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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Não reaja fugazmente às notícias, interiorize-as…

O tempo é uma dimensão pitoresca, pois pode ser percebido conforme o gosto do freguês. Se a experiência é boa, o tempo voa. Se é desprazerosa, dura uma eternidade. Para o jovem, custa a passar. Para o idoso, anda a galope. Tempo de trabalho para a aposentadoria, então, nem se fala. Para aquele que labuta, e não gosta do que faz, diz-se comumente: “Dá 10 da noite, mas não chega o fim da tarde”. Quem dormiu tarde (sem contar a bebedeira da noite anterior) e precisa madrugar para enfrentar o cabo da enxada: que sina! O tempo é, pois, muito, pouco, bom, ruim, marcante, insignificante, coerente, insensato...
Armando Correa de Siqueira Neto
Todavia, há um intervalo de tempo que merece a nossa mais profunda reflexão. Refiro-me aos 60 segundos de duração das nossas preocupações relacionadas com as penúrias que assolam o planeta. Ou seja, os jornais estampam a tragédia e sentimo-nos mal e pensamos, por exemplo, acerca da pobreza que desnutre outros seres humanos - em 2014, o total de pessoas subnutridas deverá superar a marca de 1.000 milhões, conforme a estimativa da ONU. Tal atenção por nós dispensada dura geralmente 1 minuto. Em seguida, sem qualquer cerimónia, voltamo-nos para as amenidades, e, em alguns casos, às queixas pessoais sobre todo o tipo de situação que chateia, tal como a falta de dinheiro para comprar um novo telemóvel (o 4.º ou 5.º, talvez), um ténis mais incrementado (apesar de já existirem outros tantos no armário), uma bolsa que combine com a sandália creme (afinal, o que os outros vão achar?), entre outros.
Assistimos atónitos aos noticiários que revelam os desmatamentos florestais, o uso desregrado da água e a sua provável escassez futura e sobressaltamos o ânimo, apontando o dedo da culpa para todos os lados (menos para nós próprios), num gesto de revolta, que dura... Sabe quanto? 60 segundos!
Lá está o tempo novamente, na sua elasticidade mais breve. Mas preferimos gastar as nossas energias e a boa carga horária com a mesquinhez pessoal. Tal consumo, infelizmente, rouba a cena na qual deveria, de forma equilibrada, permitir maior quantidade de tempo para a essencial ponderação que deve eleger assuntos inquestionavelmente mais relevantes.
Não se pretende aqui, contudo, encorajar o abandono das atividades pensantes corriqueiras. É sugerido que haja um pouco mais de dedicação ao direcionar o foco das preocupações para a análise dos problemas que fazem substancial número de pessoas terem uma miserável qualidade de vida. E, para tanto, é devido ultrapassar os infrutíferos 60 segundos da atenção dirigida a tais questões, ampliando o tempo e a capacidade de se pensar criticamente. É preciso ir além das notícias e formar conceitos próprios cujo incómodo decorrente é capaz de estimular a auto cobrança e, em maior escala, a cobrança sobre o Estado com o passar do tempo.
Ah! O tempo. Tão bem estudado como pobremente aproveitado. Porquanto, quem sabe se alguns minutos de reflexão o levem a mudar de postura a propósito dos acontecimentos globais?
Não demore, o tempo urge.

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