas liderada por Jan Peter Balkenende] estava mais atento a este assunto. Quando Wilders lançou [em 2008] o seu filme Fitna, sobre o Islão, as consequências nefastas foram contidas de uma forma subtil. Conseguimos atenuar a ameaça de reações violentas no Médio Oriente graças a um conjunto de iniciativas, em que também intervieram personalidades de primeiro plano da comunidade muçulmana.
Uma diplomacia deste tipo só é eficaz se assentar sobre um consenso sustentado. O silêncio envergonhado de Rutte revela um país dividido em relação ao mundo exterior. Existem diferenças de opinião fundamentais acerca da imigração entre os partidos que apoiam o Governo, e a discórdia no seio da maioria tem vindo a aumentar nos últimos anos.
Será o Islão uma religião ou uma ideologia política?
No início, discutia-se ainda se o Islão seria uma religião ou uma ideologia política. Esta discórdia podia ainda ser conjurada por um agreement to disagree [um acordo pela discórdia]. Atualmente a divergência de opinião afeta o núcleo da integração europeia, ou seja, a livre circulação das populações. O “site de sinalização” dá a entender que não somos obrigados a tratar da mesma forma todos os cidadãos da União, e os seus criadores consideram que a abertura das fronteiras é um erro enorme.
Tudo isto esconde uma diferença ainda mais substancial relativamente à forma de abordar a imigração. Quando os políticos do Partido da Liberdade (PVV) propõem que se continue a qualificar a terceira geração como allochtone, ou seja, os netos dos que imigraram, revelam uma opção óbvia. O que quer dizer que os novos imigrantes e os seus descendentes – que em 2025 representarão cerca de 1/4 da população –, verdadeiramente, nunca poderão fazer parte da sociedade.
O “site de sinalização” e o silêncio de Rutte testemunham uma divisão crescente. A condenação por parte do Parlamento Europeu é preocupante, mas mais grave é a timidez dos partidos do centro, incluindo os da oposição. Estes nem sempre conseguem manter um discurso com uma visão de futuro sobre a economia e o simbolismo de uma sociedade de imigração. Em 10 anos tudo foi dito acerca da integração, mas ainda não conseguimos sair do impasse político.
Sinais inquietantes...
ResponderEliminarA xenofobia alastra e nós impávidos e desinformados...
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