O diploma — o curso ou o certificado — é desde há muito a proposta de valor por excelência da educação superior. Os americanos têm apreciado os diplomas com um fervor geralmente reservado aos cachorros quentes. Toda a gente devia tê-los. Muitos e muitas vezes! E o seu valor percebido noutras partes do mundo — particularmente na Ásia — é ainda mais alto, se possível.
Michael Staton
Do
ponto de vista do avaliador, os diplomas fornecem indicadores que permitem
fazer assunções rápidas acerca da potencial contribuição de um candidato para
uma organização e da sua capacidade para prosperar profissionalmente. Para um
futuro estudante (ou pai), o valor reside em assumir que esses indicadores
serão aceites nos mercados de emprego e outras instâncias de avaliação.
Há muito que se sabe que estes indicadores são imperfeitos, mas muitas vezes eram os únicos reconhecidos por todos. Assim, um diploma de uma universidade importante tem sido visto como contendo informação crucial acerca das capacidades de uma pessoa, das suas redes e dos seus hábitos de trabalho.
Contudo, a educação superior encontra-se em plena mudança, dramática e perturbadora. Está, para usar a linguagem dos teóricos e práticos da inovação, a ser desagregada. E, com essa desagregação, o diploma tradicional está, rapidamente, a perder relevância. O valor do diploma reside numa concordância comum em aceitá-lo como representante de competência e estatuto, e essa concordância é menos sólida do que o establishment da educação superior gostaria de acreditar.
O valor dos diplomas de curso declinará, inevitavelmente, quando os empregadores ou outros avaliadores começarem a prover-se de meios mais eficientes e holísticos para os candidatos demonstrarem as suas aptidões e capacidades. Informação avaliativa, como amostras de trabalho, representações pessoais, avaliação feita por colegas ou gestores, conteúdos partilhados, estão a criar novos indicadores de aptidão e diferentes tipos de credenciais.
As empresas de tecnologia educativa EduClipper e Pathbrite, e também plataformas de interesse geral como o Tumblr e o WordPress, são usadas para mostrar portefólios. A Brilliant construiu uma comunidade de matemática e física que identifica e põe à prova jovens talentos de topo. A Knack, a Pymetrics e a Kalibrr usam jogos e outras avaliações para medir aptidões e atitudes relevantes para o trabalho. A HireArt é uma importante plataforma de empregos que permite aos candidatos competir em desafios de trabalho relevantes para postos de trabalho. Estas novas plataformas estão a medir indicadores de aptidão com um nível de definição e atualidade que nunca antes foi possível.
Existem sites - nomeadamente o Degreed e o Accredible - que adaptam as noções existentes sobre o diploma a um mundo de cursos e projetos online. Mas há também setores inteiros da economia da inovação que estão a deixar de confiar nos diplomas tradicionais, e nem lhes interessam as adaptações. Particularmente nas carreiras nativas da internet – design e engenharia de software — emergiram comunidades de prática que oferecem indicadores de tipos e variedades que há 5 anos nem sequer imaginávamos.
Os designers agora mostram o seu trabalho no Dribbble e em sites similares. Os engenheiros de software armazenam o seu código no GitHub, onde outros engenheiros de software os poderão seguir e avaliar o produto do seu trabalho. Nesses sites, os pares não só se avaliam uns aos outros, mas interagem de maneiras que constroem reputações dentro da comunidade. Os perfis de utilizador contêm amostras de trabalho e fornecem indicadores de estatuto e capacidade gerados comunitariamente.
Nestes campos da economia de inovação, os diplomas tradicionais não são apenas desnecessários, por vezes são mesmo um fardo. Um CEO de software com quem falei recentemente, afirma evitar candidatos a emprego com cursos muito avançados de engenharia de software porque estes representam um investimento excessivo na formação, o que resulta em maiores exigências salariais e arrogância. É uma bandeira vermelha que avisa que um candidato será provavelmente dispendioso, uma diva com quem é difícil trabalhar e que não mostrará lealdade para com a empresa.
