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terça-feira, 29 de julho de 2014

2 Prémios Nobel da Paz e nada fazem para os merecerem!

O secretário-geral da ONU afirmou esta segunda-feira que o conflito israelo-palestiniano não se resolve porque “há falta de vontade política”.
Ban Ki-moon apontou o dedo aos líderes das duas partes. “Por que é que estes líderes estão a permitir que os seus povos se matem um ao outro? Não é só responsabilidade, é moralmente errado” e pediu o fim imediato da violência em Gaza, dizendo que o território palestiniano está numa “situação crítica”, deixando o apelo: “Em nome da humanidade, esta violência tem de parar”.

Ban Ki-moon dá voz aos milhares de civis que choram, de ambos os lados.

O apelo do presidente Barack Obama por um cessar-fogo "imediato e sem condições" em Gaza afetou as relações já tensas entre Estados Unidos e Israel e colocou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu numa situação delicada com os extremistas do seu governo.
Os analistas interpretaram como um ultimato o pedido feito no domingo pelo presidente dos Estados Unidos ao primeiro-ministro israelita.
O braço executivo da União Europeia disse que vai dar 5 milhões de euros para ajudar nos trabalhos de ajuda de emergência na Faixa de Gaza. A decisão de enviar mais dinheiro para Gaza foi tomada depois de uma escola da Organização das Nações Unidas ter sido atingida por um míssil israelense, matando 16 pessoas.
O comunicado divulgado pela comissária europeia para Ajuda Humanitária Kristalina Georgieva chamou a situação em Gaza de “crise humanitária”. “Estou horrorizada com a perda de vidas e os ferimentos causados a civis em Gaza”, disse Georgieva. “É injusto que hospitais e escolas, onde crianças, mulheres, doentes e idosos aterrorizados buscaram abrigo, se tenham tornado alvos militares.”
A ONU, pela voz de Ban Ki.moon lava as mãos como Pilatos, mas devia decidir como Salomão, se não for capaz de interpretar o genocídio segundo o Direito Internacional, já que não consegue fazer cumprir o pedido de um cessar-fogo imediato e duradouro “decretado” pelo Conselho de Segurança.
Os EUA, pela voz de Obama, faz de conta que é neutro, mas vai assistindo, de longe, à carnificina de inocentes, enquanto no seu país os próprios judeus, ali residentes, se vão manifestando contra a evidência de um crime humanitário, enquanto Kerry nem fazer de conta sabe e dá uma no cravo, outra na ferradura… Netanyahu faz orelhas moucas aos “ultimatos” de Obama, porque sabe que a sua voz não chega ao céu.
A UE, pela voz da sua comissária europeia para Ajuda Humanitária, chora lágrimas de crocodilo por Gaza, enquanto inventa sanções contra a Rússia pelo abate de um avião com 298 mortos, e oferece uns euros para ajuda de emergência aos sobreviventes e às famílias dos mais de 1.000 mortos... Nem se fala de humanidade, crime ou desproporcionalidade, dá-se uma esmola.
E, foi por este comportamento perante a guerra, que Barack Obama e a União Europeia ganharam o Prémio Nobel da Paz?
Um grupo de personalidades escandinavas anunciou hoje que pediu à polícia norueguesa que abra um inquérito sobre as condições de atribuição do Prémio Nobel da Paz por considerarem que nalguns casos estas não estão em conformidade com o testamento de Alfred Nobel.
É cínico, com tanto morto…
 “Temos de os matar – não só os militantes do Hamas, mas toda a população de Gaza!" É o que diz a um correspondente do Guardian um soldado israelita de 22 anos no funeral de um camarada seu, um dos 18 soldados israelitas mortos na enésima invasão de Gaza, um miúdo de 20 anos que fazia o serviço militar obrigatório.
"Não temos escolha: se não lutarmos até ao fim, eles matam-nos." Nas ruas de Jerusalém todos se dizem contra um cessar-fogo: querem que se “dê cabo do Hamas. E isso leva tempo”. Perguntados pelas centenas de palestinianos mortos (até ontem de manhã eram mais de 600, o equivalente aos passageiros de 2 aviões iguais ao da Malaysia Airlines abatido na Ucrânia), 80% dos quais civis, segundo a ONU, 20% crianças. A lengalenga sinistra é a mesma de sempre: “Muita gente foi morta porque o Hamas usa escudos humanos. Os palestinianos não têm respeito pela vida, nós é que temos.” De descrições de inimigos fanatizados e sem apego à vida está a História cheia: os americanos achavam o mesmo dos vietnamitas, era o que os nazis diziam de soviéticos e jugoslavos na II Guerra Mundial... Como explica uma porta-voz da B'Tselem (uma ONG israelita de direitos humanos), “os israelitas não negam que [os palestinianos] morram; simplesmente fazem um raciocínio que os culpa pela sua própria morte”. E queixam-se de que os media “mostram imagens de crianças mortas sem explicar o contexto do conflito” (Guardian, 20 e 21.7.2014).
