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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Não desejes aos outros o mal que te persegue!

A percentagem de crianças na sociedade alemã diminui com os anos, mas a pobreza infantil cresce. Pelos dados oficiais, ela atinge hoje 15% dos menores no país.
A Alemanha é o país europeu com a menor percentagem de jovens com menos de 18 anos na população: eles representam 16,5% do total. Noutros países do continente, como França, Reino Unido e Holanda, a percentagem supera os 20%. Na Turquia, é ainda maior: 1 em cada 3 habitantes tem menos de 18 anos.
E tudo indica que a tendência de cada vez menos crianças se vai manter na Alemanha nos próximos anos. O país tem hoje 13.100.000 de habitantes com menos de 18 anos, 14% menos do que em 2000.
Mas, enquanto as taxas de natalidade diminuem, a pobreza infantil cresce no país. Desde 1965, o número de nascimentos por ano caiu quase para metade, de 1.300.000 para 680 mil. Já o número de crianças consideradas pobres multiplicou-se por 16 no mesmo período.
De acordo com um estudo apresentado em agosto pelo Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha (Destatis), 15% das crianças na Alemanha são pobres ou estão ameaçadas pela pobreza. A maioria delas vive em lares comandados por apenas uma pessoa: mais de 1/3 das crianças que vivem com mãe ou pai solteiro estão ameaçadas pela pobreza.
Pobreza: conceito relativo
Mas o que é ser pobre num país rico como a Alemanha? O relatório do Destatis baseou-se num critério definido pela União Europeia. Conforme esse critério, as crianças são consideradas pobres quando a renda dos pais é inferior a 60% do rendimento médio das famílias do país. Na Alemanha, essa renda média corresponde hoje a 11.151 euros por ano, ou 929 euros por mês.
Já para a OCDE, é pobre a família que ganha menos de 50% da renda média anual, o que diminui a percentagem de crianças pobres na Alemanha para 8,3%.
Pelos critérios da ONU, porém, a Alemanha tem 2.500.000 de crianças vivendo abaixo da linha da pobreza, ou 19% do total.
Ao contrário do que acontece em muitos países do mundo, ser pobre na Alemanha não significa passar fome, mas alimentar-se pior do que a média, ter um acesso mais difícil à educação e menos opções de lazer. Principalmente um acesso mais difícil à educação leva à chamada "pobreza hereditária".
Também decisivo para a qualidade de vida é o nível de bem-estar social de um país. Enquanto na Alemanha, por exemplo, quem recebe 11 mil euros por ano é considerado pobre, em Portugal quem recebe 6 mil euros por ano já não está nessa categoria.
Além da relatividade do conceito de pobreza evidenciado por esses números, as pessoas em Portugal podem levar uma vida melhor do que os alemães na mesma faixa de rendimento devido a outros fatores, como o ambiente familiar e as relações sociais.
O contraste torna-se mais acentuado quando a comparação é feita com outros países do mundo. Cerca de 2.600.000.000 de pessoas vivem com menos de 2 dólares por dia. Destas, 1.000.000.000 vive até mesmo com menos de 1 dólar por dia.
A situação é especialmente grave na região Sul da Ásia e na África subsaariana. Nestas áreas, 3/4 das pessoas dispõem de menos de 2 dólares por dia. Não há como relativizar esse tipo de pobreza.
Muitos não levam a sério a pobreza na Alemanha
A pobreza na infância muitas vezes não é levada a sério, mesmo estando presente de forma reiterada na imprensa alemã. Esta é a opinião do cientista político e pesquisador da área da Educação, Christoph Butterwegge. Segundo ele, isso ocorre por cinco motivos:
Primeiro, a imagem da pobreza que predomina entre os alemães é impregnada pela situação de extrema miséria existente em muitos países pobres. Diante disto, a pobreza na Alemanha não é tão "espetacular";
Segundo, que as crianças sejam o principal grupo atingido pela pobreza é algo  relativamente novo na Alemanha. No período imediatamente após a II Guerra Mundial, a pobreza atingia mais os idosos, principalmente as mulheres;
Terceiro, os educadores muitas vezes não reconhecem os problemas das crianças mais pobres por pertencerem à classe média e não terem, portanto, noção das condições de vida e de habitação dos seus alunos;
Além disso, Butterwegge considera que entre a população alemã existe a opinião generalizada de que os pobres são culpados pela sua situação social porque não sabem lidar com o dinheiro, são preguiçosos ou bebem demais;
Por fim, o especialista diz que predomina entre a população o pensamento erróneo de que a pobreza infantil em Colónia ou em Kassel é sempre muito menos grave do que na Cidade do Cabo, em São Paulo ou em Calcutá. Por isso nem valeria a pena perder tempo com o assunto.
Muitos políticos e pesquisadores avaliam que o auxílio preventivo às crianças atingidas pela pobreza acaba por sair mais barato para a sociedade do que os gastos posteriores com pessoas que necessitarão de atendimento por problemas de saúde, desemprego e envolvimento com o crime. Mesmo assim, programas de auxílio que considerem esta perspectiva são até agora exceção.
Günter Birkenstock
Afinal, ninguém está livre do mesmo mal que deseja aos outros…
Mas afinal o que é ser pobre?
Em muitas das publicações que aqui fiz sobre a pobreza, sempre chamei a atenção para os vários e variados critérios, alguns dos quais são aqui referidos, o que nos leva de imediato a pensar que as estatísticas é que fazem o número de pobres que queremos “encontrar”, dependendo do critério utilizado.
Para a União Europeia, que deve ser o nosso padrão, é pobre quem tem pais com um rendimento inferior a 60% do rendimento médio das famílias do seu país;
Para a OCDE é pobre a família que ganha menos de 50% do rendimento médio anual, o que reduz logo o número de pobres;
Para o Banco Mundial está na pobreza extrema quem viver com menos de 1 dólar por dia e na pobreza moderada quem viver com 1 a 2 dólares por dia;
Para os EUA, a linha de pobreza corresponde a um "plano económico de alimentação" (nível mínimo recomendável de despesas com alimentação) multiplicado por 3.
Conceitos, critérios, números…
Mas PARA OS POBRES a definição resumida do conceito de pobreza é esta:
“Pobreza é fome, é falta de abrigo. Pobreza é estar doente e não poder ir ao médico. Pobreza é não poder ir à escola e não saber ler. Pobreza é não ter emprego, é temer o futuro, é viver um dia de cada vez. Pobreza é perder o seu filho por uma doença trazida pela água não tratada. Pobreza é falta de poder, falta de representação e liberdade”.

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