Um homem aparece nos media a falar de economia. O cartão de visita diz "lá fora", o que cá dentro, na paroleira, é chave que abre qualquer porta. Faz-se passar por economista com tese e tudo. E ninguém, dos que têm como função escrutinar, escrutinou. Foi apresentado como vindo do topo do mundo, da ONU, e logo escoltado, com deferências e sorrisos, aos holofotes das principais marcas de referência do jornalismo português. E ninguém, dos que têm como função confirmar, confirmou.
Pedro Bidarra
Acontece. São erros que se fazem e ninguém está livre de fazer. Sobretudo quando o burlão é bom e diz o que todos queremos ouvir. Já mais complicado é que os "especialistas" em economia e gestão deixem passar erros de palmatória no discurso do burlão quanto às funções do BCE e outras minudências.
Mas vá lá... pode ter sido por pudor de o embaraçar. Ou talvez por ofuscação perante o ethos do cargo que dizia ocupar. Afinal era um homem da ONU.
Já passou. Foi apenas um fait divers, a última gargalhada antes das mensagens de Natal do Passos Coelho. Nada de muito grave.
Grave, grave seria se a comunidade jornalística não investigasse ou escrutinasse políticos, deputados e candidatos à governação e deixasse burlões chegar lá acima. Isso, sim, era grave. Se não fizessem o trabalho que deles esperamos...
Se, por suposição, deixassem chegar a ministro tipos que, à frente de toda a gente, tivessem obtido graus académicos aldrabados com equivalências manhosas. Ou se – absurdo dos absurdos – por falta de escrutínio, conseguissem chegar a primeiro-ministro tipos que não tiveram nem disciplina suficiente nem cabeça para acabar os seus cursos; por exemplo de matemática, ou de gestão, ou de engenharia. Maus alunos, portanto. Maus alunos que, depois, fizeram cursos à pressa em universidades manhosas passando exames de favor.
Se isso acontecesse, por falta de escrutínio jornalístico, se tivéssemos como primeiros-ministros burlões em poses de Estado, isso, sim, seria grave.
Mas isso é impensável, pois com certeza todos os deputados e candidatos a cargos são escrutinados; e a mentira, a dissimulação e o desprezo pelas normas que se aplicam aos outros, a sociopatia, enfim, não passa no crivo da investigação jornalística. É da higiene do jornalismo. É da higiene da democracia.
Estou em crer, eu, que sou assíduo consumidor dos media e admirador da profissão de jornalista, que o caso do Artur Batista da Silva foi uma excepção a confirmar o imaculado profissionalismo da classe.
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