Na economia de inovação, a reputação dos MBA é ainda mais complicada. Algumas das startups educativas que aconselho e que fornecem programas diretamente aos estudantes — nomeadamente a Dev Bootcamp e o Fullbridge Program - reuniram-se recentemente com outros programas de imersão não certificados para decidirem se deviam, em conjunto, desenvolver um novo tipo de diploma. A sua conclusão foi que os diplomas são demasiado século XX.
Os empregadores nunca tiveram um acesso tão fácil a informação específica e atual relativamente ao potencial de um candidato. Isto não tem precedentes na história humana. E a sociedade reorganizar-se-á em torno disto à medida que formos acordando para o seu poder. Quem beneficiará desta reorganização é que ainda está para se ver.
Um diploma, como qualquer moeda comum, é valorizado apenas devido ao acordo coletivo que lhe atribuir valor. O valor de um diploma universitário tem sido questionado desde a Grande Recessão, mas ainda falta emergirem alternativas claras. Contudo, há muitos competidores, e não tardará muito que um deles cristalize a ideia coletiva de que o curso tradicional é cada vez mais irrelevante num mundo com acesso imediato a informação avaliativa.
Nestas coisas “paradigmáticas” da Educação, do valor da formação Superior, dos respetivos diplomas tradicionais no mundo laboral, dizem que tudo está, rapidamente, a perder relevância, o que quer dizer que não servem para nada, simplesmente porque se estão a criar novos indicadores de aptidão (para as empresas) e diferentes tipos de credenciais (“canudos” para o lixo!), que numa perspetiva economicista, a que chamam de inovação, os diplomas tradicionais não são apenas desnecessários, por vezes são mesmo um fardo ou melhor, um empecilho…
Dito assim, até parece uma daquelas vertentes que os neoliberais despejam sobre nós e a que chamam de pragmatismo, só e também porque os números de jovens e licenciados engrossam as bichas dos desempregados, não porque tenham muitas competências académicas, mas porque merecem maiores salários e a oferta vai reduzindo, por razões económicas e financeiras, mas também por uma agenda política, que gera os desastres com que depois justificam, “pragmaticamente” a realidade manipulada.
Está tudo dito quando um CEO de software (que não deve saber tanto como os seus assalariados) vem afirmar que evita candidatos a emprego com cursos muito avançados de engenharia de software porque representam um investimento excessivo na formação, que resulta em maiores exigências salariais e arrogância.
E assim sendo, é fácil aceitarmos, “pragmaticamente”, que hoje em dia, para os empregadores, um diploma, como qualquer moeda comum, é valorizado apenas devido ao acordo coletivo que lhe atribuir valor.
E nesta perspetiva, é fácil aceitarmos as políticas do Ministério da Educação, vincadas nas medidas implementadas no Ensino Superior, seja a “autonomia” das Universidades, seja no corte do número de Bolsas para os alunos universitários com carências económicas, seja na redução das Bolsas para a Investigação, seja para na redução dos anos de formação para limites injustificáveis… No fim da linha, uma diminuição progressiva no “investimento do saber”, para um progressivo “investimento no ter” e tudo feito por governos, que tinham como missão extamente o contrário…
Assim sendo, ou se assim fosse, seria fácil aceitar o “novo paradigma” de que os cursos tradicionais, que retiram uma fatia dos nossos impostos, são cada vez mais irrelevantes, num cenário em que informação avaliativa e imediata premeia o autodidatismo, desprezando a certificação académica.
Volta(re)mos à formação dos artífices, que no caso dos trolhas aprendiam a arte carregando massa e à pedagogia dos cachaços?
Ou o Ministério da Educação não é mais preciso ou só o será enquanto não acabar com este novo-riquismo de todos quererem ser doutores?
A via mais prometedora e já em prática, será obviamente a carreira partidária, uma espécie de mercado de trabalho paralelo e em que a formação académica para nada conta…
Basta pensar que já tivemos um ministro “Relvas”, apesar de, pragmaticamente, ser prova de que estas teorias não pegam de estacam, apesar de sabermos que “A ignorância é a maior multinacional do mundo.” - Paulo Francis.
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