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sábado, 19 de novembro de 2011

Dilema, ou certeza? Pouca gente suporta a verdade!

Talvez alguém dissesse: “Que dilema desgraçado”. Não é desgraçado porque não é sem graça. É um dilema até certo ponto, pois depende muito da valoração de cada um. Para quem a verdade vem primeiro, o amor será sempre um pouco sem graça. Aos que enxergam o amor mais na frente, a verdade é que se torna sem graça. Ora, que seria do amor se não tivesse graça? O que pensar da verdade sem um pouco de amor? E o que dizer, então, do amor sem verdade?
Essa relação entre verdade e amor nas situações conflituantes do dia a dia não é de fácil compreensão, tampouco de fácil realização. Quase sempre ficamos em maus lençóis. Como falar a verdade sem desgraçar alguém? Como promover a verdade sem causar ódio ou dano às pessoas? E o que fazer quando amamos demais, ao ponto de nos abestalharmos? O amor deixa-nos tolos, abobados e bestas?
Tomemos muito cuidado com o que estamos a fazer connosco e aos filhos no tocante à educação. Os filhos precisam respeitar e vislumbrar nos pais um modelo de comportamento ético. Pais infiéis geram filhos infiéis. Pais mentirosos geram filhos mentirosos. Pais ignorantes geram filhos ignorantes e assim por diante. Numa época em que as famílias de modelo patriarcal estão em demolição pela ausência da figura do pai, no sentido da sua omissão e da sua liderança, as famílias acabam se maternalizando por demais, uma vez que a liderança e a disciplina, tão próprias aos pais para formar os filhos em geral, ficam restritas aos zelo das mães, que não poupam esforços e sacrifícios para fazer as vezes do próprio pai dentro da família. Porém, mesmo que a família nuclear esteja bem composta, o que está a tornar-se cada vez mais raro, pois encontramos, com mais frequência, as famílias fragmentadas, ainda assim não se percebe uma preocupação explícita dos pais em disciplinar os filhos; combinar horário; afastar a mentira; falar com autoridade; cumprir regras; fidelidade no matrimónio... 
Atitudes como estas, cada vez menos presentes no convívio familiar, demonstram que acima do amor deve vir o compromisso com a verdade, que está na linha da lei e da formação da personalidade. Imagine a primeira reação de um filho ao flagrar os pais na mentira.
Todos nós devemos aprender mais com a verdade, e não fugir dela. Engraçado, não suportamos a verdade. Na maioria das vezes, preferimos o amor à verdade. Queremos muito mais massajar o nosso ego com carinhos e afagos, ouvindo o que se gosta, afirmando o que se pensa, do que ouvir a verdade; que precisamos corrigir isto ou aquilo, pedir desculpas quando ofender alguém, assumir as consequências pelos malfeitos. Não podemos mais “deixar p’ra lá”, esquecer e fazer de conta que nada aconteceu. Errou, tem que aguentar as consequências, a fim de se evitar não repetir os erros.
Em decorrência disto, estamos a produzir pessoas menos resistentes às adversidades da vida, ao sofrimento, à dor. O erro está justamente na formação. Não devemos só passar a mão na cabeça dos filhos toda a vez que eles errarem e chorarem, mas precisamos mostrar-lhes, pelo diálogo e pela conduta, que é possível aprender com os erros, e que o sofrimento é uma ótima escola.
O facto é simples: Poucos de nós suportam a verdade. Entre o amor e a verdade é preciso considerar algo. Nenhum dos dois é suficiente e absoluto para viver bem. Só o amor nos deixa tontos, meio que vulneráveis diante das atrocidades da natureza humana. Só a verdade pode gerar homens totalitários e absolutos, incapazes de recuar, de relevar, de se soltar um pouco, de se desprender das convicções e assumir que precisa mudar.
Verdade demais pode afastar os nossos amigos, uma vez que ninguém é perfeito. Amor demais pode arrastar-nos para a bobagem, na medida em que se perde a admiração e o brilho. Em geral, é muito perigoso quando escolhemos uma em detrimento da outra. O mais razoável seria escolhermos uma e outra nas nossas ações, e não uma à outra. Verdade e amor não se excluem, mas completam-se admiravelmente.
Depois deste devaneio sobre a verdade e o amor, você ainda concorda com a tão honrosa expressão atribuída a Aristóteles: “Amicus Plato, sed magis amica veritas” - “Amigo de Platão, mas mais amigo da verdade”?
Jackislandy Meira de M. Silva, Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Especialista em Metafísica

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