Pois é, o contexto... A Amnistia Internacional (AI) tem repetido que é precisamente o inverso que se passa: nas sucessivas operações punitivas sobre Gaza, “soldados israelitas utilizaram civis palestinianos, crianças incluídas, como escudos humanos durante as operações militares”. Foi o que aconteceu na operação Chumbo Fundido (22 dias entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009): cerca de 1.400 palestinianos mortos, “incluídas pelo menos 330 crianças” 5 anos depois (e, pelo meio, outra operação, em 2012, que matou mais 160 palestinianos), tudo se repete: Israel, ainda que incomparavelmente menos pressionado que qualquer outro ator internacional, martela a opinião pública com esta propaganda de que, se há mortos, a culpa é da forma perversa como os seus adversários fazem a guerra – mas quando a poeira assentou em 2009, o que as organizações independentes (a AI, as agências da ONU) comprovaram é que o Exército israelita atacou “15 dos 27 hospitais de Gaza”, “uma trintena de ambulâncias”, “matou 16 membros do pessoal médico”. Ao contrário do que dizia a propaganda israelita, “a AI não encontrou indício algum de que os combatentes do Hamas ou doutros grupos armados tenham utilizado os hospitais para se esconder ou para conduzir ataques, e as autoridades israelitas não forneceram provas dessas alegações”. Pelo contrário: “impediram deliberadamente a ajuda humanitária e as equipas de socorro [da Agência das Nações Unidas para os Refugiados e da Cruz Vermelha] de entrar em Gaza, ou obstaculizaram a sua circulação, atacaram veículos, centros de distribuição e pessoal médico.” (AI,Relatório Anual 2010)
Por tudo isto é verdadeiramente patética a discussão sobre se é “desproporcionada” a reação israelita aos rockets lançados a partir de Gaza. Desproporcionada, não; ela é um crime internacional, feito enquanto o resto do mundo olha para os restos do avião Malysia Airlines! Invoca Obama o direito de Israel a defender-se, como se Gaza fosse um país independente que agride outro país independente. Não: é Israel que desde há 47 anos ocupa Gaza (e a Cisjordânia, e Jerusalém Oriental) ilegalmente, e a bloqueia por terra, ar e mar (nenhum barco se pode aproximar da costa, nenhum avião pode aterrar sem autorização militar israelita) desde 2007, controlando todos os seus acessos (salvo Rafah, no qual tem a colaboração do Egito). A retirada militar israelita em 2005 não alterou em nada o estatuto de território ocupado. Em apenas 360 km2 (o tamanho do concelho de Sintra) vivem 1.800.000 de pessoas, 43% delas menores de 14 anos, 80% dependendo de ajuda humanitária por causa do desemprego, da pobreza extrema. Para a AI, “a amplitude do bloqueio e as declarações dos responsáveis israelitas sobre os seus objetivos demonstram que esta medida é uma forma de castigo coletivo infligido à população de Gaza, em violação flagrante do Direito Internacional.”
De todo o quadro de ilegalidades cometidas por Israel que a UE e os EUA toleram, o bloqueio a Gaza supera tudo. Nada há neste planeta mais próximo de um gueto (o mundo deveria pensar a que é que isto soa...) no qual se fecham, até à exasperação total, quase 2.000.000 de pessoas. Os israelitas – e esta coisa a que cinicamente se chama comunidade internacional – comportam-se como se eles fossem todos “terroristas” do Hamas. Os media (veja-se o Huffington Post, 13.7.2014) mostram moradores das colinas próximas de Gaza sentados em cadeiras de praia a aplaudir o espetáculo dos aviões e drones que bombardeiam Gaza. Trazem pipocas, fumam cachimbos de água – enquanto a poucos quilómetros de distância famílias inteiras ficam soterradas debaixo dos escombros, crianças são levadas em desespero para hospitais bombardeados, onde se operam feridos num corredor... “Os palestinianos não têm respeito pela vida!”

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