A festa das bolsas em função do acordo europeu não deve durar muito. O meu palpite é que acaba no meio da próxima semana. Ouvi um economista muito mais bem informado do que eu, convencido de que a alegria acaba na segunda-feira.
Paulo Moreira Leite
O problema nem é de visão económica. É
de foco. A casa está a pegar fogo e os 26 governos da Europa fizeram um acordo
para reformar a piscina, arrumar o telhado e colocar uma nova janela na sala de
jantar. A ideia serve para distrair os convidados e até alguns vizinhos, mas o
incêndio continua com labaredas cada vez mais altas, porque ninguém se
preocupou em avisar os bombeiros.
Com palavras muito mais suaves e uma
avaliação bem mais técnica, a economista Monica Baungarten faz uma avaliação
semelhante em O Globo. Paulo Nogueira Batista, que representa o Brasil no Fundo
Monetário Internacional, publica um artigo questionando os fundamentos do
acordo.
É curioso que Bruxelas comemora um
acordo de médio e longo prazo e finge que não há um problema urgente para ser
resolvido.
No mesmo dia, divulgou-se que a Grécia
enfrenta uma recessão de 5,5%. Portugal também caiu 0,5% e deve cair 3,2% ao
longo de 2012. Outros países estão a parar, como a Itália, a Espanha. Sem
crescimento, ficará cada vez mais difícil equilibrar as contas - como quer o
acordo aprovado na sexta-feira. O efeito da recessão dos vizinhos já chegou à
Alemanha, que começa a ter problemas com as suas exportações. Se seguir assim,
em breve a maior economia do Velho Mundo irá enfrentar o desemprego.
Em função da recessão, o consumo cai em
toda a Europa. Como já disse em nota anterior: o feitiço da austeridade
está a voltar-se contra a feiticeira Angela Merkel.
Nós sabemos que existem visões
diferentes e até opostas na condução da política económica de qualquer país.
Existem os monetaristas, os desenvolvimentistas, os keynesianos, os
aventureiros e assim por diante.
A discussão sobre o que fazer no
futuro imediato da Europa não permite muitas diferenças, porém. Um balanço
resumido da crise de 2008 mostra uma regra infalível: quem definiu estímulos
para a economia, pelo menos evitou o pior. Quem definiu estímulos - e
garantiu que fossem aplicados corretamente - garantiu o melhor. Quem não fez
uma coisa nem outra, afundou.
Explicando. O governo americano deu estímulos caríssimos. Soltou muito dinheiro para os bancos, mas permitiu que eles entesourassem a maioria dos recursos recebidos. Resultado: os bancos recuperaram a saúde, os banqueiros voltaram a ganhar bónus milionários. A economia engatinha, mas não voltou a andar. Não entrou em recessão mas não cresce.
Explicando. O governo americano deu estímulos caríssimos. Soltou muito dinheiro para os bancos, mas permitiu que eles entesourassem a maioria dos recursos recebidos. Resultado: os bancos recuperaram a saúde, os banqueiros voltaram a ganhar bónus milionários. A economia engatinha, mas não voltou a andar. Não entrou em recessão mas não cresce.
O governo da China e do Brasil agiram
de modo parecido: abriram o cofre e garantiram a distribuição de recursos para
reforçar a procura. Forçaram os bancos a fazer empréstimos. Nos dois países, a
presença de uma rede de bancos estatais foi de extrema utilidade na hora mais
difícil.
Com isto, o consumo recuperou, a
produção foi ativada e evitou-se o pior, embora o Brasil tenha passado um
trimestre onde a economia caiu 4,2% e outro onde a queda foi de 1,7%.
A Europa preferiu a austeridade.
Chegou a elevar os juros com o argumento errado de que era preciso evitar um
risco de inflação. O resultado é que se produziu uma recessão que gerou
desequilíbrios em economias equilibradíssimas, como a Espanha, a Itália, a Irlanda,
até então primeiras da classe em matéria de bom comportamento.
Compreende-se que governos
conservadores tenham uma tendência natural a preferir planos coerentes com a sua
visão política.
A incapacidade de reconhecer que
algumas ideias não são adequadas para resolver determinados problemas revela um
comportamento primitivo incapaz de enfrentar uma situação complexa.
É irracional. Este é o problema das
lideranças europeias hoje.
Cartoon
Também me parece que é por aqui que vamos... infelizmente.
ResponderEliminarAnabela
ResponderEliminarAinda tenho fé que isto rebente tudo e voltemos às origens e já não sou só eu, parece que já preparam as maquinas e o Câmbio...