(per)Seguidores

sábado, 27 de julho de 2013

Se as “soluções” estavam erradas, por que insistem?

O FMI já vai no reconhecimento do segundo erro cometido desde 2010 na gestão da crise da dívida na zona euro. Alguns dos académicos que foram associados à austeridade distanciaram-se das opções da troika.
"Foi erro nosso (do Eurogrupo) dar ouvidos aos gurus dos mercados", disse esta semana Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo, em Atenas, sem referir a que "gurus" se referia. Mas vêm à memória 2 académicos da Universidade de Harvard que influenciaram os políticos europeus em 2010 - o italiano Alberto Alesina e o norte-americano Kenneth Rogoff.
O primeiro é menos conhecido do grande público, mas foi uma voz crucial na cimeira europeia de Madrid de abril de 2010, a ponto de o artigo que apresentou perante os ministros das Finanças e o BCE nessa reunião ter sido citado no comunicado final.
Alberto Alesina alimentou a ideia de que a austeridade baseada em cortes da despesa pública "amplos, credíveis e decisivos" era "expansionista" e as suas ideias influenciaram depois a cimeira do G20 em Toronto em junho desse ano. Para muitos analistas, Alesina é o verdadeiro "pai" da austeridade.
Michael Ash, doutorado em Berkeley e licenciado em Princeton, é professor em Massachussetts e é um dos co-autores da pesquisa que coloca em causa a credibilididade de Reinhart e Rogoff, autores da “bíblia da austeridade”.
No primeiro artigo técnico do ano publicado pelo Fundo Monetário Internacional, o conselheiro económico adverte que o erro foi maior no início da gestão da crise do que recentemente. Afirma ainda que o erro não significa que as políticas de consolidação orçamental sejam indesejáveis.
Estudo publicado pelo Banco de Portugal revela que multiplicadores orçamentais sofrem aumento drástico em períodos recessivos.
Nova York cortou 100 milhões de dólares na prevenção da tuberculose e depois gastou mais de 1.000 milhões para travar a sua expansão.
Algumas propostas de soluções alternativas…
A austeridade que nos impingiram é socialmente insuportável, injusta e está apontada aos alvos errados. O Estado português tem de pôr as contas em dia.
Paulo Morais
É verdade. Se a receita anual anda na ordem dos 60.000 milhões e a despesa nos 70.000 milhões, obviamente que este défice tem de ser diminuído ou até eliminado. O Estado tem de reduzir – e muito – as suas despesas. Mas deve penalizar os que provocaram a crise e não todos os outros.
Em primeiro lugar, o Estado tem de poupar nos juros da dívida. Milhares de milhões de euros em cada ano, bem entendido. Não é admissível que os juros representem a maior despesa do Estado em 2013. É irracional. Seria como se alguém na sua economia familiar gastasse mais em lavagens do automóvel do que na alimentação dos filhos. É claro que este corte viria agastar o "lobby" da banca, Ricardo Espírito Santo, Fernando Ulrich ou até a filha do presidente angolano. E não há coragem política para o fazer. Além de que alguns políticos influentes são, eles próprios, administradores de bancos, de Vera Jardim no PS, a Lobo Xavier no CDS… entre outros.
Outra despesa a ser imediatamente reduzida é a das rendas com as Parcerias Público-Privadas. Poder-se-iam poupar, sem dificuldade, 1.000 milhões. Isto se houvesse coragem para enfrentar os maiores parceiros privados, como os grupos Mello ou Mota-Engil. Não há! Acresce que estes grupos garantem a sua intocabilidade colocando nas suas administrações atores políticos como Joaquim Ferreira do Amaral, Valente de Oliveira ou Jorge Coelho.
Muitas outras despesas se poderiam evitar no Estado, a começar na renda milionária contratada com o fundo detentor do Campus de Justiça em Lisboa, presidido por Alexandre Relvas, diretor de campanha de Cavaco Silva. Etc., etc., etc. A verdadeira salvação nacional consiste em cortar neste tipo de gorduras do Estado. E não nas pensões, nas reformas, ou nos salários e subsídios dos funcionários. E muito menos no ensino, na saúde ou na segurança social. Portugal precisa apenas de ser governado por quem, seguindo a máxima de António Vieira, impeça que "os peixes grandes comam os pequenos. O contrário seria menos escandaloso, porque um peixe grande poderia alimentar muitos peixes pequenos".

Sem comentários:

Enviar um comentário