(per)Seguidores

segunda-feira, 28 de julho de 2014

A CPLP em mais 2 das várias perspetivas entre muitas mais…

A CPLP foi criada em 17 de Julho de 1996. Em 2002, Timor-Leste foi admitido.
Os nove países integrantes da CPLP são lusófonos. Se entre os seus princípios fundadores estão o primado da paz, da democracia, do estado de direito, dos direitos humanos e da justiça social, também é verdade que a força inspiradora da organização punha os valores na lógica de uma lusofonia em diálogo.
A lusofonia não se prende apenas com o português falado e escrito, mas com uma ligação íntima entre povos, ligação essa, que através da CPLP projetou para o futuro um abraço voluntário em vez de um outro, imposto pela colonização.
Este golpe de génio de pensar o futuro com o que nos une sem renegar um passado de opressores e oprimidos é caso raro; ou único.
Votei, juntamente com cerca de 30 deputados do PS, a favor do voto de condenação pela admissão da Guiné Equatorial na CPLP. O PSD, o CDS e grupo parlamentar do PS votaram contra. O PCP absteve-se, minutos depois de professar a defesa dos direitos humanos como critério de voto no que toca à questão da faixa de Gaza.
É certo que podemos sempre, como fez Ferreira Fernandes, considerar a admissão de um país, há 35 anos nas mãos do ditador sangrento Obiang, "um desafio", podemos comparar casos nas relações internacionais nos quais não impera o primado do estado de direito democrático.
Acontece que se o fizermos estamos a comparar o incomparável.
Não podemos deixar de ter relações diplomáticas com os EUA, apesar da pena de morte, não podemos exigir a expulsão da ONU de todos os países que violam direitos humanos, mas podemos e devemos dizer não à admissão de um país na CPLP que congrega todos os elementos que esmagam os mínimos de democracia e de direitos humanos, juntando a isso não ter esse país nada, mas nada que ver com os fins e objetivos da CPLP.
Não se chama desafio. Chama-se petróleo e gás natural.
Não interessa evidentemente comentar o comportamento da diplomacia indígena no caso da CPLP. Como sempre, foi miserável. Nem interessa dizer muito sobre o dr. Cavaco, que ninguém espera que defenda a dignidade da República ou se porte bem numa situação apertada. Mesmo com o dr. Passos Coelho não se pode contar, se lhe acenam com uns negócios para o seu empobrecido Portugal. O petróleo da Guiné Equatorial e a vontade de Angola pesam mais do que qualquer outra consideração presente ou futura. A nós que por aqui andamos a contar tostões não nos faz mal o vexame público do país, que é uma tradição histórica e, pior ainda, um hábito de vida. Embora obedecer ao Império Britânico seja em princípio menos comprometedor do que obedecer a um bando de cleptocratas.
Sobretudo quando esse bando de cleptocratas tem razão. O Jornal de Angola escreveu sobre o assunto um editorial, em prosa duvidosa, mas no essencial cheio de razão. Depois de injuriar meticulosamente a opinião de cá (“preconceituosa”, “incoerente” e “estrábica”), o preopinante continua: “Os Media em Portugal praticam diariamente atentados contra a Língua Portuguesa. Nos jornais já se escrevem mais palavras em inglês do que em português. Nas rádios e televisões a situação é (…) pior. Escrever e falar português contaminado de anglicismos e galicismos é uma traição a todos os que falam a língua que uniu os países da CPLP”. Descontando a hipérbole e um certo desconhecimento do que de facto acontece em Portugal, o Jornal de Angola não se engana.
Desde 1976 nenhum Governo se ocupou seriamente da defesa da língua. O Dicionário da Academia de Ciências não passa de uma triste imitação do Oxford Shorter, não há uma gramática decente e acessível ao leigo ou um Thesaurus ou sequer, com as confusões do Acordo, um prontuário ortográfico decente e fiável. Também não há uma edição completa e crítica dos “clássicos” reconhecidos, nem a investigação universitária redescobriu a literatura do século XVI ao século XIX, que merecia outra sorte. Em matéria de língua, os Governos ficaram entre a ignorância e o desdém. Ou seja, abandonaram o principal interesse de Portugal e um dos seus melhores meios de influência. Nunca o Jornal de Angola escreveria o que escreveu se nós lhe pudéssemos responder com uma política e uma obra. Mas não podemos.

Sem comentários:

Enviar um comentário