Bem cultural ou vandalismo? A prática dos graffiti gera um embate sério entre proprietários de imóveis e grafiteiros. Um artista alemão trabalha em prol do entendimento entre os dois lados.
A administração da cidade de Bona, ex-capital alemã no oeste do país, enfrenta com frequência o problema dos graffiti: são figuras ou inscrições grafitadas ilegalmente nas fachadas dos prédios, em quadros elétricos nas ruas ou em passagens subterrâneas.
A Câmara Municipal de Bona destina anualmente cerca de 90.000 euros para retirar graffiti ilegais da paisagem urbana. Um valor estável há alguns anos, segundo Siegfried Hoss, o encarregado da administração local para questões ligadas a graffiti e materiais poluentes e um dos organizadores de uma ação intitulada "semana contra os graffiti ilegais". Hoss enfrenta os grafiteiros ilegais com dureza: "Trata-se de um delito, é um dano à propriedade alheia", define.
Danos milionários
Hoss cita exemplos: as caixas de energia dos correios, da companhia de telefonia e de outras empresas. "No caso dos quadros elétricos, que pertencem à cidade, os grafiteiros têm que arcar com os custos para a remoção dos graffiti, que giram entre 200 e 300 euros", completa. E aqueles que não dispõem desse dinheiro precisam prestar serviços à cidade. "Já tivemos casos desses. Eles tiveram que limpar para verem como isso é trabalhoso", conta o encarregado da Câmara.
Em Bona, será criada uma "parceria pela ordem", que envolve a Câmara Municipal, a polícia local, a polícia federal, a companhia ferroviária Deutsche Bahn e associações locais – todos em prol de uma troca de experiências no combate ao graffiti ilegal na cidade. Em todo o território alemão, os danos para as comunidades giram à volta de 200 milhões de euros por ano, gastos na remoção dos graffiti. Os dados são do Deutscher Städtetag, associação de cidades alemãs que representa os interesses dos municípios junto do governo federal e à União Europeia. Mas muitos dos envolvidos na questão dos graffiti perguntam-se se a conduta das autoridades de combater graffiti ilegais é o melhor caminho para solucionar o problema.
Mais belos e mais duráveis
Numa passagem subterrânea na região central de Bona, nas paredes longas e pouco observadas pelos transeuntes, está estampado o rosto marcante e enorme do filho mais famoso da cidade e cuja popularidade vai muito além das fronteiras locais: o compositor Ludwig van Beethoven.
O seu perfil clássico foi grafitado ali sob encomenda da Câmara Municipal. Cores saturadas e um fundo escuro fazem com que a pintura ganhe um ar de nobreza. Tais "graffiti encomendados" têm como meta evitar que outros grafiteiros se aventurem no local, diz o artista Benjamin Sobala. Outro exemplo é a estação rodoviária localizada nas imediações: "Ali grafitamos há mais ou menos 3 anos e desde então o local ficou protegido", completa.
Grafiteiro aposentado há alguns anos, Sobala deverá assumir a partir de agora a função de mediador entre os artistas e a Câmara Municipal de Bona. Em oficinas, transmite informações sobre as possibilidades legais da arte dos graffiti. Apesar disso, Sobala mantém uma postura crítica frente ao comportamento da administração da cidade quando o assunto é disponibilizar superfícies para os graffiti permitidos. "Comparando, vejo que Colónia tem muito mais áreas legais para serem grafitadas do que Bona. Muitas delas são disponibilizadas por comerciantes. Acho uma pena que aqui não seja assim também", lamenta o artista. Pois é exatamente este, segundo ele, um fator capaz de reduzir o volume de graffiti ilegais numa cidade.
Remoção rápida
Este é um mecanismo do qual as autoridades locais de Bona não estão convencidas, contrapõe Hoss. "Em nenhum momento essa área legal acaba. E o próximo que chega vai sempre pensar: ‘olha, aqui está grafitado, vou continuar no prédio ao lado'. E aí já temos, de novo, um delito", explica o encarregado da prefeitura.
Quando há graffiti indesejados nas paredes, Sobala afirma que é preciso agir imediatamente. "Remover o mais rápido possível, antes que os grafiteiros se sintam legitimados nas suas ações". A sua dica é usar "um verniz anti graffiti, que pode ser lavado 50 vezes. Isso também ajuda", diz.
Urubus, burcas e bananas
A motivação dos grafiteiros ilegais vai do mero vandalismo, passando por pensamentos sublimes de fazer arte, até ao ativismo político. Enquanto os chamados tags, ou seja, abreviaturas de nomes, são apenas borras nas paredes aos olhos de muitos artistas ligados aos graffiti, há outros exemplos: os graffiti de bananas do artista alemão Thomas Baumgärtel decoram hoje em dia mais de 4.000 entradas de prédios e galerias do país.
Em Leipzig, a obra “Madonna com criança”, do francês Blek le Rat, foi devidamente restaurada, sendo agora considerada património histórico. No Afeganistão, a artista Shamisa Hassani insere telas de burcas azuis nos seus graffiti como forma de combater a opressão das mulheres no país. E, em Nairóbi, ativistas estampam graffiti de urubus nas fachadas das casas de políticos supostamente corruptos.
Razões mais do que suficientes para considerar os graffiti uma arte, defende Benjamin Sobala. Mesmo assim, acrescenta o ex-grafiteiro, "defendo a pintura legal, porque sei, como proprietário de um imóvel, que não é bom quando tem que desistir da sua viagem do ano para pintar a fachada da sua casa", conclui o artista.
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