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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

No “Eurovilões”, nada ganhamos, perdemos sempre!

Dissolução da moeda única – que antes era impensável – torna-se uma alternativa possível para salvar a economia do continente europeu.
O euro, a moeda única da União Europeia, teve inimigos ferrenhos desde que foi concebido. Muitos são economistas respeitados, mas, fossem quais fossem as credenciais académicas, quem insistisse em falar do assunto era visto, até há pouco tempo atrás, tão só como uma voz agoirenta. Um exemplo é o francês Jean-Jacques Rosa, fundador do Instituto de Estudos Políticos (IEP) da SciencesPo, em Paris. No início deste ano ele lançou o livro “Euro: Como se livrar dele” (Editora Grasset), no qual afirma que a moeda não é apenas um entrave para o crescimento da economia francesa, mas "o maior erro da Europa". Ceticismo é uma palavra amena para descrever a recepção ao seu trabalho no continente.
Ao longo do ano, contudo, esse cenário mudou. A crise grega fez com que estudos "anti-euro" de franceses, alemães e italianos fossem tirados do fundo da estante e analisados com afinco pelas equipes económicas dos países líderes do bloco europeu, França e Alemanha. Esta semana, quando se avolumaram os indícios de que a situação económica da Itália talvez fugisse ao controlo, vieram à tona que as elucubrações académicas de outrora, que já alimentam debates políticos reais. Na quarta-feira, a agência Reuters publicou uma notícia a afirmar que as conversas entre as duas maiores economias da zona do euro vêm acontecendo há meses, em todos os níveis de governo, e que delas já resultou uma lista de países "indesejáveis" no bloco. “Precisamos estabelecer a lista exata de quem não quer mais fazer parte do clube e de quem simplesmente não pode mais fazer parte”, disse um representante de um dos países. Logo o assunto ocupou manchetes de outras importantes publicações internacionais.
Segundo Irwin Collier, professor de Economia da Universidade Livre de Berlim, alguns membros do CDU, o partido de Angela Merkel, têm conversado sobre abrir uma votação para que os membros europeus recebam a permissão de sair da zona do euro, sem ter de deixar, necessariamente, a UE. “Ainda não se fala abertamente sobre o assunto, sobretudo porque Merkel é muito cuidadosa. Mas está a ficar difícil imaginar outra solução para economia grega”, afirma Collier.
Após 19 anos da criação da UE e 12 de implantação da moeda única, ficou claro que os pilares do sistema apresentam grandes rachadelas. Um abismo separa a agricultura e a indústria de países como Alemanha e Portugal, que usam a mesma moeda, sem terem a mesma força económica. O quadro agrava-se quando se constata que tampouco há paridade fiscal entre os países. Mais grave ainda é o facto de que no bloco há nações que maquiaram as suas contas públicas, como a Grécia, e outras que se endividaram além da conta, como Portugal e a Irlanda. “Na zona do euro, cometemos um erro grave ao colocarmos o sistema monetário à frente do sistema político”, afirma Collier.
Neste contexto, a Itália tem um papel emblemático. O endividamento do país é de 120% do PIB, abaixo dos 190% da Grécia. A dívida externa chega a 24% do PIB, o mesmo patamar que países como a Inglaterra e os Estados Unidos – e bem abaixo da dívida espanhola, que já atinge 96% do PIB. Contudo, a desconfiança que paira sobre a Península Itálica é se o país conseguirá, em 2012, honrar o pagamento dos juros da sua dívida, no valor de 300 mil milhões de euros. Com os juros superando os 7,5% ao ano, constata-se que os investidores estão a exigir um prémio muito maior para comprar os títulos e que o país terá dificuldade em emitir novos papeis para captar os biliões que serão necessários no próximo ano. O mercado não confia na capacidade da Itália de gerir as suas contas públicas e a sua dívida.
Diante de previsões pouco otimistas, conheça alguns cenários vislumbrados por economistas para sustentar a economia europeia nos próximos anos – com ou sem o euro.
Moeda única para poucos
O cenário que está a ser discutido nos últimos meses entre a França e a Alemanha prevê que apenas os países com situação fiscal sólida permaneçam na zona do euro, o que significaria a saída de Espanha, Itália, Portugal, Irlanda, Grécia e outras nações inaptas. Ficariam a França, a Alemanha, a Áustria, a Holanda, e outras que ainda seriam definidas.
