Foi por pouco, mas foi. A iniciativa “contra a imigração em massa” foi mesmo aprovada, com o apoio de 50,3% dos eleitores suíços. “O acordo com a União Europeia sobre a livre circulação de pessoas está posto em causa", concluiu Didier Burkhalter, ministro dos Negócios Estrangeiros suíço.
Durante a campanha, as organizações patronais lembraram a burocracia e os custos administrativos do sistema de quotas que vigorou até à livre circulação: assim é muito mais difícil conseguir, em tempo útil, a mão-de-obra qualificada que muitas vezes não está disponível entre os suíços.
A Comissão Europeia já lamentou que a iniciativa "para a introdução de quotas sobre a imigração tenha passado" e fez saber que Bruxelas "avaliará as implicações desta iniciativa no conjunto das relações entre a UE e a Suíça".
Segundo uma fonte europeia, se o acordo de livre circulação for denunciado, os outros 6 acordos ficarão obsoletos em 6 meses. Estes acordos regulam a comercialização de produtos, os concursos públicos, a agricultura, a investigação, os transportes aéreos e terrestres. A lógica é sempre a da facilitação das trocas – com estes acordos, acabaram os controlos veterinários especiais, e as companhias aéreas suíças passaram a ter acesso a todas as linhas, por exemplo.
Bem, não sendo a Suíça um Estado-membro da EU, poderia decidir o que muito bem entendesse sobre quem podia frequentar a sua “casa”, no que ao direito diz respeito, embora sujeita à avaliação política e sociológica dessas decisões…
Já o mesmo não se pode aceitar quando há acordo bilateral (com a EU), que será infringido com o resultado deste referendo e deverá ter uma resposta rápida, exemplar e unânime, que denuncie todos os acordos.
Paradoxalmente, a Suíça só beneficiou, quer com os acordos, quer com a imigração, tendo até uma taxa de desemprego reduzidíssima e um crescimento muito melhor do que a própria U E. Quer dizer, que a motivação é mesmo política e sociológica, o que é reprovável, embora sejam os suíços que vão pagar com o corpo o que a subconsciência lhes ditou.
Seria bom que os lixeiros, o pessoal das obras e das “artes” que os helvéticos não dominam, fossem postos a concurso, com prioridade para os naturais e que depois de admitidos usassem uma braçadeira com a bandeira suíça…
Vamos ver qual é a força da UE…
A França e a Alemanha manifestaram-se preocupadas com o resultado do referendo da Suíça para instituir quotas anuais para os imigrantes da União Europeia.
O “sim” ao endurecimento da política de imigração suíça, que prevê restrições que abrangem cidadãos de países da União Europeia ganhou com 50,34% dos votos, num referendo em que a participação superou os 50%.
Na reação, o ministro das finanças alemão, Wolfgang Schaüble, disse que o voto provocará “uma quantidade de dificuldades para a Suíça”, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, avisou que “prejudicará a Suíça por ser egocêntrica”.
A comissária europeia da Justiça, Viviane Reding, disse que “o mercado único não é um queijo suíço: não se pode ter um mercado único com buracos”.
Por seu turno, Laurent Fabius declarou que o resultado do referendo é “má notícia, tanto para a Europa como para a Suíça” e que a Europa irá “rever as suas relações” com a Suíça. “É um voto preocupante porque significa que a Suíça quer fechar-se sobre si mesma (…) e é paradoxal porque a Suíça faz 60% do seu comércio externo com a UE”, sublinhou o ministro dos Negócios Estrangeiros francês.
Os acordos bilaterais entre a Suíça e a UE demoraram anos a negociar. Desde 2007, a maioria dos 500.000.000 de residentes da UE estavam em pé de igualdade com os cidadãos suíços no acesso ao mercado de trabalho naquele país, em resultado de uma política aprovada em referendo em 2000. No entanto, um movimento liderado pelo pela extrema-direita conseguiu reverter o acordo, argumentando ter sido um erro enorme.
Revista de imprensa
A imprensa europeia questiona-se também sobre as consequências do sucesso do referendo suíço contra a imigração, nomeadamente as relações da confederação helvética com a União Europeia.
O jornal francês Libération escreveu que com esse resultado, “os suíços fecham as fronteiras”.
O politólogo Jean-Yves Camus refere numa coluna de opinião que “o egoísmo económico é a principal componente deste voto”.
“Os Suíços votaram para a instauração de quotas”, anuncia por seu turno Le Figaro.
Na Alemanha, o jornal Die Welt estima que “a Suíça deve rever a sua proximidade com a UE”. “Continuar assim não é uma opção. O (partido nacionalista) UDC vai aprender como é difícil separar os aspetos positivos dos contratos bilaterais com Bruxelas dos aspectos indesejados”, sublinha o diário.
Já o Berliner Zeitung mostrou-se mais compreensivo: “Os que criticam o medo de serem invadidos por estrangeiros deveriam pelo menos refletir sobre o facto de na Suíça, a percentagem de estrangeiros ser 23% da população total, quase 3 vezes superior à da Alemanha.”
Em Espanha, o El País publicou na sua página de Internet que “o resultado vai forçar a União Europeia a repensar a sua estreita relação com a Suíça e pôr fim à livre circulação de pessoas em vigor desde 2002″. Este referendo “abrirá uma crise política séria entre os dois interlocutores”, lê-se.
Na sua versão em papel, o El País publica um editorial intitulado “Consequências perversas”, no qual afirma que “a vitória dos opositores à imigração em massa na Suíça terá consequências para todos na Europa”. “Isso colocará em questão, não apenas o acordo sobre a livre circulação de pessoas estabelecido com a UE, como reflete também a agitação populista e xenófoba que percorre o velho continente a menos de 3 meses das eleições europeias”. “Trata-se do pior resultado possível para a maioria dos políticos e empreendedores suíços”.
Para o jornal ABC, este referendo “coloca em perigo os laços [da Suíça] com a União Europeia”. “Este resultado surpreendeu a classe política e representa um duro golpe para a política europeia do Conselho Federal, que deve agora repensar as suas relações políticas com a UE”, escreveu.
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