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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

'Indignai-vos!' primeiro, mas depois 'Empenhai-vos!'…

Avaliação de excesso de oferta vai abranger privados e sector social. Lisboa, Porto e Coimbra podem estar na mira, diz associação.
Reestruturação das urgências
A medida anunciada pelo ministro da Saúde retoma a iniciativa levada a cabo por Correia de Campos em 2006, que previu o fecho de 15 urgências hospitalares e a criação de novas unidades. A maioria fechou mas o trabalho ficou incompleto e houve cedências em casos como o Hospital Curry Cabral, em Lisboa. Agora a rede vai passar por uma nova avaliação. Alguns serviços, onde houver "excesso de oferta", vão encerrar.
O objectivo é que até ao final do ano sejam avaliadas as necessidades a nível nacional, com o apoio de administradores e técnicos. Nesta avaliação estarão incluídos também os serviços prestados por privado e sector social, adiantou o ministro.
O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares disse, que o mais provável é que venham a encerrar serviços nos centros urbanos, sobretudo no Porto, em Lisboa e Coimbra. "É onde temos mais urgências e com o mesmo tipo de perfil." e sublinha que existe muito trabalho feito sobre urgências, que deverá ser aproveitado na nova avaliação.
A Administração Regional de Saúde do Norte publicou em 2009 um estudo sobre as necessidades futuras, que projectava que os episódios de urgência, em 2020, fossem inferiores 24,7% às de 2007.
Na realidade as urgências hospitalares diminuíram em todo o país à excepção de Lisboa e vale do Tejo. Na ARS Norte houve menos 3,7% urgências, no Centro menos 1,6% e no Alentejo menos 2,2%. O aumento em Lisboa anula praticamente a quebra a nível nacional: houve mais 3,8% de consultas. No balanço global, e sem os dados do Algarve, os hospitais públicos tiveram menos 9.414 consultas de urgência.
Para quem ainda não deu conta, quando alguém deste governo diz qualquer coisa, a começar pelo PM, convém não dar grande importância ao que dizem e ler apenas nas entrelinhas, que é onde estão as verdadeiras intenções e medidas a tomar. Por exemplo:
Em 2006 Correia de Campos tomou a iniciativa de fechar 15 urgências hospitalares, o que originou uma contestação generalizada de cidadãos apoiados por autarcas, que teve como fecho a demissão do ministro.
Para não correr o mesmo risco, o ministro atual quer apoiar-se nos pareceres de administradores e técnicos (médicos incluídos), nada de economistas, para dar um ar de “rigor na gestão” e assediar os próprios administradores (não se sabe se os do PS, ou os novos do PSD/CDS).
E para que não se pense que o fecho de urgências será no Público (podia-se pensar que era para poupar dinheiro ao Estado e transferir obrigações sociais para os Privados/Setor Social) a avaliação incluirá também os serviços prestados por Privados e Setor Social, para que se pense que o governo pode mandar fechar urgências desses setores, embora não se saiba como os obrigaria a tal.
Para o resto do país não ficar sobressaltado, diz-se que a “reestruturação” (leia-se encerramento) das urgências se vai restringir a Lisboa, Porto e Coimbra, que é onde há mais urgências (pudera! É onde se concentra mais gente), mas convém lembrar que no setor da saúde as Administrações são Regionais e não distritais, o que torna a área de intervenção muito maior do que a que é dita.
Quando se diz que há muito trabalho feito sobre urgências, que será aproveitado para a nova avaliação, deve-se concluir que há mesmo mais do que uma solução para o mesmo problema, que permite a quem manda escolher a que mais lhe convém, tanto mais que as condições sociais tem vindo a piorar e as razões de contestação em 2006, para além de se manterem até foram agravadas.
Finalmente e o mais sintomático, é que se diz que as urgências hospitalares diminuíram em todo o país à excepção de Lisboa e vale do Tejo (onde se quer encerrar urgências), em que houve um aumento de 3,8% e que essa redução, afinal, traduz-se em 3,7% na ARS Norte, 1,6% na ARS Centro e no Alentejo menos 2,2%, ou seja, pouco mais do que nada e não estão incluídos os números da ARS do Algarve.
E será que menos 9.414 pessoas nas urgências no país dá tanta despesa e merece tanto trabalho e muito mais sacrifícios para os utentes do SNS, que o governo e este ministro dizem que vão defender, em abono dos mais carenciados? Cheira-me que quem vai sofrer com a medida será o Condado Portucalense...
Sem querer ser incendiário, talvez se deva ter sempre em conta o que sabem e dizem os mais velhotes, que já resistiram a situações muito piores:
Os protestos populares "são úteis e necessários para lembrar aos governos que os cidadãos estão vigilantes", mas "a indignação não chega, é preciso canalizar a energia para ações concretas", diz Gilles Vanderpooten, co-autor do livro "Empenhai-vos!".
Depois de "Indignai-vos!" (ed. Objectiva), um pequeno livro de Stéphane Hessel que se tornou num sucesso de vendas, este resistente francês e Gilles Vanderpooten escreveram "Empenhai-vos!" (ed. Planeta), baseado em conversas entre os dois sobre o estado do mundo.
Vanderpooten explica a mudança de palavra de ordem: "O objetivo de 'Indignai-vos!' era abanar as consciências, o que conseguiu. Depois de estimuladas as consciências, é preciso colocá-las em marcha, daí o 'Empenhai-vos!'."

2 comentários:

  1. Eles sabem muito, não é?
    Ainda há relativamente pouco tempo, estive nas Urgências do Hospital de Santo António (já lá dentro), durante horas e em condições deploráveis: macas com doentes por todo lado e sem lugar sequer para sentar.
    Não digo mal dos profissionais que foram eficientes e simpáticos. Os serviços estão mais "humanizados" e pude a companhar o meu familiar até à enfermaria, já com todos os exames feitos para a cirurgia a que foi sujeito no dia seguinte, pela manhã.
    Mas entrámos por volta das 15.30h e só de lá saí por volta da 1h do dia seguinte. Isto de sábado para domingo.
    Conclusão: não vejo como se pode fechar urgências no Porto.

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  2. Elisabete
    Não há nenhuma ARS do Porto, mas do Norte, que abrange mais do que o Grande Porto, Trás-os Montes e vai até Espanha e se a lógica não é uma batata, as urgências que querem fechar terão que ser as mesmas que antes já queriam.
    No seu caso, se assim é no Porto, imagine nas outras terrinhas...
    Eles sabem muito e às vezes o povo contradiz-se. É que antes eram autarcas PSD contra os projetos do PS, agora vamos a ver se esses mesmos autarcas são coerentes, como o Macário Correia sobre as portagens na via do Infante...

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