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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Um (alegado) programa de destruição maciça…

Atrás desta suposta facilidade escondem-se volta e meia erros assustadores.
Eduardo Oliveira Silva
É impressionante e patética a dimensão dos erros que se cometem em Portugal e que nem sequer têm já o condão de nos indignar. Com a nossa benevolência culturalmente católica, temos a colateral tendência para desvalorizar e desculpar sistematicamente os enganos mais grosseiros, enganos que nunca passariam em claro em países luteranos ou calvinistas.
Ainda ontem, ao acordar, os portugueses ficaram a saber que aparentemente o FMI recebeu dados errados enviados de Portugal, nos quais assentou as suas recomendações económicas de cortes e mais cortes em salários. Aparentemente, os elementos omitiam que eram 20%, e não 7%, os portugueses por conta de outrem que já tinham sido alvo de cortes salariais.
O prodigioso erro terá, ao que é dito, razão de ser numa inserção numa folha de Excel mal construída, o que entretanto permite alegremente ao FMI e ao governo de Lisboa atirarem as culpas para cima uns dos outros, enquanto o PS exige explicações cabais, que jamais vai obter, até porque o próprio partido liderante da oposição deixa a janela aberta entre a incúria e a intenção dolosa.
O sinistro Excel é aliás um perigoso reincidente que importa limitar, controlar, aniquilar, por ter efeitos mais devastadores que qualquer rede de terroristas hackers altamente sofisticada, como as que se podem ver nos filmes americanos.
Basta recordar que o tal Excel já tinha provocado uma gigantesca partida à escala mundial quando um estudante de doutoramento descobriu que o célebre artigo de Rogoff e Reinhart continha um erro que levava a concluir que um elevado nível de dívida condenava as economias a um crescimento lento.
Veio a verificar-se que faltavam elementos no documento sobre uns quantos países e que portanto as extrapolações dos 2 magníficos professores poderiam estar certas mas partiam de premissas erradas, o que até seria uma coisa de picuinhas académicos, não se desse o caso e a triste circunstância de ser com base nesses elementos que foi construída toda uma teoria pós-crise que determinou as políticas de austeridade que deixaram a Europa cadavérica.
Numa dimensão mais limitada mas manifestamente mais próxima do bolso dos portugueses, eis que a transposição para uma folha de Excel nacional pode ter voltado a ter consequências nefastas no nosso quotidiano.
Já é azar a mais. Num primeiro tempo levámos com o erro global. Agora temos o nosso erro pequenino, até pindérico, mas igualmente fatal para os paupérrimos bolsos da generalidade dos lusitanos.
Quantos mais erros se cometem assim? Quantos mais mapas errados são transmitidos (mesmo que de boa-fé)? Quem confere o quê quando se mandam elementos? Já aqui há tempos se chamou a atenção para essa circunstância neste espaço, recordando que, por exemplo, também não se percebe como não existem actas de reuniões importantíssimas para o Estado em que se explique como se chega a determinadas decisões e que posições foram assumidas pelos participantes em concreto. Afinal quem pode ser responsabilizado no futuro?
Para já ninguém. Talvez até nunca se saiba, porque no mundo de hoje há poucas coisas tão perigosas como uma simples folha de Excel cheia de números. Sobretudo quando não se sabe quem os pôs lá e onde os foram buscar.

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