“É evidente que uma língua não nasceu num dia só. Ninguém disse: “Ó língua, nasce!” A língua formou-se ao longo de um processo social e cultural – e, a certa altura, já era”, escreveu recentemente, José Ribeiro e Castro, deputado português.
Mas é no Testamento de D. Afonso II que se encontra o “marco que simboliza o momento em que a nossa língua se liberta e autonomiza das suas raízes e ascende ao mais nível do Estado”. Isto porque está escrito em português - e não em galaico-português - e trata-se de um documento oficial do soberano. Estávamos em 1214.
800 anos passados, muitos momentos de expansão, internacionalização, fracção e crise, e sob a influência directa de diferentes contextos histórico-económicos, trouxeram-nos a esta data de 2014 e a um mundo globalizado. E é sob a conjuntura actual que a “presença da língua portuguesa no contexto do multilinguismo global” tem vindo a ganhar ênfase, conforme destaca o director executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), o brasileiro Gilvan Müller de Oliveira.
Um período vibrante que no entender de um outro especialista, o linguista cabo-verdiano Manuel Veiga, “decorre do importante papel que desempenha como ferramenta útil de comunicação, de ciência e de desenvolvimento, no espaço da CPLP, bem como em alguns fóruns internacionais”.
E esta actualidade evidencia-se não só na comunicação e ensino, “como também na produção e no suporte cultural e artístico de um espaço linguístico pluricontinental e diasporizado, com mais de 200.000.000 de utentes e de beneficiários.”
Milhões de falantes
Como relembra o director executivo IILP, Gilvan Müller de Oliveira, no seu artigo “Política linguística e internacionalização: a língua portuguesa no mundo globalizado do século XXI”, “o português é hoje língua oficial em 10 países”.
Aos 8 países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), juntam-se a Guiné Equatorial, que a oficializou em 2011 e a China, mais exactamente a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), “onde é cooficial ao lado do mandarim até ao ano de 2049”.
A LP “está presente na América, África, Europa e Ásia – nesta ordem em termos demolinguísticos – e tem de 221 a 245 milhões de falantes como 1.ª ou como 2.ª língua em variados graus de proficiência”.
Gilvan Müller de Oliveira escreve ainda que “entre 7 e 9 milhões de falantes da língua portuguesa estão nas Diásporas”.
A LP é também língua com estatutos de oficialidade ou estatuto especial “em 26 organizações internacionais, entre elas em 5 dos 17 blocos económicos regionais hoje existentes no mundo: União Europeia, Mercosul, SADC, CEDEAO, CEEAC e brevemente, de acordo com os desdobramentos de negociações, na ASEAN, bloco que Timor-Leste passará a integrar a partir de 2017”.
A linguista cabo-verdiana Ondina Ferreira, por seu lado, atenta que hoje “de acordo com o Observatório da Língua, a China, o Japão e a Índia, entre outros, desenvolvem o ensino da Língua portuguesa em larga escala, como língua de negócios. O seu valor económico disparou. Daí o pedido do Japão para ser membro observador da CPLP.”
Outro facto é que o “fenómeno global que é o Futebol tem aumentado (por parte dos Jornalistas não-falantes do português) a procura desta Língua”.
“A Língua portuguesa é hoje a mais falada no Hemisfério Sul; ocupa o 4.º lugar entre as 20 Línguas mais faladas no mundo. Se hoje somos 250 milhões que a falam, estima o Observatório da Língua que num curto horizonte – tal é a expansão da Língua portuguesa – em 2020, seremos 400 milhões de falantes. Em Angola, a Língua portuguesa é já Língua materna para mais de 80% da população de menos de 40 anos de idade. E é Língua que prefigura a fala, a escrita e o entendimento de unidade nacional naquele país da CPLP. Em São Tomé e Príncipe, e à escala do país, o registo linguístico é semelhante ao de Angola”. “Enfim, a vitalidade e o crescimento da procura da Língua Portuguesa têm sido visíveis e quantificáveis de forma notável”, analisa a linguista.
Uma língua pluricêntrica
“O Português como grande língua internacional contemporânea é, afinal, uma novidade: bem vistas as coisas, não tem ainda 40 anos. Nasceu assim com a independência das antigas colónias e a escolha inteligente dos novos países; e consolidou-se na CPLP”, observa José Ribeiro e Castro no seu artigo de opinião.
Leia aqui o mais completo e simples conceito de Lusofonia:
Sem comentários:
Enviar um comentário