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quarta-feira, 23 de julho de 2014

Enfermeiro ou Técnico de Marketing, €550. É pegar ou emigrar…

A taxa de desemprego tem vindo a cair de forma consistente desde fevereiro do ano passado e o mercado começa a dar sinais de alguma vitalidade. Os números mais recentes do IEFP apontam para uma redução do número de desempregados inscritos nos Centros de Emprego, menos pedidos de emprego e mais empregos oferecidos. O problema? É que aumentam também os empregos que ninguém quer. Resultado? Há mais emprego, mas também há mais emprego por preencher.
Os números do IEFP mostram que no final de junho estavam sem emprego 614.982 portugueses, tendo sido registado um total de 870.448 pedidos de emprego - 70,7% por pessoas desempregadas. Por seu turno, as ofertas disponíveis cresceram 24,5% em junho face ao registado em maio do ano 2013, ainda que a tenha havido menos 2.000 vagas do que em maio. Mas, de acordo com os mesmos dados de junho, ficaram por preencher 22.290 ofertas de emprego disponibilizadas pelo IEFP, o que representa uma subida de 38,1% face ao mesmo período do ano passado, a subida relativamente ao mês de maio, é de 6,2%.
Este aumento das vagas de emprego por preencher é fruto do aumento das vagas disponíveis e de uma redução do número de pessoas que as procuram, mas a oferta ainda está bem longe de se adequar à procura o que aumenta o peso de um outro factor: a qualidade do emprego oferecido, e que se degradou com a crise. São mal remunerados, de curta duração e, muitas vezes a tempo parcial. Pior: deixam de fora os jovens sem experiência, tal como as pessoas bem qualificadas.
Os números do IEFP mostram que a maior parte das colocações feitas nos últimos meses têm recaído nos trabalhadores não qualificados que, em junho, representaram 24,4% do emprego criado em Portugal (2.056 empregos criados).
Exemplo disso mesmo é, por exemplo, uma oferta visível no site do IEFP para um Enfermeiro de cuidados gerais, no Barreiro, cujo contrato oferecido é a tempo parcial e a termo certo (6 meses) a uma remuneração de 550 euros. Em Lisboa pode observar-se uma oferta para a área da Publicidade e Marketing, onde se exige pelo menos uma licenciatura, se oferece um contrato por 12 meses, a tempo completo e, em troca, os mesmos 550 euros.
Já não dá vontade de contestar as razões da “descida” da taxa de desemprego, mas, tal como o governo, não desistimos de denunciar as manipulações, dos números e do cidadão…
Quanto aos dados mais recentes do IEFP, que apontam para uma redução do número de desempregados inscritos nos Centros de Emprego, é bom lembrar que os cortes nos subsídios, até ao zero, vão eliminando aos poucos o batalhão dos condenados… E ainda vale a pena falar dos emigrados, que mandaram o país e o IEFP às malvas, reduzindo as bichas nas sucursais…
Pela mesma razão, é lógico que cada vez mais há menos pedidos de emprego, como concluiria o Sr. de La Palisse, embora não se entenda que tenha havido 870.448 pedidos de emprego, quando há (dizem) 614.982 portugueses sem emprego… Quererá dizer que há 255.466 portugueses que, estando empregados, querem mudar? Bestial!
Só falta “justificar” por que há mais oferta de empregos, embora esteja implícito nas condições oferecidas:
1 - São mal remunerados;
2 - São de curta duração e, muitas vezes a tempo parcial;
3 - Deixam de fora os jovens sem experiência;
4- Excluem as pessoas bem qualificadas.
E por isso, a maior parte das colocações feitas nos últimos meses têm recaído nos trabalhadores não qualificados, contrariando a filosofia reinante sobre o trabalho e a riqueza do país, que aposta na qualificação e na inovação, tentando impingir-nos o (tal) ensino dual e insistindo no paleio de a baixa de salários não ser a opção dos nossos governantes…
Para contrariar as bases filosóficas do governo sobre a área laboral e a falta de procura dos empregos disponibilizados, eis 2 exemplos reais, ofertas visíveis no site do IEFP e que se pode extrapolar seguramente:
1 . Enfermeiro de cuidados gerais, a tempo parcial e a termo certo (6 meses), por 550 euros/mês;
2. Técnico de Publicidade e Marketing, com licenciatura, contrato por 12 meses, a tempo completo, pelos mesmos 550 euros/mês.
Ou seja, licenciados especialistas, a tempo inteiro ou parcial, ganham o mesmo, a brutalidade de 550 euros. Trabalhadores não qualificados, que ganhem o SMN ganham 485 euros, até o próximo aumento para 500 euros, que pelo andar da carruagem deverá ser em 2020…
Valerá a pena estudar, licenciar-se e qualificar-se para trabalhar e receber uma remuneração que ronda o limiar da pobreza?
Vamos enriquecer os argumentos e deixar de pensar que os cidadãos têm antolhos?

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