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terça-feira, 3 de maio de 2011

…sobre a Inteligência Emocional

O mundo inteiro é um palco, e todos os homens e mulheres são apenas atores” (William Shakespeare, 1564-1616)
A vida em sociedade é o nosso grande palco. Neste palco, somos permanentemente observados por aquilo que somos, aquilo que fazemos e aquilo que representamos diante dos demais pares. Em grande medida, o conjunto destas observações é-nos apresentado quotidianamente pelos outros e, assim, vamos interiorizando, assimilando e construindo o nosso modo de ser, pensar e agir. Há que se observar, da nossa parte, um certo grau de coerência para que possamos inspirar confiança e constância nas relações que estabelecemos com os demais.
Nem sempre sabemos precisar quanto o olhar e a observação dos outros pesa sobre a vida da gente. É um facto, no entanto, que a maior parte das nossas condutas e reações se regem a partir destes, em nome do reconhecimento social. A qualidade de nossa vida social está intrinsecamente ligada com a nossa capacidade de conviver, de se associar, de se mover, de construir acordos e projetos coletivos, de agregar.
A nossa construção de seres sociais é feita a partir das nossas experiências individuais e coletivas. As aprendizagens são sempre pessoais, mas a tendência é a sociedade padronizar os nossos modos de ser, de pensar e de agir. Marta Medeiros, nas suas recentes crónicas, traz presente a preocupação de como resolver o conjunto de dualidades que reside em cada um de nós, uma vez que a sociedade tende a “encaixotar-nos” e “selar uma etiqueta” para nos definir. Assim escreve: “É obrigatório confirmar o que o seu rótulo induz a pensarem sobre si”. Como podemos observar, nem sempre temos as melhores oportunidades para nos alçarmos à condição de sujeitos: livres, autónomos, autênticos.
Outro fator determinante da qualidade de nossa vida social é procurar sempre agir sob “justa medida”. A “justa medida” estabelece-se a partir dos nossos méritos e métodos. Nem sempre basta ter bons méritos para agir, se não tivermos um método adequado para nos fazer compreender. Da mesma forma, pouco vale um método se não temos boas razões para nos comunicar/expressar. Sempre há que se equacionar os métodos com os nossos méritos (e vice-versa).
Somos permanentemente tentados a enquadrar e rotular as ações e posturas dos outros sem antes pensarmos na complexidade da vida humana. A experiência de vida pessoal, embora fundante, é insuficiente para explicar o conjunto de ações, reações e comportamento dos outros. A vida de cada ser humano carrega nuances próprias, únicas e insubstituíveis. Aí reside a nossa dificuldade de educar os outros, de opinar sobre as suas atitudes, de construir consciência, de dar conselhos.
O facto de sermos únicos e genuínos é maravilhoso, mas também assustador. Por isso, nada melhor do que investir nas inúmeras oportunidades para conhecer os outros, relacionando-se com eles. O nosso palco é o mesmo, mas jamais serão iguais as nossas buscas para nos fazermos gente. Todos, felizmente, temos o desafio de nos tornarmos seres sociais, mas não podemos abdicar das nossas peculiaridades e experiências únicas, interiores e pessoais.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos

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