“Meninos soltando pipas”, de Aracy
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Para aqueles que respeitam e vibram com a infância e todos os que lembram com saudades dos tempos de criança uma frase de quem, ainda hoje empina papagaios e solta os pensamentos: “sem vento não tem papagaios”. Utilizo da mesma frase para todos os educadores – “sem educandos não há escolas” e, também para os que buscam um ensino filosófico desde os primeiros anos – “sem as crianças não se filosofa e elas são filósofas por essência”.
Quanto menores as crianças e aqui quero pensar, com cada leitor, os alunos da Educação Infantil e dos primeiros anos escolares, que são muito questionadores e investigadores. Eles querem saber o porquê de tudo e entender o que e como tudo acontece. Por isso tem algo em comum com os filósofos, estão e são inquietos, curiosos, questionando tudo e muitas vezes é só o questionamento que importa.
Filosofar: soltando papagaios contra o vento
É nos primeiros anos de vida que se inicia nas crianças o desenvolvimento das habilidades, tanto motoras quanto cognitivas, tanto afetivas quanto sociais. Também a criação de maneiras de se relacionar com as pessoas e com o mundo. Nada melhor que neste primeiro instante de desenvolvimento e aprendizagem iniciar uma introdução ao filosofar. A pergunta que fica para os adultos responsáveis por esse início é muitas vezes traduzida por: “Como introduzir as crianças no filosofar?”
Há respostas que podem ser pensadas para esta pergunta e uma certeza podemos ter: “as crianças são filósofas enquanto pensam, sentem e agem”. Portanto ao desafiarmos as crianças pequenas a soltarem os seus pensamentos, escutarem os seus pensamentos e os dos outros, a olharem o mundo pelo olhar dos colegas, estamos a soltar papagaios contra o vento. Isto é mostrando para aqueles que pensam que a filosofia é coisa muito séria para ser feita por crianças que os papagaios somente podem voar se forem empinadas contra o vento.
Aqueles que se lembram da própria infância e os que conhecem crianças hoje sabem que elas estão sempre abertas à aprendizagem e, com todos os recursos necessários para sua sobrevivência na perspectiva de compartilhar e conviver (entendido como com-partilhar e com-viver). As crianças são naturalmente “questionadoras e investigadoras”, admirando-se (no sentido aristotélico do filosofar) com o mundo em que começam a existir. Motivadas por uma fome de compreender todas as coisas, por isso a imensidade de perguntas, pois há uma disposição para aprender e compreender e aí surge o primeiro filosofar, porque tudo é novidade e é preciso falar sobre isso.
Assim como soltar papagaios mostra uma leveza e um estado de ânimo, a pureza das crianças é linda e todos os que soltam os pensamentos percebem a leveza da criança ao manifestar-se, por isso elas devem ser cuidadas com muito respeito, entendimento e carinho, para que através da aprendizagem reflexiva, o desenvolvimento seja sadio em todos os aspectos. Assim filosofar ajudando a desvendar o mundo, a criar perguntas que as auxiliem nessa exploração e descobertas; a encontrar respostas e perceber que nem tudo tem resposta; a encontrar e construir significados e conceitos; a desenvolver um pensamento e imaginação através de atividades sadias e edificantes. Soltar os pensamentos e organizar as ações com a leveza e encantamento de soltar papagaios contra o vento para que a mesma possa ir mais longe.
Prof. Dr. Silvio Wonsovicz
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