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segunda-feira, 12 de março de 2012

A austeridade sente-se em cada história…

A leitura do editorial do Público de 2 de março motivou este post indignado, de revolta e até de vergonha. Vergonha de viver num país que trata assim os seus idosos, que lhes tira o direito de viverem com dignidade os últimos anos das suas vidas. Foram abandonados, há 9 anos, dentro de um contentor como se de uma casa se tratasse (veja o vídeo AQUI), um cubículo que não oferece sequer condições para cozinhar, obrigando-os a deslocar-se às ruínas de outra casa, nas proximidades – ao frio, à chuva, no meio da lama -, para por uma panela ao lume e preparar as refeições.
O sistema judicial português tarda e não atua, os lesados morrem muito antes que se faça justiça. Ou veem, como neste caso, os processos serem arquivados. E todos assistimos impávidos a situações como esta, acreditando que, um dia, os tribunais decidirão correta e rapidamente para corrigir erros crassos como este.
solidariedade morreu na Europa e, arrisco-me a dizer, vai morrendo aos poucos dentro de cada um de nós, presos a este sistema viciado, sem saber como sair dele. Infelizmente, a austeridade que se abateu sobre o país não é de hoje. A austeridade sente-se em cada história como a que aqui se conta.
Editorial do Público de 2 de março de 2012:
"Portugal mora inteiro num contentor
O caso tem vindo a ser falado, ora nas televisões ora nos jornais, e de cada vez que é contado parece ainda mais inacreditável. Um casal de idosos viu a sua casa inutilizada em 2003 por via das obras para construir um viaduto na A10, no troço de auto-estrada que liga Bucelas a Benavente. As paredes racharam, o chão fendeu-se, o poço, a garagem e a arrecadação ficaram destruídos. Perante tal cenário, os idosos avisaram os engenheiros no local. Instalaram-nos então num contentor, com tudo o que havia em casa, mobília e outros haveres, dizendo-lhes que "era só por dois meses". Ora a A10 ficou pronta, mas o contentor ficou ali, com dois seres humanos lá dentro, até hoje. Accionado o seguro, quiseram oferecer aos idosos 30.000 euros pelo estrago. Não aceitaram, alegando que isso não chegava para nada. E o caso foi-se arrastando pelos tribunais, com um processo metido em 2003 em que se pedia uma indemnização de 203.000 euros. Muito? Pouco? A justiça decidiria. Mas o que foi judicialmente decidido, este ano, foi arquivar o processo. Porquê? Porque o empreiteiro faliu em 2007 com um rol tamanho de credores que, entre eles, o casal de idosos ficaria sempre para trás. Pior: entre os credores estão o dono do terreno, o dono do contentor e até o dono dos aparelhos de ar condicionado ali instalados "provisoriamente", que até já foi buscá-los para "amortizar" a dívida. Resultado: o casal de idosos decididamente está a mais. Num país onde só paga quem quer, onde é possível falir e desaparecer, onde a justiça demora anos a decidir o que devia ser decidido em semanas, é um casal de septuagenários (que estava muito descansado na sua casa até lha destruírem) que entope o sistema. Portugal, é caso para dizer, “mora inteiro naquele contentor."

2 comentários:

  1. Caro Miguel
    Revolta e vergonha, é o que eu sinto a cada dia que passa. Que raio de povo é este que tudo aceita? Roubam-nos, mentem-nos, tiram-nos o pão e a dignidade....e nós continuamos quietos, calados... "custe o que custar"
    Abraço
    maria

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    1. maria
      Nem o norte se levanta, nem os nossos hermanos espanhóis que tinham sangue na guelra. Devem andar a por-nos qualquer coisa na água...
      Os sentimentos estão a esfriar-se.

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