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domingo, 27 de julho de 2014

Quando as bombas israelitas explodem nas consciências judias

Um milhar de israelitas concentrou-se em Telavive para protestar contra a ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza, que já matou mais de 1.000 palestinianos e 43 israelitas.
O protesto foi dispersado pela polícia ao fim de 2 horas, uma vez que o movimento islamita Hamas retomou o lançamento de projéteis contra Telavive.
Os manifestantes, que pertenciam a grupos pacifistas de esquerda, empunhavam cartazes com palavras de ordem como "Paremos a guerra", "O povo pede que parem o fogo" ou "Gaza-Sderot, as crianças querem viver".
A concentração realizou-se na praça do município, em frente a uma outra, da direita nacionalista, a favor da guerra e do fim do governo do Hamas na Faixa de Gaza, obrigando a polícia a mobilizar vários agentes para evitar confrontos como os ocorridos há uma semana, diante da sede do Teatro de Telavive, que acabaram com a detenção de 20 pessoas. No protesto deste sábado a polícia deteve 3 pessoas.
Mais dia, menos dia, menos mortos, mais mortos, tinham que fazer eco nos cidadãos israelitas, que começam a ter a nítida, matemática e social perceção de que, afinal, a vida de 43 deles não equivale a 1.000 dos palestinianos… Há batota nas ‘Playstations’ da guerra!
Por isso e a partir de agora, cada bomba largada sobre os civis e crianças palestinianos explodirá na consciência de cada israelita, levando o respetivo governo a desistir da tática de propaganda e de insistir que tem o apoio forte da comunidade internacional, por ter perdido o apoio da sua própria comunidade…
Os palestinianos têm direito à paz e à vida e os israelitas também… Só por isso!  
Há exactamente 12 anos, em Julho de 2002, a Força Aérea israelita lançou uma bomba de uma tonelada para cima da casa de Salah Shehadeh, chefe da ala militar do Hamas, em Gaza. Não é preciso ser-se um especialista para imaginar o que resta de uma casa atingida por uma bomba de uma tonelada. Não resta muito. Essa bomba matou não só Shehadeh mas também 14 civis, incluindo 8 crianças inocentes.
Yuli Novak
Nessa altura, eu era oficial de operações na Força Aérea israelita. Como muitos dos meus amigos, dei por mim, aos 20 anos, a carregar o fardo de uma enorme responsabilidade. Era responsável pelo esquadrão de aviação no terreno, passando ordens e informação do quartel-general da Força Aérea aos pilotos, preparando os aviões para operações, e dando apoio aos pilotos durante as saídas.
Depois da operação em que Shahadeh foi assassinado, Israel tremeu. Mesmo quando as Forças de Defesa de Israel insistiram que havia justificação operacional para o ataque, o público não conseguia aceitar este ataque a civis inocentes.
Vários intelectuais fizeram uma petição ao Supremo Tribunal, pedindo que examinasse a legalidade da acção. Poucos meses mais tarde, um grupo de pilotos na reserva publicou uma carta criticando a natureza destas acções de eliminação.
Enquanto soldados e oficiais habituados a levar a cabo as nossas missões sem perguntas desnecessárias, fomos afectados pela crítica do público. Mas Dan Halutz, o comandante da Força Aérea na altura, disse aos pilotos que deveriam “dormir bem à noite – não prestem atenção às críticas.”
Um mês mais tarde, perguntaram a Halutz o que sentia um piloto quando lança uma bomba de uma tonelada sobre uma casa. Ele disse: “Um leve abanão na asa do avião.” Para quem estivesse de fora, esta afirmação poderia soar fria e desligada, mas os meus amigos e eu confiávamos que os nossos comandantes tomassem as decisões moralmente certas, e voltámos a focar-nos nas “coisas importantes” – a execução precisa das operações seguintes.
Uns meses mais tarde, fui nomeada comandante de um curso para oficiais da Força Aérea. Ensinei aos cadetes como levar a cabo as suas tarefas de modo profissional, e como aceitar responsabilidade pelas suas acções como oficiais. Estudámos as conclusões tiradas de anteriores operações da Força Aérea e as lições aprendidas com elas. Ensinei-lhes que as Forças de Defesa de Israel (IDF) são o exército mais moral do mundo, e que a Força Aérea é a força mais moral dentro das IDF. Tinha 20 anos, acreditava, com todo o meu coração, que estávamos a fazer o que tinha de ser feito. Se houvesse baixas, seriam um mal necessário. Se houvesse erros, seriam investigados, e seriam tiradas lições.
As coisas mudaram e agora não consigo ter esta certeza. Em 2002, o lançamento de uma bomba de uma tonelada numa casa resultando na morte de 14 civis era a excepção. Alguns meses depois do ataque à casa de Shehadeh, as IDF reconheceram que tinham errado ao lançar a bomba. Classificaram o incidente como uma falha de informação e disseram que se soubessem que havia civis na casa não teriam levado a cabo a operação.
Alguns anos depois, durante a operação ‘Chumbo Endurecido’ [2008-2009], houve utilização generalizada da táctica de bombardear zonas densamente povoadas na Faixa de Gaza. Hoje, na operação ‘Margem Protectora’, a Força Aérea gaba-se de ter bombardeado Gaza com mais de 100 bombas de uma tonelada. O que antes era a excepção é hoje a regra.
Isto é o que se passa hoje. Notificamos os habitantes da destruição iminente de uma casa minutos antes de cair uma bomba – via mensagem de texto ou lançando uma pequena bomba como aviso. É o suficiente para transformar a casa num alvo legítimo de um ataque aéreo. Nas últimas 2 semanas, dezenas de civis foram mortos através desta prática.
Casas de membros do Hamas tornaram-se alvos legítimos, independentemente do número de pessoas dentro das suas paredes. Ao contrário do que aconteceu em 2002, ninguém se preocupa em justificar ou apresentar uma desculpa. O que é pior é que quase ninguém protesta. Famílias inteiras desaparecem num segundo, e a opinião pública continua indiferente. De ano a ano, de uma operação militar a outra, as nossas linhas vermelhas morais estão a ser empurradas para cada vez mais longe. Já não é claro onde estão, nem sequer se sabemos que as estamos a ultrapassar. Onde estarão na próxima operação? Onde estarão daqui a 10 anos?
Sei por experiência própria quão difícil é fazer perguntas durante alturas de conflito activo quando se é um soldado. A informação que os oficiais no terreno e no ar obtêm em tempo real é sempre parcial. Por isso é que a responsabilidade de traçar a linha vermelha moral, e alertar quando a ultrapassamos, é da opinião pública.

2 comentários:

  1. Quantas Manifestações a favor da Paz, já viram organizadas por movimentos palestinianos? Essa é a grande diferença entre o Mundo civilizado e o outro.
    Já agora porque é que o lançamento diário de Rockets é ignorado pela imprensa nacional, bem como os túneis?, Não sabem o que são os túneis, nem que existem lançamentos diários de bombas pelo Hamas?, vejam a imprensa internacional e informem-se em vez de darem opiniões populistas e politicamente correctas.

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    1. Ontem houve mais uma manif de judeus, em Nova York, com 100.000, contra o que os seus compatriotas estão a fazer aos "terroristas" de Gaza, os civis e as crianças...
      Uma guerra é entre soldados, caro Anónimo! E também é de bom tom dar o nome, para não passar por opinador populistas...

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