Aspectos positivos - Os países que permanecessem formariam um bloco sólido, puxado pela economia alemã que é essencialmente exportadora. Nos países periféricos, a saída do euro daria a chance de desvalorização das moedas nacionais e maior competitividade nas exportações.
Aspectos negativos - O euro tornar-se-ia uma moeda mais forte do que é hoje, mais valorizada – puxada pelas baixas taxas de juro da Europa e o superávit da balança alemã. Com isto, as exportações do bloco tornar-se-iam menos competitivas. No caso dos países periféricos, a saída da zona do euro poderia dificultar muito a capacidade de financiamento externo. Ou seja, mesmo com uma moeda mais competitiva, os países ainda correriam o risco de insolvência. Outro agravante é o facto de os países inaptos terem contraído dívida em euro. Assim, a mudança de moeda poderia resultar numa série de calotes, ativando o risco sistémico.
Política monetária versus austeridade
No caso de a Itália conseguir salvar-se, os líderes da zona do euro aplicariam uma espécie de prática “desenvolvimentista”, afrouxando a política monetária e fiscal, e desvalorizando o euro para estimular o crescimento e a competitividade. Contudo, na periferia da Europa, o aperto fiscal continuaria até que as contas fossem reequilibradas.
Aspectos positivos - Seria a saída menos nociva para o mercado externo, ainda que a desvalorização do euro pudesse impactar o mercado de câmbio. Com a moeda depreciada, as exportações – sobretudo as da Alemanha – tornar-se-iam mais competitivas.
Aspectos negativos - Os estados – inclusive os mais ricos – estão altamente endividados e poderiam contrair mais dívida ao implementar políticas de aumento dos gastos públicos. Um euro mais fraco também impactaria diretamente na balança comercial da Alemanha, podendo torná-la deficitária. No caso dos países periféricos, a austeridade fiscal poderia estender ainda mais o horizonte de recessão, além de ser politicamente inviável aceitar uma Europa que gaste muito em alguns países e economize tudo em outros.
Ajuste deflacionário nos países em crise
A medida é amplamente defendida por alguns líderes europeus. Ela consiste em colocar em prática reformas rígidas nos países periféricos, aliadas com a atuação do BCE na criação de um cenário deflacionário. Desta forma, reduzir-se-ia o valor nominal dos salários, o consumo e – teoricamente – o endividamento.
Aspectos positivos - Pouparia os países líderes da União Europeia do desgaste político de romper com o euro.
Aspectos negativos - Colocaria os países periféricos num cenário recessivo de longa duração, sem que houvesse nenhuma garantia de que eles conseguiriam financiar-se ao longo dos anos. Segundo Paul Krugman, economista e Prémio Nobel da Economia, essa opção, indiretamente, também acabaria com o euro – mas de maneira lenta.
Duas Europas, dois euros
No início da crise, economistas franceses evocaram a possibilidade de criação de dois euros: uma moeda para os países “virtuosos” e outra para os “frouxos”. Para o norte da Europa, seria o mesmo que criar uma nova moeda única, forte e que representasse a potência económica dos seus membros. Já o euro dos periféricos seria desvalorizado, e não haveria mais compromisso de unidade entre os dois grupos de países.
Aspectos positivos - Como no primeiro cenário, o novo euro levaria os líderes europeus a uma posição vantajosa, ainda que perdessem com o desgaste político e a exposição bancária aos títulos dos países “frouxos”. No caso dos países periféricos, o afastamento resultaria na implementação de reformas mais brandas, ascendendo a chance de uma retomada económica, sobretudo com uma moeda desvalorizada.
Aspectos negativos - Politicamente seria o fim da UE e do BCE. As dívidas contraídas em euro pelos países periféricos teriam de ser renegociadas, criando um ambiente de calotes sucessivos e disparando o risco sistémico. Os países ricos teriam de arcar com a exposição dos seus bancos aos títulos dos países que fizessem parte da Europa “frouxa”.
Ana Clara Costa, da “veja”
Vamos sabendo mais sobre o nosso destino na imprensa estrangeira do que na nossa… O tal Serviço Público a calar coisas privadas?
A ser verdade (e não deve ser mentira) andamos aqui a indignarmo-nos com os “nossos amigos”, quando os nossos “amigos” e concidadãos do topo da pirâmide, sabendo disto nos andam a pregar o sermão da multiplicação dos peixes e do pão… Milagreiros de meia tijela!

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