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segunda-feira, 14 de março de 2011

Para não se alimentar os especuladores de alimentos…

Ao mesmo tempo em que a alta mundial no preço dos alimentos atinge o seu maior patamar em duas décadas e dá força redobrada ao fantasma da fome que persegue as populações pobres dos países economicamente mais vulneráveis, uma informação da ONU afirma que a agroecologia pode duplicar a produção alimentar nos próximos dez anos. Divulgado na terça-feira (8) pelo Alto-Comissariado de Direitos Humanos, o documento teve por base “uma exaustiva revisão da literatura científica mais recente”, defende a agroecologia como “meio para incrementar a produção alimentar e melhorar a situação dos mais pobres”.
Os estudos em que se baseia a informação foram coordenados pelo belga Olivier de Schutter, que desde 2008 é relator especial da ONU sobre direito à alimentação: “Para poder alimentar a 9 mil milhões de pessoas em 2050, necessitamos urgentemente adotar as técnicas agrícolas mais eficientes conhecidas até hoje. Neste sentido, os estudos científicos mais recentes demonstram que onde reina a fome, especialmente nas zonas mais desfavorecidas, os métodos agroecológicos são muito mais eficazes para estimular a produção alimentar do que os fertilizantes químicos.”
De acordo com os casos relatados no documento da ONU, projetos agroecológicos desenvolvidos nos últimos anos em 57 países em desenvolvimento registaram um rendimento médio de 80% nas suas lavouras. Isso significa, por exemplo, um aumento de 116% na média de todos os projetos desenvolvidos em África. “Os projetos mais recentes levados a cabo em 20 países africanos demonstraram que é possível duplicar o rendimento das lavouras num período de 3 a 10 anos”, afirma Schutter.
A ONU afirma que o modelo agrícola dominante, baseado nas monoculturas e na utilização massiva de agrotóxicos, fertilizantes e outros insumos, “já demonstrou não ser a melhor opção no contexto atual”, além de acelerar o processo de aquecimento global. “Amplos setores da comunidade científica já reconhecem os efeitos positivos da agroecologia sobre a produção alimentar no que se refere à redução da pobreza e à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas”, afirma o documento.
O relatório também dá destaque aos países que diminuíram consideravelmente a utilização de agrotóxicos nos últimos anos, como a Indonésia, o Vietname e o Bangladesh, que reduziram até 92% o uso de agrotóxicos na produção de arroz. Outro exemplo é o do Malawi, que era grande consumidor de produtos agroquímicos e agora faz com sucesso a transição para um modelo agroecológico e essa transição já tirou da extrema pobreza 1,3 milhões de pessoas, além de aumentar o rendimento das lavouras de milho do país de 1 para 3 toneladas por hectare. “O conhecimento substituiu os pesticidas e fertilizantes”, comemora Olivier de Schutter.
O relator especial da ONU sobre o direito à alimentação afirma que o Estado tem um “papel fundamental” a cumprir no fortalecimento da agroecologia. “As empresas privadas não investirão tempo e dinheiro em práticas que não podem proteger com patentes e que não pressuponham uma abertura dos mercados para novos produtos químicos ou sementes melhoradas”. Schutter também exortou os Estados a darem maior apoio às organizações camponesas que, segundo ele, “demonstraram uma grande habilidade na hora de difundir as melhores práticas agroecológicas entre os seus membros”.
E assim vamos sendo levados com novos paradigmas “científicos”, com prejuízos de toda a ordem, mesmo para a espécie humana, até que a ciência põe pés ao caminho, para nossa salvação e a ruína dos abutres.

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