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domingo, 19 de fevereiro de 2012

Um político depende mais da mentira do que esta dele!

Às vezes apanho-me a pensar livremente, de um modo estranhamente natural e instintivo, sobre o dado da mentira. A mentira tem várias faces. Tal qual a moeda, certamente, tem uma cara e uma coroa. Na política então... Há mais cara do que coroa.
Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
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Quando ela mostra a sua cara é terrível, pois vem quase sempre carregada ou ao serviço de quem amamos. É bem por isso que a Bíblia trata a mentira, lá em Jo. 8. 44, de filha do diabo. Se Satanás, na inspiração bíblica, é o pai da mentira é porque algo de muito nefasto, mal e perverso tem a ver com a mentira. A mentira atrapalha vidas de casais, possivelmente quando uma das partes se utiliza dela para esconder uma traição ou uma verdade que implica dor e sofrimento a ambos. A mentira separa velhos amigos e é a causa de conflitos entre pais e filhos. A mentira joga com o engano para nos oferecer o reino das ilusões imediatas. Uma mentira está sempre a puxar outra e a alimentar a desconfiança de muita gente. Ninguém confia no mentiroso!
Sinto muito aqui ser tão pragmático, mas é o que ocorre quando achamos que podemos enganar as pessoas a vida toda com as nossas mentiras. O mentiroso está sempre na linha da falsidade, uma vez que se esconde num “mundinho” só seu. Quase sempre o mentiroso é egoísta e não tolera a verdade. É capaz até de falar a verdade para os outros, mas não suporta a sua verdade. É óbvio que a mentira em si não existe, só passa a existir quando a praticamos, é por isso que as ações incoerentes nos denunciam assustadoramente. Da mesma forma que a honestidade enquanto tal não existe, mas a partir do momento em que tomamos ações honestas, justas e bondosas, aí sim somos honestos, uma vez que praticamos a honestidade. Assim, é preciso praticar a mentira para ser, de facto, mentiroso. Negando a mentira, não significa dizer que sejamos verdadeiros, mas negando a prática da mentira, não a praticando, é que, sem dúvida, somos verdadeiros. Essa é a cara da mentira.
Mentir tornou-se uma constante no mundo da política, tenha-se em vista a lista de planos e de estratégias que os políticos, na sua imensa maioria, têm de cumprir. Estratégias estas, claro, tendo em vista as eleições, os votos, e nada mais. Para os conquistar, a mentira entra em jogo voluntariamente fazendo qualquer negócio. Ao contrário de muitos de nós que mentem involuntariamente, – até pensando em amenizar a dose da verdade para os outros, e talvez esteja aqui a outra face da moeda, a coroa – o político mente caprichosa e ardilosamente, uma vez que vive mais dela do que ela dele. Explico. O político serve-se mais da mentira para atingir os seus objetivos do que a maior parte das pessoas, que são apanhadas de surpresa por ela, são usadas por ela, quando não gostariam.
Todavia, não sem razão, disse Platão sobre a mentira, no diálogo Hípias Menor algo assim: “Os mentirosos são capazes, e inteligentes, e conhecedores, e sábios naquilo em que mentem...” (PLATÃO. Sobre a inspiração e Sobre a mentira. Porto Alegre, RS: L&PM, 2008, p. 64). É óbvio que o mentiroso ignorante também se engana e acaba por falar a verdade. Portanto, é próprio do homem mentir e falar a verdade, quer voluntária ou involuntariamente. Neste diálogo que ora cito, vem considerada a possibilidade humana de agir com consciência de modo vergonhoso ou não, aí entra a mentira, pois quem mente é versátil e multiforme. Aqui está, sem dúvida, a coroa da mentira, na sua linguagem em parecer-se criativamente com a verdade. O modo de falar a mentira como se fosse verdade, com persuasão, é uma de suas curiosas artimanhas. O sofista era muito habilidoso nesse aspecto. Daí, a mentira ser tão importante para a política.
À deriva de um olhar bíblico-cristão, a mentira vem relativizada, sobretudo, na esfera política, na esfera filosófica até certo ponto, como também no campo da linguagem, da arte e da ética numa visão “extramoral”. Nietzsche foi um exemplo claro de tratar a mentira num sentido artístico, poético e filosófico além dos padrões culturais em que vivia e no qual se sentia aprisionado, talvez por isso o seu espírito livre esteja tão presente na sua obra.
“Ora, o homem esquece sem dúvida que é assim que se passa com ele: mente, pois, da maneira designada, inconscientemente e segundo hábitos seculares e justamente por essa inconsciência, justamente por esse esquecimento, chega ao sentimento da verdade(...). O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canónicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível, moedas que perderam a sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas” (NIETZSCHE, F. Col. Os Pensadores. São Paulo: Ed. Abril. 1999. p. 46-49).
Joguemos, pois, a moeda para cima e esperemos cair. Se for cara, bastante cuidado com a mentira, ela poderá arruinar a sua honra e a sua fama. Se for coroa, prudência, a mentira poderá ser um sinal de que não é hora de falar a verdade, porém mais cedo ou mais tarde, a verdade aparecerá com toda a sua força e mais viva do que nunca. De qualquer modo, tenhamos muito cuidado com a moeda da mentira por mais sedutora que ela seja!

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