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sábado, 26 de julho de 2014

Dando razões para se aceitar um passado irracional da História?

Incidentes antissemitas acumulam-se em manifestações pelo país e abrem debate sobre o limite entre a crítica legítima às políticas israelitas para os palestinianos e o ódio aos judeus.
"A polícia berlinense submete-se aos que odeiam os judeus." O título dado pelo jornal Berliner Tagesspiegel para um protesto contra Israel em Berlim causou alvoroço nas redes sociais. "Judeu, judeu, seu porco covarde: saia e lute sozinho", teriam gritado árabes, sem que a polícia tenha interferido.
Desde o início da ofensiva em Gaza, vários protestos em cidades europeias, iniciados pacificamente, terminaram em violência, como na França no último fim-de-semana, quando lojas judaicas e sinagogas foram alvo de vandalismo. Em Berlim, as autoridades investigam um pregador muçulmano que teria pedido a morte de judeus num vídeo no Youtube.
"Não temos nada contra manifestações nem contra a liberdade de expressão, isso é a essência da democracia", disse o embaixador de Israel em Berlim. "Mas violência contra a polícia ou contra manifestantes pró-Israel, como aconteceu neste fim-de-semana, isso não se pode aceitar. Isso também deveria preocupar os alemães. Um slogan antissemita como ‘judeus para a câmara de gás’, e isso na Alemanha?"
Na Alemanha, onde o tema antissemitismo é extremamente sensível, abriu-se a questão sobre como lidar com este tipo de manifestação. Uma série de políticos, de diferentes partidos, criticou enfaticamente as declarações anti judeus. O governo alemão, no entanto, não vê ainda motivos para elevar o estado de alerta. Ainda assim, tudo está a ser feito para proteger instalações judaicas, garante uma porta-voz da chancelaria federal.
Maior mobilização
O conflito na Faixa de Gaza chegou ao centro da Europa e, com ele, diz o cientista político Stephan Grigat, também o ódio declarado a Israel: "Não é preciso uma grande capacidade de discernimento para se dizer: isto é antissemitismo puro, como se pôde escutar provavelmente da mesma forma drástica há 70 anos nas ruas alemães."
Para o especialista do Instituto de Estudos Judaicos na Universidade de Viena, o atual clima anti Israel na Alemanha não é uma surpresa. Já nos últimos confrontos entre Israel e o Hamas, em 2012, houve protestos com milhares de manifestantes. "Nos anos anteriores, no entanto, eram especialmente pessoas de orientação esquerdista", relembra. Desta vez, diz Grigat, as manifestações foram dominadas por grupos islâmicos: "Muitos dos participantes assumem abertamente estar do lado do Hamas, do Hisbolá xiita no Líbano ou da Jihad Islâmica."
Segundo ele, por trás disto está uma tática pérfida dos islamitas: "Eles usam as imagens de civis mortos em Gaza para então poderem gritar bem alto 'Israel, assassino de crianças' na sua cruzada propagandística de clara tradição antissemita."
A novidade agora, segundo Grigat, está no caráter agressivo das manifestações e no facto de, devido às redes sociais, ser possível mobilizar milhares de pessoas num curto espaço de tempo.
Debate nas redes sociais
A questão de saber se os manifestantes são mesmo impulsionados pela preocupação com a situação humanitária em Gaza também está a ser discutida nas redes sociais. Assim como Grigat, muitos expressam a suspeita de que a crise na Faixa de Gaza está a ser instrumentalizada.
"Quando me posicionei contra a guerra no Iraque, eu gritava 'Parem a guerra no Iraque'", escreveu uma usuária do Twitter. "Se vocês são contra a guerra no Oriente Médio, porque gritam 'Abaixo Israel'?" "Mas quando se pode dizer que se trata de genocídio sem que se seja chamado de antissemita?", retrucou outra usuária. "Eu posso perfeitamente ser contra o antissemitismo nas manifestações na Alemanha e, ao mesmo tempo, ser contra os ataques israelitas em Gaza", escreveu outra.
O judeu Rolf Verlegen, ex-membro da diretoria do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, atribui a responsabilidade pelos sentimentos anti Israel principalmente ao próprio governo israelita. Segundo ele, deve ser possível criticar a política de Israel para Gaza sem automaticamente ser tachado de antissemita. "Se os nossos políticos e os nossos media dizem todos 'sim, está certo o que Israel está a fazer', e se os representantes do judaísmo na Alemanha e na França dizem 'quem for contra as medidas de Israel está contra os judeus', isso torna-se justamente um estímulo para tais slogans antissemitas", opina.
Ele diz também não entender o facto de políticos alemães terem receio de criticar Israel por causa do passado da Alemanha. "O que tem a ver os familiares mortos com o facto de agora estar a acontecer uma injustiça no Oriente Médio? Não se pode permitir que uma injustiça aconteça hoje apontando para coisas terríveis que aconteceram no passado", afirma Verlegen.
Com tais palavras, ele fala por muitos alemães. Segundo uma pesquisa de opinião da revista Stern, mais da metade dos alemães culpa tanto os radicais do Hamas como o Estado de Israel pelo conflito. Para 86% dos alemães, Berlim não deveria tomar abertamente partido em favor de Israel neste conflito.
Em todo caso, as manifestações pró-Gaza deverão continuar, na Alemanha como também em outros países europeus. Nesta sexta-feira, elas deverão atingir um ápice no dia de celebração do Al-Quds. O "Dia Mundial de Jerusalém" é usado anualmente para se realizar grandes manifestações contra Israel, nas quais se exige a "libertação de Jerusalém da ocupação sionista."

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